Não sei qual o motivo para se preocupar tanto com o sobrenome a ser adotado depois de casar, naquele dilema do altar de manter o seu sobrenome ou agregar o do seu par. É uma amolação desnecessária. Você perde dias pensando no assunto, fazendo numerologia, assobiando suas variáveis no espelho, treinando possíveis assinaturas.
No fim, o casamento assassina o nome próprio. Apaga a prática sadia dele.
Você perderá o seu nome. Lentamente. A ponto de ele virar uma ofensa.
Minha mulher só invoca o Fabrício quando fiz algo de errado. Não é mais um elogio, mas uma exceção desonrosa.
Se ela digita Fabrício, então, em alguma mensagem de texto, eu tremo as minhas bases. Não que eu tenha culpa no cartório, ter um nome já basta.
Sei que ela está brigada comigo antes de brigar, presencialmente, com o uso ostensivo e pausado da minha graça. É desgraça na certa. A soletração vai aumentando a força do crime.
Era assim na infância. Nome significava bronca e castigo, que os pais estavam furiosos correndo atrás de você pelos corredores. Com o apelo, eu ganhava apenas tempo para fugir. Não adiantava gritar “não fui eu”. Não sabia do que seria acusado. Provavelmente, havia quebrado um objeto valioso ou dado uns petelecos no irmão.
Os apelidos representam a nossa tranquilidade da relação, que tudo anda bem, que a vida está harmoniosa.
Já o nome serve para as críticas e reclamações. É a cartinha do SPC, a correspondência do Serasa da intimidade.
O nome serve para as críticas e reclamações. É a cartinha do SPC, a correspondência do Serasa da intimidade.
Não é estranho? Depois de tanto zelar pela individualidade na lista de chamada, de secar o rosto com o seu batismo bordado na toalha, das festinhas de aniversário e dos cartazes com letras coloridas na decoração, de corrigir incansavelmente a pronúncia e a grafia em hotéis e aeroportos, de vibrar com a sua presença na relação de aprovados no vestibular ou num concurso para emprego, você agora sofre bullying caseiro com a sua nomeação.
Quando o amor nasce, o nome morre. O parto sempre traz uma vítima.
Você não é mais convocado dentro de casa pelo nome. Não é mais procurado pelo nome. Não é mais aclamado pelo nome. Até acha, às vezes, que você não é você quando as pessoas estão o chamando na rua. Nem vira as costas. Fica jurando que você é um outro.
Mas, de todos vocativos, o mais grave é se Beatriz me chamar de Carpinejar. É a avaria completa do matrimônio. Já me encontrarei sentado e condenado na Vara de Família.