O que tínhamos que fazer para bloquear um contato antes do WhatsApp e das redes sociais, antes do celular e do e-mail?
Como demonstrávamos o nosso descontentamento com uma atitude, como rompíamos a amizade ou dávamos um tempo para o relacionamento?
Alguém se lembra dos macetes dos anos 80?
Muito além de um simples e preguiçoso clique, dependíamos de muito esforço psicológico, disciplina de incomunicabilidade e trabalho de despiste.
Talvez soe ridículo, ingênuo, pueril atualmente. Ninguém mais usa tais recursos anacrônicos. As gerações que nasceram com os aplicativos nos dedos são capazes de não acreditar.
Desenvolvíamos uma sucessão de quadros e esquetes, tal novelinha. O bloqueio pré-histórico era parcelado, não fulminante e à vista como hoje.
O primeiro movimento consistia em abandonar a pessoa falando sozinha. Fosse no bar, fosse no restaurante, ou em casa. Você saía de repente devido a uma grosseria. Batia a porta com força para a chave cair ou balançar na fechadura. E corria desesperadamente para não ser alcançado, num assalto emocional.
O vácuo representava o ponto alto da discórdia: não poderia ser pego no meio da cena e da perseguição. Isso estragaria o suspense da birra. Não poderia confessar o que estava pensando ou explicar o que aconteceu. Mantinha como propósito gerar culpa, o máximo de arrependimento na outra parte.
Se possível, você arrancava o carro queimando os pneus, para conferir uma ideia de viagem sem rumo à história. Sua vítima teria que acreditar que iria embora para sempre, pegaria a BR-116 rumo ao desconhecido. Na verdade, estaria cumprindo voltas na quadra ou aparecendo na casa da mãe para dormir no sofá.
A segunda rodada do bloqueio se estabelecia na manhã seguinte, quando o seu desafeto momentâneo tentava localizá-lo em algum telefone fixo. Costumava ligar para o serviço.
Você atendia, ouvia a voz conhecida e batia o telefone na cara. Não oferecia chance de conversa. Ele insistia uma, duas, três vezes, até que a ligação migrava para ramais vizinhos e um colega, totalmente inocente no caso, passava o gancho para você atender na mesa dele.
Nesse momento, em ambiente alheio, você sussurrava de modo que ninguém da sua repartição ouvisse nem fofocasse:
— Não me procure mais!
Jamais as reconciliações aconteciam em 24 horas. Levavam semanas de blefe. As pazes vinham apenas com o encontro presencial, quando você ficava cansado de fugir e já facilitava ser achado. Pedia para os amigos avisarem do seu paradeiro. Não via a hora de relaxar e retomar a sua vida.