
A família se reúne para um almoço, mas, antes de saborear a comida, alguém pega o celular para registrar o encontro e publicá-lo na internet. Aparentemente inofensivo, o gesto reflete um fenômeno crescente da era digital: a priorização da experiência virtual em detrimento da vivência real. Com a ascensão das redes sociais, a necessidade de compartilhar tudo se transformou em compulsão para muitos. O valor de uma trajetória parece estar diretamente ligado à quantidade de curtidas e comentários que ela gera. Nesse cenário, o prazer do agora é substituído pela ansiedade de produzir conteúdo para um público virtual.
Nada parece ter sentido sem a chancela externa. Essa inquietação tem impactos profundos no bem-estar emocional. Ao transformar o dia a dia em espetáculo midiático, as pessoas criam uma versão idealizada de si mesmas, sempre em busca da aprovação alheia. Esse comportamento pode gerar frustração, desajuste e até mesmo depressão, especialmente quando o resultado não corresponde à expectativa criada.
Além dos impactos emocionais, essa obsessão compromete a capacidade de apreciar o presente. O simples ato de comer uma pizza em família, por exemplo, deixa de ser um ponto de conexão para se tornar um cenário de produção de conteúdo. A atenção se desloca do sabor dos alimentos e das conversas para o celular, onde a vivência é filtrada e editada antes de ser compartilhada.
Precisamos entender que não estamos dentro de um filme. No cinema é que cada cena, cada detalhe é filmado e editado até ficar perfeito. A vida real se desenrola fora das telas, com os acertos e as imperfeições dos seres humanos. Por isso, a alegria verdadeira não pode ser medida em números, mas sim nos momentos ao lado das pessoas que amamos, na apreciação das pequenas coisas e na construção de memórias genuínas.
Precisamos entender que não estamos dentro de um filme. No cinema é que cada cena, cada detalhe é filmado e editado até ficar perfeito.
Não é necessário documentar cada segundo para garantir boas experiências. É essencial buscar um equilíbrio entre a atuação online e offline. As redes sociais são ferramentas valiosas, mas não devem ditar a forma como vivemos e valorizamos nossas rotinas. Não podemos ficar dependentes delas porque a realidade não precisa de curtidas para fazer sentido. Nem tudo que vivemos precisa ser fotografado e exposto. Muito menos a felicidade precisa de filtros e plateia virtual para ter valor. Nossos olhos e o coração ainda são melhores do que qualquer máquina para registrar os grandes momentos da vida.