Cobri as eleições dos Estados Unidos em 2016, quando muita gente achava que Hillary Clinton se tornaria a primeira mulher na presidência da maior potência mundial. Donald Trump, o bilionário, empresário bem-sucedido, outsider, surpreendeu o mundo ao ser o escolhido, mas não foi surpresa para quem via a divisão no país.
Lembro muito bem da polarização nas cidades por onde passei. Conservadores da Flórida empenhados em eleger o republicano. Grupos divididos na Pensilvânia. Democratas insatisfeitos com o nome escolhido pelo partido. Alguns diziam que queriam mesmo era Michelle Obama como candidata, algo que ela nunca quis. O resultado foi uma eleição apertada e diferente do que as pesquisas apontavam.
Nos quatro anos seguintes, uma política também totalmente diferente, com medidas que cumpriam algumas das promessas de Trump. No meio disso tudo, uma pandemia e medidas controversas. Consequentemente, a eleição de Biden em 2020.
Se há oito anos era difícil prever o vencedor, a história se repete agora, mas já foi menos equilibrada. O fator Kamala Harris tem mexido com a grenalização norte-americana. Com Biden a vitória de Trump parecia praticamente certa, só esperando os fatos novos que surgiriam até novembro. A novidade ficou por conta do desempenho da atual vice-presidente nas últimas semanas.
Nesses últimos quatro anos até pensei que ela teria mais protagonismo do que conseguiu ter de fato. Ficou discreta demais, quieta demais. Mas parece que o brilho chegou desde a desistência do presidente. Kamala se tornou alvo dos holofotes mundiais. Já era, especialmente em grupos de negros, jovens e mulheres, mas o resto dos Estados Unidos passou a observá-la de maneira diferente. Será ela a primeira mulher a assumir a Casa Branca?
A próxima semana é decisiva. O primeiro debate vai expor as fragilidades e potências de cada um. O certo é que será com emoção. De um lado Trump, velho conhecido, para quem gosta e para quem não gosta. De outro, Kamala com uma oportunidade de conquistar eleitores indecisos e de se mostrar como o fator novo do seu partido.
As pesquisas, se estiverem certas, preveem uma disputa muito acirrada, sem certeza até que os estados-pêndulos, aqueles em que tudo pode acontecer, estejam com a apuração concluída. Com lupa, pode-se notar o crescimento de Kamala entre eleitores jovens, de até 29 anos. Mais de 60% pretendem votar nela. Se recortar somente mulheres, o apoio é ainda maior.
Trump, por sua vez, tem maioria entre homens e brancos. Nada de novo no front, portanto. O negócio é, mais uma vez, conquistar os indecisos, em um sistema em que cada estado tem um peso diferente para o total. Quem conseguir definirá o futuro dos Estados Unidos pelos próximos anos. God bless America!