
E mais uma vez Tifanny fez história. Com sua habilidade para ataques precisos, velocidade de braço para superar os bloqueios rivais e grande capacidade e determinação para lutar por cada ponto, a tocantinense de 40 anos escreveu mais uma página brilhante em sua trajetória e passou a ser a primeira atleta trans a se sagrar campeã da Superliga feminina de vôlei.
Tifanny disputou, neste 1º de maio, sua primeira decisão na competição. Mas além do título e da atuação fundamental, na final diante do Sesi-Bauru, seu primeiro clube no Brasil, a oposta do Osasco Vôlei voltou a reafirmar a importância do esporte ser uma porta de inclusão.
Primeira atleta trans a atuar na principal competição de vôlei do país e umas maiores ligas do mundo, Tifanny vence bloqueios em quadra e fora dela. E com certeza o preconceito é muito mais difícil de ser superado que os paredões construídos por mãos de atletas rivais em quadra.
Afinal, após nascer como Rodrigo Pereira de Abreu, sempre atuou em competições masculinas no Brasil e outros países do mundo. Mas aos 32 anos, após concluir a transição de gênero, já como Tifanny estreou na segunda divisão italiana, depois de receber permissão da Federação Internacional de Voleibol (FIVB).
Desde sua primeira partida, pelo italiano Golem Palmi, em fevereiro de 2017, ela experimentou uma enxurrada de preconceitos, mas jamais desistiu. Tornou-se símbolo de luta por reconhecimento e respeito e em 2025 atingiu o ápice de sua carreira, com os títulos nacionais por Osasco.
E os feitos de Tifanny em quadra merecem ganhar relevância. Afinal, ela vive no Brasil, o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo pelo 16º ano consecutivo, de acordo com dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), publicado em janeiro passado.
E talvez por isso, quis o destino que ela fosse a maior pontuadora da decisão da Superliga e de suas mãos saísse o ponto que garantiu o hexacampeonato para Osasco.
Por tudo isso, Tifanny não é apenas uma jogadora de vôlei de sucesso, que superou dificuldades na carreira, mas é uma pessoa que vence a cada instante o que há de mais perverso no ser humano, o preconceito.