
Exatos 259 dias atrás, na zona mista da Arena Paris Sul, testemunhei uma das cenas que até hoje tenho gravada na memória. Logo após a disputa da medalha de bronze do tênis de mesa, o brasileiro Hugo Calderano desabou na minha frente em um choro convulsivo, ao tentar falar sobre a campanha que era histórica, mas que tinha o gosto amargo de não estar no pódio olímpico.
Lembro até agora de fazer a pergunta e ver o carioca balbuciar algumas palavras, se afastar por cerca de um metro, colocar uma toalha sobre a cabeça e se ajoelhar para tentar conter as lágrimas. Ele ainda voltou para falar, mas naquela hora nenhuma resposta a mais ou a menos, mudaria meu conceito sobre a importância de Hugo Calderano para o esporte brasileiro.
Escrevi aqui neste espaço sobre "o choro de Hugo Calderano" e a importância de um tema chamado saúde mental.
Pois neste domingo (20), oito meses depois, Hugo é campeão da Copa do Mundo enfileirando vitórias sobre os três primeiros do ranking mundial. É algo comparável ao que fez Guga Kuerten em 2000, quando venceu a Masters Cup, superando Pete Sampras, Andre Agassi e Yevgeny Kafelnikov, todos jogadores que ocuparam o posto de número 1 do mundo do tênis.
Só Hugo Calderano, sua equipe e família sabem o que foi necessário para superar esse momento de dificuldade e incertezas. A perda de confiança é natural, os questionamentos mais ainda, sem contar com o julgamento de pessoas que jamais viram uma partida de tênis de mesa na vida, mas que naquele verão parisiense exigiam que ele fosse medalhista olímpico.
Assim como escrevi em 4 de agosto de 2024 digo agora: "Chora, Hugo. Pois isso pode te fazer bem. Nós choramos com você. A vida é assim, de certezas, alegrias, vitórias, mas também de frustrações, derrotas e insegurança. Afinal, somos humanos e, mesmo vocês, atletas preparados física e mentalmente para duras batalhas, precisam ter esse direito".
Muito obrigado, por nos fazer chorar na manhã deste domingo de Páscoa. As lágrimas de frustração em Paris viraram lágrimas de alegria.