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A conquista do tetracampeonato da Copa Brasil, pelo Osasco Vôlei, teve um significado muito especial para uma atleta. Tifanny Abreu, 40 anos, se tornou a primeira jogadora trans a jogar e a conquistar um título nacional em um dos esportes mais populares do Brasil.
E a vitória de Tifanny não é apenas dela, mas sim de toda uma comunidade, em um país que nos últimos 16 anos lidera o ranking com números globais de assassinatos contra trans e travestis.
Segundo os dados apresentados pela da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em janeiro, as vítimas em sua maioria são jovens, pretas, pobres e nordestinas. Enquanto a expectativa de vida dessa população é de apenas 35 anos.
Transfobia
A cena que mais chamou atenção durante a comemoração do quarto título de Osasco aconteceu durante a entrevista da meio de rede Valquíria à repórter Júlia Dotto, do Sportv.
— Vai ter mulher trans campeã sim! Estamos vivendo muita transfobia no esporte. São muitas leis contra as mulheres trans. Então eu tenho que lutar diariamente para jogar. Eu tenho que lutar fora de quadra, eu tenho que lutar dentro de quadra. Mas é por isso aqui, por esses momentos, que estou lutando — disse Tifanny, que ao abraçar a colega de equipe fez esse desabafo.
As palavras de Tifanny incomodam muitas pessoas na sociedade brasileira, todas elas com pensamentos discriminatórios. Em um mundo de inclusão, é dever da sociedade pensar em todos. E no esporte é mais importante ainda ser inclusivo, mesmo que o pensamento predominantemente machista permeie gabinetes e vestiários.
Se é direito de alguém gostar de A ou de B, de escolher a cor preferida, ter o pensamento político que melhor lhe convém, assim como a crença religiosa, é mais do que direito as pessoas poderem definir suas preferências sexuais e se identificarem como melhor se sentem.
Liberdade
E é muito covarde e hipócrita julgar alguém por sua opção. Os jovens preconceituosos do presente podem não lembrar de Roberta Close, ícone de beleza no Brasil nos anos 1980 e 1990 e que foi a primeira modelo transgênero a aparecer na revista Playboy, dedicada essencialmente ao público masculino, em uma edição que bateu recorde de vendas em seu lançamento em 1984.
Mas caso os preconceituosos que tenham no máximo 40 anos não se recordem de Roberta Close, é possível perguntar a seus pais e pessoas próximas que sejam acima dos 40 e que muito provavelmente cantaram e dançaram ao som de Dá Um Close Nela, música de Erasmo Carlos em homenagem à atriz e modelo, que hoje tem 60 anos.
O Brasil com seus quase 525 anos de descobrimento ainda tem muito a evoluir em todos os campos. E para termos uma sociedade justa e inclusiva, independente de cor, classe social, preferência clubística, religiosa, sexual, política e do que mais você imaginar, ainda precisamos de muitas Tifannys e Robertas Close.
Precisamos de amor, de educação, de esporte, segurança, saúde, inclusão, tolerância, para que não sigamos sendo o país que mais mata no mundo uma pessoa apenas porque ela quis ter a liberdade de escolher como viver.