Uma das apostas do Brasil para os Jogos Olímpicos de Paris, onde buscaria seu terceiro pódio, Thiago Braz não poderá competir na França. O campeão olímpico da Rio-2016 e bronze em Tóquio-2020 no salto com vara está suspenso pela World Athletics (Federação Internacional de Atletismo) por 16 meses. A decisão foi anunciada na última semana, após o painel da Unidade de Integridade do Atletismo (AIU) analisar o caso e ouvir a defesa do atleta. O julgamento foi realizado em Londres e durou dois dias. A contaminação de suplementos teria ocorrido em uma farmácia de manipulação com sede em Porto Alegre.
Braz já cumpria suspensão desde julho de 2023, após seu teste antidoping da etapa de Estocolmo da Diamond League, ter resultado positivo para ostarina, substância da classe dos SARMS, sigla em inglês para moduladores específicos de receptores androgênicos. Seu efeito aumenta a massa muscular e a força. Atualmente, ela é usada em estudos da sarcopenia, doença que causa perda da massa muscular e atinge, principalmente, idosos.
No esporte, a ostarina é considerada ilegal desde 2008 e funciona de forma semelhante a anabolizantes, mas costuma ser procurada por não trazer os mesmos efeitos colaterais dos esteroides. Não há substâncias com ostarina vendida em farmácias, por exemplo. O medicamento é encontrado de forma manipulada ou comprado ilegalmente. No Brasil sua venda é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde abril de 2021.
A defesa de Thiago Braz alegou contaminação nos suplementos usados pelo atleta. Em seu comunicado de suspensão, a AIU informou que havia alertado o atleta sobre "o risco do uso de suplementos de farmácias de manipulação" e que ele desconsiderou o aviso por recomendação de sua equipe.
O campeão olímpico citou que recebeu a suplementação de sua nutricionista e que "lhe foi garantido que nenhum produto continha substâncias proibidas pela Wada (Agência Mundial Antidoping)". De acordo com o Tribunal Disciplinar da AIU, "a origem da violação da regra antidopagem foram suplementos adquiridos" na Scienza Farma, uma farmácia que tem sede em Porto Alegre.
Durante o julgamento, peritos dos laboratórios foram ouvidos, assim como integrantes da equipe de Thiago Braz, incluindo a esposa do atleta, Ana, e a nutricionista Gisele Martins Daros. A profissional afirmou ter tomado conhecimento sobre o laboratório em 2022.
No relatório final de 38 páginas, apresentado pela AIU, foi informado que nove suplementos foram testados por dois laboratórios na Alemanha e Estados Unidos. O alemão, na cidade de Colônia, não detectou contaminação nos suplementos manipulados, como alegava a defesa do atleta brasileiro. Porém, o laboratório norte-americano detectou que três produtos estavam com ostarina.
A decisão pela suspensão de 16 meses (e não de quatro anos) foi sustentada pela AIU sob o argumento que "a substância (ostarina) havia entrado no corpo do atleta a partir dos suplementos comprados na Scienza Farma", citando que o "atleta assumiu o risco" ao consumir produtos manipulados.
Thiago Braz está impedido de competir até 27 de novembro de 2024. A defesa do atleta entrou com recurso na Corte Arbitral do Esporte (CAS), alegando que Thiago Braz foi vítima de contaminação de suplementos.
A farmácia foi procurada pela coluna, em três oportunidades, mas não se manifestou até esta publicação, que será atualizada caso a Scienza Farma envie seu posicionamento.