
Apesar da enchente e dos estragos deixados pelo evento climático, a agropecuária gaúcha se mostrou resiliente em 2024. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que os principais itens agrícolas cresceram em produção no ano passado, inclusive em regiões amplamente atingidas pela água.
Concentrada na Serra e nos Vales, a produção de ovos superou em 6,1% os números do ano anterior. Foram 306.752 dúzias produzidas em 2024, contra 289.097 dúzias em 2023. O dado em alta chama atenção pela localização das áreas produtoras, epicentros da enxurrada, mas não surpreende, avalia o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, dado o dinamismo da atividade.
Conforme raio x da Emater publicado após a cheia, foram mais de 800 aviários afetados no Estado. Os danos em geral atingiram 206 mil propriedades rurais em todo o Rio Grande do Sul.
— Temos granjas que têm atividade em muitos outros municípios que não foram atingidos. Automaticamente, ocorre um redirecionamento. Por outro lado, até acontecerem as enchentes, a produção estava plena. Tivemos uma interrupção de impacto imediato na questão logística de abastecimento de ração em regiões pontuais, mas o restante continuou com o fluxo logo que as estradas foram sendo desobstruídas ou surgiram rotas alternativas — diz Santos.
Fartura nos grãos
A produção de soja, principal insumo agrícola do RS, cresceu 43,7% em relação a 2023. Duas razões explicam a alta: a base fraca de comparação, já que a safra anterior havia sido de estiagem, e o período em que as chuvas atingiram o Estado, pegando a reta final da colheita. A ocasião da janela fez com que a maior parte dos grãos fosse preservada nas principais áreas produtoras.
Mesmo sem o recorde que era esperado para 2024, a safra de soja ficou entre as maiores do Estado, com importante papel na retomada econômica do pós-enchente.
Conforme os dados analisados, o milho (13,8%), a aveia (39%) e o trigo (43%) também mostraram alta. Somente o arroz teve queda, mas de 0,19%. Alencar Rugeri, assistente de culturas da Emater, lembra que o efeito da cheia se deu no “vazio outonal”, ou seja, num intervalo entre as culturas de verão e de inverno, salvando boa parte da produção.
— A enchente veio no final da safra, em maio. Em junho, as coisas começaram a aliviar. Fora que, das regiões produtoras, algumas foram menos atingidas com a catástrofe. Então, a nível de Estado, é um cenário que se consolida (de menos perdas) — diz Rugeri.
Pecuária
Na contramão da produção agrícola e da produção de ovos, outros dados de pecuária tiveram queda no ano da enchente, com perdas de bovinos de corte e de leite, suínos, peixes e abelhas.
As perdas de animais afetaram 3.711 criadores gaúchos, conforme a Emater.
Além das reduções em rebanhos, houve impacto direto na produção de leite e de carne devido às perdas nas pastagens, que foram severamente prejudicadas. A produção de leite cru, segundo o dado do IBGE, foi 2% menor do que a de 2023.