Em uma feira como a Expointer, que tem a pecuária em seu DNA, falar sobre conquistas e desafios é fundamental para traçar o futuro. A evolução do segmento foi tema do último evento Campo em Debate, na Casa RBS no Parque Assis Brasil, em Esteio.
E foi com perguntas provocativas que a zootecnista e fundadora do Território da Carne, Andréa Mesquita, sacudiu a plateia do fórum realizado na tarde dessa quinta-feira (1º) sobre a evolução da pecuária.
— Será que o consumidor está parando de comprar carne porque está cara? Ou porque a gente não está entendendo a necessidade dele? — questionou.
Para a zootecnista, é preciso mostrar, já nas embalagens, que a carne é de qualidade, saudável e sustentável. Ana Doralina Menezes, gerente nacional do Programa Carne Angus Certificada pontuou que é necessário entender e atender o consumidor. Ao que Andréa acrescentou:
— Precisamos encantá-lo e engajá-lo.
Trazendo o exemplo da Associação Brasileira de Angus, o vice-presidente técnico e presidente do Conselho Técnico, Marcio Sudati Rodrigues, começou falando de diversas inovações incentivadas pela entidade: integração lavoura, pecuária e floresta, adoção de sistemas rotacionados com forrageiras de inverno, confinamento e investimento em genética. Esses foram alguns dos pilares trabalhados nos últimos anos junto aos associados e que possibilitaram uma série de melhorias para a raça, como maior peso de carcaça, índice de desmama maior, diminuição da idade de abate e maior qualidade da carne, explica Rodrigues.
— Claro, tudo isso para trazer uma carne de qualidade superior para o consumidor — lembrou o gerente de fomento da Angus, Mateus Pivato.
Somado a isso, há os dados do mercado mundial da pecuária. A presidente da Sociedade Rural Brasileira, Teresa Vendramini, citou alguns deles: a produção de 9,71 milhões de toneladas de carcaça de carne bovina em 2021, um rebanho que já chega a 160 milhões de cabeças e exportações que cresceram 52% no primeiro semestre deste ano.
— O protagonismo da carne bovina brasileira no mercado mundial é indiscutível — concluiu Teresa.
— Fala-se que para 2030 nós teremos que aumentar a produção de carne em 40% para suprir a demanda nacional e internacional — acrescentou o presidente da Angus, Nivaldo Dzyekanski.
Mas a gerente nacional do programa Carne Angus Certificada, Ana Doralina Menezes, lembrou:
— Não podemos apenas levantar a bandeira de quanto nós crescemos. Temos que olhar para frente e entender quanto nós temos de desafio. A evolução tem de ser contínua.
A fundadora do Território da Carne, Andréa Mesquita, que também participou desta edição do Campo em Debate, foi além. Para ela, não adianta todos os investimentos que estão sendo feitos dentro e fora da porteira para a melhoria da qualidade da carne se o consumidor não sabe disso.
— Os detalhes técnicos são muito importantes, mas a gente não pode esquecer de quem está do lado de lá, tomando a decisão, abrindo a carteira e escolhendo o que vai pegar na gôndola, que não tem noção da diferença de uma carne mais ou menos marmorizada — exemplifica Andréa.
Também agro influencer, ela trouxe um relatório publicado no início deste ano com 10 tendências sobre o consumo de carne bovina. E enfatizou a relacionada à saúde e bem-estar. Para ela, é preciso mostrar, já nas embalagens, por exemplo, de que essa carne é de qualidade, é saudável, é sustentável. Tal qual a indústria de alimentos plant-based faz.
Para além de comunicar ao consumidor, outro desafio trazido e que deve ser enfrentado pelo setor passa pela mudança da gestão da propriedade. Olhando agora para a sucessão familiar.
— Cada vez mais as propriedades rurais estão se tornando empresas. Foi-se o tempo em que os negócios eram conduzidos apenas com o feeling do produtor, é preciso ter o negócio, sim, na ponta do lápis — afirmou Ana Doralina.
— Todo mundo conhece os quatro pilares da pecuária brasileira, que seriam nutrição, sanidade, genética e manejo, só que muitos se esquecem da gestão, que é muito importante — concordou Rodrigues.
No caso do diretor comercial da GAP Genética, João Paulo Schneider, foi essa mudança que ele resolveu adotar na sua propriedade: de gestão. Atualmente, os seus filhos são donos do negócio tanto quanto ele.
— A gente adotou na empresa a métrica da felicidade por hectare ao nos juntarmos — brincou Schneider, acrescentando que chegaram a contratar consultorias para administrar esse processo de distribuição de responsabilidades.
Para o diretor comercial da ATM Agro, Nelson Bertoldo Filho, esse novo gestor do agro tem que ter muitas habilidades:
— Boa comunicação, saber negociar e inteligência emocional são três delas — pontuou.
— Nada mais é do que saber lidar com pessoas — emendou o CEO do Grupo Affectum, Ricardo Paz Gonçalves.
*Produção de Carolina Pastl