A reboque do constante avanço da soja, que responderá por quase 80% da produção de verão, o Rio Grande do Sul deverá colher nova safra recorde de grãos. Se confirmada, a marca histórica de 33,3 milhões de toneladas, projetada pela Emater durante a 42ª Expointer, representará aumento de 5,8% em relação ao ciclo passado.
Muito próximo de romper a barreira de 6 milhões de hectares, o carro-chefe da produção poderá chegar a 19,7 milhões de toneladas. Além do aumento da área de soja, a perspectiva positiva é atribuída aos investimentos em tecnologia — que aumentam o rendimento ano a ano.
— A confiabilidade da estimativa é alta por conta da amostragem, que abrange praticamente todos os municípios. Claro que dependemos também de o tempo colaborar — destaca Geraldo Sandri, presidente da Emater.
Enquanto a soja avança, o diretor-técnico da Emater, Alencar Rugeri, alerta para a necessidade de buscar mecanismos que uniformizem os rendimentos nas regiões.
— O desafio é levar a produtividade do Norte para o Sul, embora saibamos que é complicado por condições climáticas, de solo e culturais — enumera Rugeri, chamando a atenção para os riscos da monocultura.
O estímulo para investir na soja é atribuído ainda à capitalização dos agricultores, que vêm colhendo sucessivas safras recordes. Produtor em Santo Antônio das Missões, no Noroeste, Carlos Alberto Pimenta de Mendonça dobrará as lavouras do grão com a conversão de área de pecuária em Santiago, na região Central. Para plantar mais 900 hectares, precisará investir em 15 novos equipamentos. Com tratores e plantadeiras já comprados, foi à Expointer de olho em uma colheitadeira. Embora considere o juro pouco atrativo, está confiante na atividade e na logística favorável:
— É uma área nobre, onde tem chovido bem nos últimos anos.
A decisão deve levar em conta justamente a necessidade e o cenário a longo prazo, indica Antônio da Luz, economista-chefe do Sistema Farsul:
— É preciso analisar a viabilidade do negócio em uma perspectiva de futuro, e não pela situação atual de juro ou da economia.
Alta no milho é comemorada
Embora ainda com área reduzida, o milho deverá recuperar um pouco do espaço perdido nos últimos anos — principalmente para a soja. Projeção da Emater indica aumento de 1% da área cultivada com o cereal. Com isso, a safra poderá chegar a 5,9 milhões de toneladas — variação de 3,65% na comparação com o ciclo anterior.
— Isso é um alento em busca da nossa autossuficiência em milho, justamente em um período de investimentos de indústrias de carnes — afirma Covatti Filho, secretário estadual da Agricultura.
O titular da pasta refere-se à JBS, dona da marca Seara, que investiu R$ 230 milhões na compra de um frigorífico de suínos em Seberi, no norte do Estado. No dia 5 de agosto, a empresa passou a operar a unidade administrada até então pela Adelle Indústria de Alimentos.
Segundo Covatti, a intenção da JBS é ampliar a atual capacidade de abate de 2 mil cabeças de suínos por turno para quase 5 mil — aumentando o processamento de carnes e produtos derivados, como presunto e bacon. A empresa não revela projeções relacionadas ao número de abates.