Fator que costuma injetar ânimo nos agricultores por ser usualmente associado ao prenúncio de bom rendimento para as culturas de soja e milho, o fenômeno El Niño pode ter seu retorno confirmado ainda neste ano - mas não é garantia de colheita farta.
Nem a ocorrência do La Niña, normalmente temida no campo pela menor ocorrência de chuva no Estado, é sinal de quebra na lavoura. A conclusão é de um estudo do agrônomo Ronaldo Matzenauer, que deverá ser publicado no próximo ano pela Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro).
O trabalho vasculhou o resultado de 38 safras de 1974 a 2012, cruzado com as diferentes condições climáticas de cada período. Nas 12 safras sob influência do El Niño, aponta a pesquisa, a produtividade da soja foi exatamente igual à dos 13 ciclos com o La Niña.
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No milho, de forma ainda mais surpreendente, o El Niño trouxe rendimento ligeiramente inferior na comparação com o fenômeno contrário. O grande risco para lavouras dos dois grãos, indica o estudo, está em anos neutros.
- As maiores quebras não ocorreram em anos de La Niña, mas em neutros ou de El Niño fraco. Em 2004 e 2005, por exemplo, tivemos El Niño fraco - cita Matzenauer, ressaltando que a perspectiva para os próximos meses, caso se confirme, é de fenômeno de fraco a moderado.
Embora historicamente relacionado a precipitações acima da média, o El Niño costuma provocar mais chuva na primavera. Os meses mais críticos para a lavoura, acrescenta o especialista, são principalmente janeiro, fevereiro e, em alguns casos, até março. Os anos neutros mostraram maiores dificuldades hídricas, principalmente na metade norte do Rio Grande do Sul, onde se concentram as lavouras de soja e milho.
Para os próximos dois meses, pelo menos, o prognóstico indica chuva acima da média no Estado. O coordenador do 8º Distrito de Meteorologia, Solismar Prestes, explica que, no verão, episódios de El Niño fortes ou então o aquecimento das águas do Oceano Atlântico na costa da Região Sul podem contribuir para a ocorrência de chuva mais abundante.
- Por enquanto, o Oceano Atlântico está entre a temperatura média e um pouco acima do normal - avalia Prestes.
O cenário atual, conclui o meteorologista, indica por enquanto uma forte tendência de termos a temporada de verão sem estiagem.
Entenda os fenômenos
El Niño
Caracterizado pelo aquecimento das águas superficiais no Oceano Pacífico na região do Equador. Tem poder de afetar o clima em diversas partes do globo. Na Região Sul do Brasil, costuma causar aumento de chuvas, principalmente na primavera, e elevação nas temperaturas.
La Niña
Tem características opostas ao El Niño, com o resfriamento das águas do Pacífico na mesma região. No sul do Brasil, é normalmente associado a secas.
Senso comum contráriado
O maior rendimento médio da soja no período pesquisado pelo agrônomo Ronaldo Matzenauer foi na safra 2010/2011, com produtividade de 2.875 quilos por hectare, sob influência do La Niña.
O mesmo ano agrícola registrou o maior rendimento do milho, de 5.293 quilos por hectare.
Na safra 2004/2005, quando o Estado sofreu uma das piores quebras de safra, havia El Niño de fraca intensidade.
Fonte: Ronaldo Matzenauer, agrônomo e pesquisador