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Um tatu-galinha, também conhecido como tatu-verdadeiro (Dasypus novemcinctus), foi devolvido à natureza nesta terça-feira (11) após receber tratamento devido a uma agressão sofrida no município de Estrela, no Vale do Taquari. O crime, ocorrido em 10 de janeiro, foi registrado por câmeras de segurança e chocou pela violência do ataque.
O agressor, um homem que dirigia uma picape, tentou inicialmente atropelar o animal. Sem sucesso, ele desceu do veículo e passou a persegui-lo com uma pá. As imagens mostram o suspeito desferindo golpes violentos até conseguir atingi-lo. Em seguida, ele colocou o tatu no porta-malas do carro e deixou o local.
Após análise das imagens da câmeras de monitoramento, a Brigada Militar foi acionada e abordou o indivíduo, encontrando o animal ainda com vida. O homem recebeu voz de prisão por crime ambiental e foi encaminhado à Delegacia de Polícia de Lajeado, onde foi registrada a ocorrência policial. Na sequência, foi liberado.
Conforme o delegado Márcio de Abreu Moreno, foi instaurado inquérito pelo crime de maus-tratos a animal silvestre, crime previsto no artigo 32 da Lei 9605/1998. O caso deve ser remetido ao Judiciário até o fim deste mês.
De acordo com a legislação brasileira, a caça, agressão e maus-tratos contra animais silvestres são considerados crimes ambientais.
Animal recebeu tratamento
O tatu-galinha foi levado ao Zoológico Municipal de Canoas para tratamento. A médica veterinária Isadora Luzza Fravetto, responsável pelo atendimento, relatou a gravidade do estado de saúde do animal ao chegar na unidade:
— Ele estava com lesões expostas na região do crânio, inclusive com exposição óssea e sinais neurológicos. Se não tivesse recebido atendimento imediato, as chances de sobrevivência seriam mínimas — explicou.
O atendimento envolveu uma equipe multidisciplinar composta por veterinários, tratadores e biólogos, que estabeleceram um plano de manejo intensivo para a recuperação do mamífero.
Graças ao trabalho da equipe do Zoológico de Canoas, o tatu-galinha conseguiu se recuperar e foi reintegrado ao habitat natural.
— Nosso objetivo sempre é devolver os animais ao ambiente de onde vieram, garantindo que possam continuar exercendo seu papel ecológico — emendou a médica veterinária.
Importância ecológica e ameaças
O biólogo Henrique Maciel da Silva, que também trabalha no Zoológico de Canoas, ressaltou a importância do tatu-galinha para o equilíbrio ambiental.
— Ele tem um papel ecológico fundamental, principalmente no controle de insetos e fungos. Como é um animal onívoro, ele consome milhares de insetos por noite, ajudando no controle populacional — afirmou.
Outro aspecto relevante é a habilidade de escavação que o mamífero possui, beneficiando outras espécies de animais.
— Os tatus fazem muitas tocas, que acabam servindo de abrigo para diversas outras espécies. Eles funcionam como verdadeiros engenheiros do ecossistema — destacou Maciel.
Apesar da importância para o ecossistema, o tatu-galinha é frequentemente alvo de caça ilegal. Segundo Isadora, a carapaça e o rabo do animal são utilizados para a confecção de cabos de faca, além da carne ser comercializada de forma clandestina.
— Há um mercado ilegal que explora esses animais, e muitos caçadores os matam por motivos completamente desnecessários — lamentou.
Riscos à saúde humana
O consumo da carne de tatu pode trazer riscos significativos à saúde, conforme alerta o biólogo. A hanseníase, conhecida como lepra, é uma das principais doenças transmitidas pela carne deste animal.
— Além da hanseníase, outras doenças como leishmaniose, doença de Chagas e infecções fúngicas podem ser transmitidas tanto no manejo, quanto na caça e no consumo — detalhou o biólogo.
*Produção: Leonardo Martins