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Nos últimos dias, tem pipocado nas redes sociais prints de telas de usuários que anunciam sua chegada em uma nova plataforma de interação: o Clubhouse. O site tem uma premissa interessante. Ali, não são compartilhadas fotos nem vídeos, a rede é calcada em áudio. Ou seja, os participantes podem ouvir conversas, entrevistas e discussões sobre vários tópicos, como se fosse um podcast temático.
Para Vivaldo Breternitz, professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a decisão de privilegiar o uso da voz acarreta uma grande facilidade aos usuários. Além disso, a segmentação de interesses também é um trunfo:
— No WhatsApp, por exemplo, a gente tem agrupamentos de pessoas que já são, geralmente, próximas umas das outras. No Clubhouse, ele é guiado pelas preferências, mas o que se destaca como o grande ineditismo dessa rede é o uso da voz. Há a questão de acessibilidade para pessoas com deficiência, mas acredito que essa não será uma preocupação da plataforma. Porque, neste momento, eles enfrentam o bloqueio do governo chinês. E perder um mercado de 1 bilhão de pessoas é entendido como mais urgente para eles.
Outro detalhe que chamou a atenção e aguçou a curiosidade das pessoas – e fez com que as buscas pelo aplicativo crescessem 525% entre os dias 30 de janeiro e 6 de fevereiro – é a exclusividade. O Clubhouse não é para todo mundo, só entra quem recebe um convite, além disso, ele só está disponível para a plataforma iOS. As informações são do The Guardian e G1.
A plataforma foi criada pelos empresários Paul Davidson e Rohan Seth, em março de 2020. Contudo, a popularidade da rede dela se deu recentemente, quando Elon Musk, CEO da SpaceX, participou de um evento do Clubhouse, em 31 de janeiro. No bate-papo, ele respondeu questões sobre colonização de Marte, seu interesse por criptomoedas e sobre a distribuição de vacinas entre outros assuntos. A partir daí, se deu o boom da plataforma.
Além de milionário Musk, celebridades como Oprah Winfrey, Drake e Ashton Kutcher também garantiram seus respectivos users no site. Em solo brasileiro, o Boninho, diretor do Big Brother Brasil, e o youtuber Felipe Neto são uns dos famosos que estão desbravando a nova plataforma.
Como conseguir um convite?
Para fazer parte desse mundinho, uma pessoa que já é usuária da rede deve enviar um convite para você criar uma conta. Quando esse envio for realizado, um link será enviado por mensagem de texto para seu celular. Ao clicar neste link, você será direcionando para a página de criação de conta do Clubhouse. Outro fator que torna a rede mais exclusiva e inacessível é o fato de que cada usuário pode enviar somente dois convites.
Porém, a promessa da empresa é de, ainda este ano, finalizar o estágio beta do aplicativo e “abrir o Clubhouse para todo o mundo”, conforme consta em post publicado no blog da rede social em 24 de janeiro de 2021.
Como funciona?
Quando o usuário entra na rede social, ele seleciona os assuntos nos quais tem interesse. Quanto mais ampla for essa escolha, mais salas de conversação e indivíduos o aplicativo recomendará que você participe ou siga. Além de integrar salas, é possível criar ambientes de conversa com amigos.
Em ambientes maiores, um moderador controla o fluxo da conversa e é possível pedir para falar com um emoji de "mão levantada", assim como em uma sala do Teams, da Microsoft. Há também a possibilidade de que somente o criador da sala fale.
Em salas menores, todos os participantes podem ficar com o microfone aberto, caso o moderador permita. Os ambientes têm um limite de 5 mil ouvintes simultâneos, não há opção de gravar conversas, e as mensagens trocadas não ficam armazenadas dentro da plataforma. A exceção é quando um usuário relata algum abuso dos termos de uso, segundo o aplicativo.
Censura na China
Usuários chineses do Clubhouse aproveitaram uma rara brecha de liberdade de expressão em um país em que as redes sociais internacionais, como Twitter ou Facebook, são proibidas e usaram o app para debater assuntos considerados tabu nos últimos dias: prisões em massa de uigures, protestos pró-democracia em Hong Kong ou a independência de Taiwan estiveram em alta. Mas Pequim se apressou em silenciá-lo.
Nesta segunda-feira (9) à noite o aplicativo apresentou uma mensagem de erro para aqueles usuários da China que não possuem VPN para fornecer uma conexão segura, um claro sinal de que os censores haviam chegado.
— Na era (do presidente) Xi, a proibição é só questão de tempo — diz Lokman Tsui, professor de Comunicação da Universidade Chinesa em Hong Kong.
Criado em maio de 2020, o Clubhouse conseguiu por pouco tempo se esquivar dos censores e atraiu multidões de internautas chineses, principalmente após a participação de Musk. Nesses últimos dias, os usuários chineses lotaram suas "salas" para discutir sobre a detenção por parte de Pequim das comunidades uigures, predominantemente muçulmanas que habitam na região de Xinjiang (noroeste).
Durante um debate no último sábado no aplicativo, ao menos três pessoas que se identificaram como uigures relataram suas experiências pessoais, assim como também outros usuários da etnia Han (predominante na China) que afirmaram residir em Xinjiang.
Apesar do surgimento de versões chinesas dessas plataformas, que agora integram a vida cotidiana dos chineses, todos sabem que seus conteúdos online são controlados e censurados de perto.
Para as empresas do setor, apagar conteúdos politicamente sensíveis, incluindo as críticas ou protestos contra o governo, é algo comum. Enquanto isso, os usuários da internet competem para descobrir como escapar da vigilância dos censores.