
Mais de cinco anos depois de uma reviravolta na investigação, a Justiça definiu uma data para o julgamento do tenente da reserva Jeverson Olmiro Lopes Goulart, acusado de matar o sobrinho Andrei Ronaldo Goulart Gonçalves, 12 anos, em 30 de novembro de 2016, na zona sul de Porto Alegre. A sessão foi marcada para 27 de outubro, na 1º Vara do Júri de Porto Alegre. Jeverson é acusado pelo Ministério Público de matar o menino para ocultar um caso de estupro.
A história foi relevada pela Rádio Gaúcha em março de 2020, após a mãe do menino, Cátia Goulart, insistir por três anos e conseguir uma mudança no andamento do caso, que havia sido concluído pela Polícia Civil como suicídio. O Ministério Público analisou provas e modificou o entendimento, denunciando Goulart em 2020.
— Meu filho foi assassinado dentro da sua própria casa, no seu quarto, por um tenente da Brigada Militar. Eu peço a Deus que ilumine cada um de nós. É um dia muito importante pra mim e esperei muito tempo por esse dia — disse Cátia na noite de terça (8), após ser informada sobre a marcação do julgamento.
Durante a instrução iniciada em 2020, foram ouvidas mais de 20 testemunhas, além do próprio réu. Na decisão, o juiz Thomas Vinicius Schons, da 1ª Vara do Júri do Foro Central da Comarca de Porto Alegre, destacou que, apesar de não ter tido uma investigação policial para comprovar a prática, os depoimentos colhidos “trazem indícios suficientes de que o réu apresentava, especialmente, conduta voltada à prática de atos para satisfazer a própria lascívia envolvendo crianças e adolescentes”, já que testemunhas narraram fatos do passado.
No despacho em que define a data, a Justiça definiu que "o réu deve ser julgado pelo fato a ele imputado, e não pelo seu passado". O Ministério Público vai recorrer, já que uma das testemunhas prestou depoimento afirmando que foi abusada por Jeverson quando tinha 11 anos.
Em seu depoimento na instrução, o réu, que responde em liberdade, negou o crime e sustentou que o sobrinho se matou. Zero Hora procurou a defesa, que ainda não se manifestou sobre a data. O espaço está aberto para manifestação.
Relembre o caso
Segundo a denúncia do Ministério Público, na noite de 29 de novembro de 2016, Andrei ficou sozinho em casa com o tio, quando a mãe e a irmã saíram para uma festa de aniversário. O tenente, que tem casa no Rio de Janeiro, estava morando provisoriamente no apartamento com a família e dividindo quarto com Andrei. Já na reserva da BM, havia assumido cargo em comissão no Ministério Público do Rio Grande do Sul três semanas antes.
Por volta das 23h20min, Cátia retornou para a moradia e conversou com Andrei e com o tenente. Ela declarou que seu filho já parecia estar "estranho e acuado, sem fazer as brincadeiras costumeiras". Goulart teria dito que estava com muito sono.
Por volta das 2h, o tenente acordou Cátia no quarto ao lado, dizendo que uma tragédia havia acontecido. A mãe foi até o cômodo e encontrou seu filho morto com as duas mãos segurando a arma do tio pelo cano.