
O que deveria ser um dia normal de trabalho se transformou em um pesadelo para um homem de 49 anos no último sábado (22). Ao chegar no serviço, ele foi torturado pelo dono do ferro-velho em que trabalhava. O caso no bairro Centro, em Canoas, na Região Metropolitana.
Na quinta-feira (27), o patrão foi preso preventivamente por suspeita de torturar e manter o funcionário em cárcere privado. O nome dele não foi divulgado, mas Zero Hora apurou tratar-se de Ricardo Sodré Fernandes da Silva.
A Polícia Civil investiga o caso.
Veja o que se sabe sobre o caso:
Como o crime aconteceu?
Ao se apresentar para trabalhar no último sábado (22), por volta das 9h, um homem de 49 anos foi surpreendido por um mata-leão, desferido pelo próprio patrão, identificado como Ricardo Sodré Fernandes da Silva, 42 anos. O golpe foi o início do que seriam cerca de 12 horas de tortura, realizadas em um ferro-velho localizado no bairro Centro, em Canoas, na Região Metropolitana.
Depois do golpe no pescoço, conforme a polícia, o homem foi algemado e acorrentado a um fogão a lenha. Na sequência, com o uso de um maçarico, o dono do empreendimento teria queimado os cabelos da vítima, e por meio de choques elétricos e despejo de água fervente, causado queimaduras de segundo grau no corpo do funcionário.

Uma furadeira elétrica também foi empregada na sessão de tortura, sendo usada para perfurar os joelhos da vítima. O homem ainda foi obrigado, em um momento de extrema degradação, a decepar parte do próprio dedo.
O homem foi mantido sem água nem alimentação por horas. Ele recorda que o agressor usava drogas, “se divertia” e filmava a situação.
Qual é a motivação do crime?
Sobre a motivação do crime, o delegado Marco Antônio Arruda Guns, da 1ª Delegacia de Polícia de Canoas, diz que ocorreu por “puro sadismo”.
— A vítima disse que o suspeito exigia que ele confessasse um furto do seu dinheiro e cartão de crédito durante toda a sessão de tortura. Nenhum furto aconteceu. Não tem registro de ocorrência. Nada. Por sadismo ele (o suspeito) arrebatou e torturou — explicou o policial.
A vítima, que não terá o nome divulgado, diz que a todo momento implorava pela vida e negava que havia roubado qualquer coisa. O agressor, segundo ele, pretendia uma confissão de roubo de fios de cobre e ameaçava cortar outros dedos da vítima.
— Quando eu entrei no estabelecimento dele, ele me derrubou no chão e disse que eu tinha roubado ele. Não deixou nem explicar, começou a me arrastar até o final da casa e ali me acorrentou e começou com choque, água quente, maçarico na cabeça e chutes no meu rosto, martelada — disse.
Como a vítima conseguiu fugir?
Por cerca de seis meses, a vítima trabalhou no local. Foi o conhecimento da arquitetura do lugar que garantiu a fuga do cárcere.
Em meio aos atos violentos, o homem também conseguiu aproximar lentamente um instrumento — o mesmo usado para decepar o dedo — para cortar as correntes que o prendiam no local.
De acordo com o diretor da delegacia de polícia regional de Canoas, delegado Cristiano Reschke, mesmo com os ferimentos, o homem juntou forças e pulou o muro do local, conseguindo escapar do cárcere.
Após fugir do local, o funcionário se refugiu na casa onde vive com a companheira e os quatro filhos dela. Do cativeiro até a casa, foram cerca de 15 minutos. No meio do caminho, a vítima relata que chegou a cair por conta da fraqueza.
O suspeito chegou a procurar a vítima depois do crime, mas não a localizou.
Como está a vítima?
Após chegar em casa, a vítima foi levada a uma unidade de pronto atendimento. O funcionário se recupera dos ferimentos.
O homem agredido diz temer pela própria vida e das crianças, mesmo com o suspeito detido.

Como a polícia soube do caso?
No hospital, ainda com medo, o funcionário mentiu aos médicos que tinha sido assaltado. A equipe de saúde não se convenceu da história e insistiu que ele contasse o que havia acontecido. O homem então relatou a tortura e a Brigada Militar foi acionada e logo depois a Polícia Civil deu início às investigações.
Como está a investigação do caso?
Na tarde de quinta-feira (27), a Polícia Civil conseguiu prender temporariamente o suspeito e apreender materiais usados no crime, como o alicate, os pregos e até uma furadeira que teria sido usada para perfurar os joelhos do empregado.
Na sexta-feira (28), a investigação pediu que a prisão fosse convertida em preventiva e ainda deve ouvir outras pessoas.
O Instituto-Geral de Perícias (IGP) realiza exames técnicos no local e nos objetos apreendidos. A polícia aguarda laudos, que preliminarmente identificou possíveis vestígios de sangue em um alicate corta-corrente, objeto que poderia ter sido usado para decepar o dedo da vítima.
Quem são os envolvidos no caso?
Zero Hora apurou que o preso por tortura e cárcere é Ricardo Sodré Fernandes da Silva. Ele passou por audiência de custódia na sexta-feira (28) e foi mantido em prisão temporária, mas ainda não foi interrogado. Ele também não apresentou advogado. O espaço para manifestação da defesa dele segue aberto.
Outras duas pessoas estavam no local do crime durante a sessão de tortura — a companheira do suspeito e a mãe dele. A primeira é considerada investigada, enquanto a mãe é tratada como testemunha.
— Existe uma possibilidade de (a mulher) ter atuado de alguma maneira, ou pela omissão — resumiu o delegado Marco Antônio Guns.