Testemunha-chave no caso do bolo envenenado em Torres, que deixou três mortos, amiga de infância de uma das vítimas foi até uma delegacia de polícia em Canoas, onde vive, no dia 25 de dezembro do ano passado, para apontar Deise Moura dos Anjos como suspeita do crime.
Foi a sogra de Deise, Zeli Teresinha dos Anjos, quem preparou o bolo. Ela chegou a ficar internada, mas sobreviveu. Morreram duas irmãs dela, Neuza Denise Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva, além da sobrinha Tatiana Denize Silva dos Anjos, filha de Neuza.
— A Zeli eu tinha certeza que não tinha sido (responsável pelo envenenamento), pela relação que elas tinham — conta a amiga.
Ela conta que dois dias antes de a família comer o bolo, o que aconteceu em 23 de dezembro, ela se encontrou com Tatiana. Na ocasião, a amiga teria falado sobre as ameaças que Deise teria feito a Zeli.
— Estive com a Tatiana e ela me relatou, novamente, todas as ameaças que Deise fazia a Zeli por mensagens, até numa briga, que ela disse ao Paulo (Paulo Luiz dos Anjos, o sogro) que queria que ele morresse — contou a amiga, que preferiu não ser identificada, em entrevista ao programa Timeline da Rádio Gaúcha.
No mesmo encontro, Tatiana teria reforçado para a amiga que desconfiava das circunstâncias da morte de Paulo, que aconteceu em setembro do ano passado. Na época, a certidão de óbito apontou que teria sido uma intoxicação alimentar. A causa, acreditava-se, seria uma banana contaminada da enchente. Exumação do corpo dele na última semana apontou que também ingeriu arsênico antes de morrer.
Ela conta que percebeu, no velório de Tatiana, que outras pessoas comentavam sobre a possibilidade de Deise ter sido a responsável pelo crime. Isso a motivou de procurar a polícia logo depois da cerimônia de despedida.
— O que mais me motivou a ir a delegacia foi o fato de a Deise ter ido até o velório e ter colocado um terço e uma rosa na mão dela (Tatiana). Ela foi dissimulada neste ponto. Ela abraçou o marido de Neuza, o viúvo. Isso me revolta — completou.
Veja entrevista na íntegra:
Desavenças
A amiga relembrou que um dos motivos para as desavenças entre Deise e a família teria relação com o local onde aconteceria o casamento dela com o marido. Segundo a testemunha, a suspeita queria casar em uma determinada igreja, mas não gostou que pouco tempo antes Tatiana resolveu fazer a cerimônia no mesmo lugar. A testemunha disse ainda que a família tinha medo de Deise.
— Isso que dói, saber que a Tati nunca gostou dela (Deise) e agora acontece isso — afirmou.
Ela relembrou que os familiares levavam a própria comida em eventos no qual a suspeita seria a responsável pela alimentação.
— Tatiana tinha medo que a Zeli morresse. Contra ela (Tatiana), acho que não imaginava — relatou.
A Polícia Civil segue investigando o crime. Deise Moura dos Anjos está presa.
Morte de sogro
A investigação apura se Deise também estaria envolvida na morte do sogro, Paulo Luiz dos Anjos.
O sogro de Deise morreu em setembro. Inicialmente, acreditou-se que ele havia sido vítima de intoxicação alimentar. Porém, perícia realizada após a exumação do corpo demonstrou a presença de arsênio, mesma substância encontrada nas vítimas que comeram bolo.
Entenda o caso
Seis pessoas da mesma família passaram mal e precisaram procurar atendimento médico em 23 de dezembro após consumir o bolo, que continha arsênio, conforme análise da perícia da Polícia Civil.
Três delas morreram: Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, 59, além de Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza.
Zeli, responsável por fazer o bolo, foi hospitalizada, mas já recebeu alta. Um menino de 10 anos, neto de Neuza e filho de Tatiana, também ficou hospitalizado vários dias, mas já está em casa.
Uma sexta vítima, um homem da família, foi liberado após atendimento médico.
Contraponto
A defesa da acusada Deise, representada pelo escritório Cassyus Pontes Advocacia, através da presente nota, vem se manifestar sobre os fatos envolvidos no inquérito em andamento na Comarca de Torres sobre o fato do bolo.
De início, insta salientar que a condição da presunção de inocência é garantida constitucional, que não necessita de demonstração, em um inquérito que não possui relatório final da investigação.
Ademais, os fatos aventados na mídia, até o presente momento, não possuem enfrentamento a ampla defesa e o contraditório diante do caráter inquisitorial do procedimento administrativo.
Neste sentido, toda prova técnica necessita de análise específica, pericial e com contraprova, a qual irá se desenvolver no trâmite judicial, com o devido processo legal.
Assim, sobre as provas, se teve acesso ao relatório parcial de aparelho telefônico indicado como da acusada Deise, que não apresenta integralidade do conteúdo para o apontamento definitivo do caso. Ainda, qualquer arquivo armazenado, conversas, ou imagens devem ser avaliados no contexto correto e devido no qual era inserido.
Já existem requerimentos de enfretamento sobre as provas inquisitoriais e decisões dos juízos responsáveis, os quais já foram protocolados e aguardam julgamentos pelo juízo de primeira instância.
Porto Alegre, 12 de janeiro de 2025.
Cassyus Pontes advocacia