A Polícia Civil avalia pedir a exumação do corpo do pai de Deise Moura dos Anjos, presa por suspeita de matar por envenenamento quatro pessoas da família do marido — três por meio de um bolo com arsênio, em dezembro de 2024, e outra meses antes, com o mesmo composto químico. Fontes ligadas ao caso confirmaram a informação à RBS TV neste sábado (11).
José Lori da Silveira Moura morreu aos 67 anos, em Canoas, em 2020, por cirrose. A relação dele com a filha é descrita por uma amiga da família como boa, apesar de distante. No entanto, pelo comportamento frio que a suspeita apresentou, a polícia quer esclarecer outros casos de morte de pessoas próximas ao círculo familiar dela.
Durante coletiva de imprensa na sexta-feira (10), o delegado Marcos Veloso afirmou que Deise pesquisou e comprou arsênio muito antes da primeira morte por envenenamento no núcleo familiar. A diretora regional de polícia do Litoral, Sabrina Deffente, também afirmou que "há fortes indícios de que ela tenha praticado outros envenenamentos em pessoas próximas da família".
Neste sábado, em entrevista à RBSTV, a diretora-geral do Instituto-Geral de Perícias (IGP), Marguet Mittmann, disse que é possível identificar a presença de arsênio por muitos anos, até por meio da análise de gavetas mortuárias.
— Nós orientamos a Polícia Civil, o delegado de polícia, para que envie para nós, caso julgue necessário, algumas análises, sejam elas em pessoas, em vítimas vivas ou em vítimas que vieram a óbito, que a gente possa ter a suspeita de um envenenamento também. O arsênio, o elemento arsênio, tem essa peculiaridade de se "grudar" em grupos do nosso organismo e permanecer durante muitos anos.
No caso de Paulo dos Anjos, sogro de Deise, que teve exumação realizada na última quarta (8), a perícia afirmou que a quantidade de arsênio concentrada era elevada — segundo o IGP, a segunda maior quantidade do veneno entre as quatro vítimas.
Outras supostas vítimas
A reportagem da RBS TV também confirmou quais são as outras pessoas que a polícia suspeita que Deise tenha envenenado. Trata-se do próprio marido de Deise e do filho do casal. Os testes do IGP devem ser feitos nos próximos dias.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, Rafael Lanaro, a ingestão de arsênio em pequenas quantidades não causa o óbito, mas complicações do quadro de saúde.
— A gente observa primeiramente náuseas intensas, com vômitos incessantes. Ele é até conhecido na clínica como uma substância que provoca uma "toxíndrome de hiperemese", ou seja, eles provocam vômitos profusos e incessantes. O outro sintoma é a diarreia — disse Lanaro.
Garrafa em análise
O IGP revelou ainda que segue realizando testes em uma garrafa de água, levada por Deise para a sogra no hospital, em Torres, horas antes de ser presa, no domingo passado. Na ocasião, a acompanhante de Zeli disse que estranhou o lacre estar rompido e colocou fora o produto. O objetivo é ver se a água também havia sido envenenada.
Conforme a diretora do IGP, a garrafa teve o líquido descartado e foi lavada, o que reduz a precisão dos testes, mas não anula a possibilidade de identificação.
Entenda o caso
Seis pessoas da mesma família passaram mal e precisaram procurar atendimento médico em 23 de dezembro após consumir um bolo, que continha arsênio, conforme análise da perícia da Polícia Civil.
Três delas morreram: Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, 59, além de Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza.
Zeli Teresinha dos Anjos, 61 anos, responsável por fazer o bolo, foi hospitalizada e deixou a UTI na manhã desta segunda. Zeli recebeu alta hospitalar na manhã desta sexta-feira (10). Um menino de 10 anos, neto de Neuza e filho de Tatiana, também ficou hospitalizado vários dias, mas já está em casa.
Uma sexta vítima, um homem da família, foi liberado após atendimento médico. Uma sétima pessoa que participou da reunião familiar não chegou a comer o bolo e, por isso, não passou mal.
Após as suspeitas sobre a nora, a polícia pediu a exumação do corpo de Paulo Luiz dos Anjos, marido de Zeli, que faleceu em setembro. À época, a causa da morte foi atestada como intoxicação alimentar.
A exumação foi realizada na manhã de quarta-feira (8) e o resultado do exame pericial, divulgado nesta sexta (10), confirmou o arsênio como causa da morte de Paulo.
Em coletiva de imprensa realizada em Capão da Canoa, a Polícia Civil confirmou que o veneno foi comprado por Deise pela internet, que pesquisou diversas vezes sobre a substância antes da compra.
Contraponto
O advogado de Deise, Cassyus Pontes, ainda não retornou o contato da reportagem sobre as novas suspeitas da polícia.
Mais cedo, a defesa afirmou que "as declarações divulgadas na coletiva de imprensa (de sexta-feira) ainda não foram judicializadas no procedimento sobre o caso", portanto "aguarda a integralidade dos documentos e provas para análise e manifestação".