Considerada por pessoas próximas uma mãe dedicada com dois filhos e uma mulher prestativa, Mirnes Aparecida de Lima Martins, 31 anos, teve a vida interrompida na madrugada desta segunda-feira (13). Quatro horas após registrar um boletim de ocorrência pedindo uma medida protetiva, em Imbé, no Litoral Norte, ela foi esfaqueada 25 vezes. O suspeito de ter desferido os golpes é o companheiro da vítima, um homem de 34 anos, que está preso preventivamente.
— Mirnes era caprichosa com os filhos, mantinha eles sempre impecáveis. Quando ela chegava do trabalho, eles faziam festa. Ela também era educada e gentil. Toda vez que eu, idosa, precisava de ajuda, ela se punha à disposição — comenta a vizinha Maria Aparecida Caldeira, 69 anos, sobre a vítima.
Natural do município de Campos Borges, na região noroeste do Estado, Mirnes residiu alguns anos em Lajeado, no Vale do Taquari, com a família. Durante esse período, atuou profissionalmente como fiscal de prevenção em supermercados da região.
Uma ex-colega, que atuou ao lado de Mirnes em duas empresas, em um período de cerca de dois anos, assinalou que a vítima era dedicada ao lar e uma profissional igualmente esforçada.
— Ela era muito guerreira, muito batalhadora. Era uma pessoa que ia à luta e que peleava pelo que queria. Ela sempre contava muito sobre o carinho que tinha pelos filhos — relembra a ex-colega, de 22 anos, que optou por não se identificar.
Nos últimos meses de convívio que teve com a vítima, ela remonta que Mirnes comentava o desejo de ir para a praia e abrir um negócio próprio no Litoral.
O recomeço veio de uma forma inesperada. Segundo a vizinha Maria Aparecida, o casal e os dois filhos, de cinco e sete anos, foram morar em Imbé após a perda da casa e dos bens na enchente que acometeu Lajeado em maio do ano passado. A cidade fica no Vale do Taquari, região fortemente atingida pela maior tragédia climática do Rio Grande do Sul.
— A intenção era recomeçar no Litoral. Ela logo arrumou um emprego, mantinha a casa e todo o necessário. Ele, por sua vez, cuidava das crianças, não trabalhava. Eu admirava ela. Mirnes chegou a trabalhar em três empregos para readquirir seus bens. Era do trabalho para casa e quando tinha alguma folga, passava limpando a casa — acrescentou a vizinha, que via a convivência da família como pacífica.
Horas antes do crime e de ir até a delegacia para fazer a solicitação de medida protetiva, Mirnes havia publicado em uma rede social um pedido de procura para que alguém cuidasse dos seus filhos durante a noite. Na publicação, ela menciona o fato de que as crianças precisam de companhia, que dormem a noite toda e que seria para não os deixar sozinhos naquele momento, sem fazer menção ao motivo.
Conforme o delegado Rodrigo Nunes, da Delegacia de Polícia de Imbé, porém, a vítima já havia denunciado o marido em outras ocasiões por violência doméstica, mas em Lajeado.
Relembre o caso
Mirnes Aparecida de Lima Martins, de 31 anos, foi morta a facadas durante a madrugada desta segunda. O companheiro dela, um homem de 34 anos, está preso preventivamente suspeito de ter cometido o crime. Ele não teve a identidade divulgada.
O crime ocorreu quatro horas após a vítima ter registrado um boletim de ocorrência solicitando medida protetiva, por volta das 23h de domingo (12), conforme a Polícia Civil. Mirnes foi encontrada morta dentro de casa, na Rua Cruz Alta, por volta das 3h, com 25 ferimentos causados por faca.
Após o crime, o suspeito fugiu do local com os dois filhos do casal, mas foi convencido por familiares a se apresentar na delegacia de Imbé para se entregar. Ele foi preso em flagrante e teve o pedido de prisão preventiva concedido na tarde desta segunda.
As crianças foram entregues ao Conselho Tutelar da cidade até que a avó paterna, que reside em Lajeado, possa pegar os netos. A mulher chegou ao município no fim da tarde desta segunda.
Pelo menos quatro feminicídios em 2025
Este foi o quarto caso de feminicídio registrado no Rio Grande do Sul neste ano.
No dia 5 de janeiro Liane Prauchner, 59 anos, foi morta em Ijuí no noroeste gaúcho. Adoniran de Castro Claro, 52, também foi encontrado morto. A suspeita da polícia é de que seja um caso de feminicídio seguido de suicídio.
Em 6 de janeiro, o corpo de Kelly Rodrigues da Rosa, 29 anos, foi encontrado com marcas de tiros em uma residência no Bairro Charqueadas, em Caxias do Sul, na Serra. Um homem de 41 anos também foi encontrado morto no local. Ele era o companheiro de Kelly, em um relacionamento recente. O caso é investigado como um possível feminicídio seguido de suicídio.
Em 7 de janeiro, Keslem Mordini Menger, 19 anos, foi assassinada junto ao pai, Adilson Menger, 52, No Bairro São José, em Porto Alegre. Ele teria tentado defendê-la do marido, um homem de 29 anos, que os assassinou na Zona Leste. O companheiro havia sido solto há menos de um mês e já havia agredido a mulher, conforme a Polícia Civil.