Depois de perder o patriarca, em março deste ano, a família de Thaís Corrêa de Oliveira, 25 anos, de Soledade, no norte do RS, vive o luto mais uma vez, após a morte da jovem, encontrada baleada e sem vida ao volante da sua caminhonete S10, na última terça-feira (11). Ela deixa órfãos uma menina de um ano e um menino de cinco anos, para quem fazia frequentes declarações de amor nas redes sociais, e saudosa a irmã Thássia Correa, 31, que, também na internet, lamenta a perda e clama por justiça.
"Que tu e o pai juntamente com Deus nos dê forças pra superar esse pesadelo", escreveu a irmã mais velha. "(Que) um dia, espero eu que próximo, justiça seja feita, porque quem fez isso saiba que não tirou só uma vida, tirou sonhos, tirou alegrias, tirou amor de uma família, da minha família, e de dois inocentes que estão em casa esperando a mãe voltar", complementou, mencionando o pai, Leonardo Ferreira.
As circunstâncias dos disparos que acertaram Thaís ainda são desconhecidas. Ela foi encontrada morta a tiros ao volante do veículo, estacionado em frente à casa de uma amiga, com quem iria a uma festa. O titular da Delegacia de Polícia de Soledade, Marcelo Gasparetto, responsável pelo inquérito, afirma que colheu depoimento de cerca de 20 pessoas até a tarde desta sexta (14), incluindo o de uma dupla que era considerada suspeita por ter deixado a rua rapidamente em outro veículo momentos depois dos tiros.
— Eles dizem que não foram os autores dos disparos, estavam na casa (da amiga de Thaís) e teriam fugido por acharem que os disparos poderiam ser pra eles, pois têm envolvimento com o tráfico de drogas — explica Gasparetto.
Ele não acredita, porém, que Thaís tenha sido uma vítima acidental, morta no lugar de outro alvo pretendido. As câmeras mais próximas ao local não mostram o momento dos disparos nem uma aproximação suspeita, de acordo com o delegado Gasparetto.
Thaís era amiga de Paula Perin Portes, assassinada em 2020, aos 18 anos, e testemunha no caso. A delegada regional Fabiane Bittencourt, responsável pelo inquérito que indiciou cinco réus pela morte de Paula, não acredita que o assassinato de Thaís tenha sido uma “queima de arquivo”, ainda que ela pudesse vir a ser chamada a depor novamente no julgamento dos réus, ainda sem data marcada. De acordo com o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Thaís prestou depoimento sobre o caso em 11 de agosto de 2021. Paula defendia Thaís em repetidos episódios de agressões verbais cometidas por Dionatan Silva, que está preso pelo crime.
— Dionatan é pai do menino filho da Thaís e tem um histórico de desentendimentos constantes com ela. Não acredito em queima de arquivo, nossa hipótese principal é que as desavenças tenham sido a motivação, nos mesmos moldes do caso Paula — explica Fabiane, que acompanha a investigação atual.
À época da investigação do desaparecimento e morte de Paula, Fabiane e a 1ª DP de Soledade descobriram e desmantelaram outras atividades criminosas na cidade. A delegada acredita que uma dessas revelações e a exposição dos criminosos nas investigações também tenham servido de motivação a quem matou Thaís.
Contraponto
O advogado Manoel Pedro Castanheira, que atende Dionatan Portela da Silva, declarou que não tem conhecimento de investigação contra seu cliente sobre a morte de Thaís e que trata-se de uma apuração inicial. Castanheira afirma ainda que Dionatan não teve participação na morte da Paula, em 2020, e também não tem envolvimento em facções criminosas.