A Polícia Civil indiciou nesta terça-feira (1°) duas pessoas em investigação sobre suposta agressão a uma mulher e sua filha em uma loja de um shopping de Porto Alegre. O caso aconteceu em 6 de janeiro, quando a dona de casa Lidiane Espinosa dos Santos, 36 anos, comprava fraldas para a filha, de 13 anos, que estava com ela e possui necessidades especiais.
Conforme a delegada Andréa Mattos, da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI) da Capital, o gerente das Americanas foi indiciado por calúnia e racismo, e o segurança, por lesão leve e constrangimento ilegal.
— A gente não enxergou nas imagens nenhum outro motivo (além de racismo) que fizesse com que ele (gerente) tivesse essa desconfiança já na entrada da vítima na loja. É uma pessoa simples, estava vestida direitinho, e houve essa desconfiança infundada quatro vezes. Na entrada dela na loja, no momento em que ela estava fazendo as compras, no caixa, quando ela foi questionada insistentemente, e na abordagem final — diz a delegada sobre a postura do gerente.
Sobre a ação do segurança, que teria agarrado a mulher e arrastado para fora da loja, a delegada explica:
—É um caso bem típico. A própria jurisprudência chama essa vigilância exacerbada de hipervigilância.
Segundo a delegada, a hipervigilância dos funcionários foi relatada também por testemunhas que estavam na loja realizando compras.
O inquérito foi encaminhado ao poder Judiciário nesta terça-feira. Cabe ao Ministério Público fazer ou não a denúncia contra os dois.
"Surpresa e aliviada"
Lidiane diz que sentiu alívio quando soube dos indiciamentos dos dois funcionários:
— Eu fiquei surpresa e aliviada, porque achei que o caso não daria em nada. Aliviada porque vai ter justiça, porque hoje em dia não existe justiça no mundo, arquivam tudo e esquecem. Eu nunca pensei que eu fosse passar por isso, nunca senti na pele o que eu senti naquela tarde.
Ela relembrou ainda como foi aquela tarde no Shopping João Pessoa, em que foi abordada ao sair das Americanas:
— Me caluniaram como ladra mesmo vendo que eu estava com a nota (de pagamento) na mão. E, por eu ser preta, senti na pele a dor e o julgamento da minha cor. Acredito que se eu fosse uma pessoa branca, a abordagem teria sido muito diferente.
Ela conta ainda que, desde o episódio, sua filha não quer mais entrar em shopping e que, quando ela vê um segurança, "corre e se esconde".
— A minha filha é deficiente e passou mal na hora. Teve uma crise convulsiva e eles não a socorreram. Enquanto ele (segurança) me dava um "gravatão", ninguém socorreu a minha filha — diz.
Segundo Lidiane, o seu advogado entrou com uma ação por calúnia, racismo e danos morais contra os dois indiciados.
Contrapontos
Em nota, encaminhada após o caso, a assessoria de comunicação da Americanas S.A. disse que “repudia todo e qualquer tipo de discriminação e está apurando o ocorrido internamente para que sejam tomadas as providências cabíveis.”
A administração do Shopping João Pessoa também se manifestou, na época, por meio de nota. O texto destaca que o fato ocorreu “isoladamente com a equipe de segurança particular das Lojas Americanas, não do shopping.” A nota frisa, também, que o João Pessoa “não apoia nenhuma situação de preconceito, constrangimento e falta de respeito a quaisquer tipo de diversidade ou condição dos seus visitantes e colaboradores.”