Após cerca de três horas, terminou às 2h30min desta sexta-feira (13) a segunda noite de reconstituição da morte de João Alberto Silveira Freitas, homem negro morto espancado por dois seguranças em uma das unidades do Carrefour, em Porto Alegre. Neste segunda etapa, participaram dos trabalhos os réus pelo crime, que completa nove meses no próximo dia 19.
Na terça-feira (11), no primeiro dia de reconstituição, foi a vez das testemunhas relatarem suas versões. Nesta quinta-feira (12), os réus deram seus depoimentos por cerca de quatro horas no Palácio da Polícia, em oitivas que iniciaram as 18h. Mais tarde, foram levados até o hipermercado, no bairro Passo D'Areia, na zona norte da Capital, acompanhados de seus advogados, onde ficaram mantidos em ambientes diferentes no interior do estabelecimento.
Com policiamento reforçado na região, o trabalho da Polícia Civil e do Instituto-Geral de Perícias (IGP) começou por volta das 23h30min no local. Dos seis indiciados pelo crime, quatro participaram da reconstituição. Dois estão detidos, um está em prisão domiciliar e os demais respondem em liberdade.
O segurança Magno Braz Borges, que está preso, optou por não participar, assim como a fiscal da loja Adriana Alves Dutra, que está em prisão domiciliar. Ela chegou a participar da primeira etapa, prestando depoimento no Palácio da Polícia, mas decidiu não reviver a cena do crime.
Além deles, respondem pelo assassinato de Freitas os funcionários do Carrefour Rafael Rezende e Kleiton Silva Santos, o segurança Paulo Francisco da Silva —, que respondem em liberdade —, e o segurança Giovani Gaspar da Silva, que está preso e solicitou a reconstituição.
A delegada Roberta Bertoldo, titular da 2ª Delegacia de Homicídios da Capital e responsável pelo inquérito policial, explica que todas as testemunhas intimadas são obrigadas a comparecer, já os réus podem optar por não ir. Ela coordenou as atividades, ao lado da diretora do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegada Vanessa Pitrez.
— A reprodução é a encenação daquilo que eles fizeram, a partir da visão deles, se assim eles quiserem fazer efetivamente. Podem se recusar, é um direito deles — disse a delegada Roberta.
Dois peritos particulares, levados pela defesa de Gaspar da Silva, acompanharam a perícia nos dois dias de reconstituição. Um deles é Cleber Muller, diretor do Instituto-Geral de Perícias (IGP) entre 2015 e 2017, e o médico legista Antônio Nunes, do Piauí.
— Nossa expectativa é de que possamos delimitar bem qual foi a atuação do Giovani naquele dia. Entendemos que ele não é responsável pela morte — diz David Leal, advogado do réu.
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Assim como na terça-feira, uma ampla lona azul isolou o local onde ocorreu o crime. Um policial representou João Alberto dentro do hipermercado e um boneco fez o papel da vítima deitada no estacionamento. Toda dinâmica foi registrada por fotógrafos criminalísticos. Ao final da participação, os réus foram se retirando do estabelecimento um a um. Os advogados de defesa que acompanharam a perícia não puderam fazer perguntas.
Todos os presentes assinaram termo de confidencialidade para não vazar informações. A reconstituição irá resultar em um laudo, onde o perito irá analisar as versões relatadas, verificando quais são factíveis, levando em conta elementos técnicos da análise pericial. Neste documento, que não tem prazo exato para conclusão, são respondidos quesitos técnicos que podem ter sido formulados pelo solicitante, no caso, a defesa, e pela acusação.
À frente do processo criminal da morte de João Alberto, a juíza Lourdes Helena Pacheco da Silva, da 2ª Vara do Júri da Capital, marcou a primeira audiência da ação para o próximo dia 18.
Em nota, o Carrefour informou que não faz parte deste processo criminal, mas que "está dando o apoio necessário para que as autoridades policiais realizem a reconstituição".
Confira a nota do Carrefour na íntegra:
O Grupo Carrefour Brasil está dando todo o apoio necessário para que as autoridades policiais realizem a reconstituição. A empresa não faz parte deste processo criminal, que visa investigar individualmente os envolvidos na ação. O Grupo Carrefour Brasil segue comprometido com a luta antirracista que se materializa no maior investimento privado já feito para redução da desigualdade racial no Brasil. São valores que superam R$ 115 milhões e serão majoritariamente investidos em educação e geração de renda para a população negra.