
A última integrante da quadrilha envolvida na trama que resultou no assassinato do engenheiro Alexandre de Oliveira Brito, 58 anos, em novembro de 2019 em Imbé, no Litoral Norte, foi presa nesta segunda-feira (12) em Porto Alegre. A mulher de 30 anos foi detida no Belém Velho, na Zona Sul.
Indiciada pela Polícia Civil e denunciada pelo Ministério Público (MP) por receptação e lavagem de dinheiro, a acusada estava foragida desde outubro de 2020. Outros cinco homens, suspeitos de envolvimento direto no homicídio, estão presos há mais de um ano. Na Capital, a prisão da mulher foi feita por agentes da 4ª Delegacia de Homicídios.
A partir do desaparecimento e da morte do engenheiro, a Polícia Civil descobriu um esquema de roubo e extorsão no Litoral Norte comandando por um apenado da Penitenciária Modulada de Osório. Nele, traficantes marcavam encontros com homens para extorqui-los e assaltá-los.
As vítimas preferenciais do golpe eram homens homossexuais, de classe média alta, casados, com uma vida discreta e sem a orientação sexual pública. Os encontros eram marcados pelo preso a partir de perfis falsos nas redes sociais e aconteciam no litoral gaúcho e em Santa Catarina pelo valor de R$ 300.
Na data marcada, um dos criminosos se encontrava com a vítima, outro chegava e simulava um assalto e o próprio criminoso que estava no encontro com o homem também se fazia de vítima, como se estivesse sendo assaltado também, descreve o delegado de Imbé, Antônio Carlos Ractz Junior.
Na ação, os criminosos levavam todos os pertences, cartões de crédito e débito e carros. Caso a vítima não acreditasse na encenação, o criminoso que foi ao encontro também se apresentava como assaltante e passava a extorqui-lo. Na hipótese de a vítima se opor a passar senhas ou dizer que iria procurar a polícia, era ameaçada de ter áudios e fotos íntimas divulgadas para a família.
A investigação revelou que, em 9 de novembro de 2019, Brito, morador de Imbé, participou de um desses encontros. Sacou R$ 300 e foi até uma casa em Tramandaí, onde teria sido amarrado e torturado. Brito teria sido morto porque se negou a passar as senhas e começou a gritar. Com a utilização de luminol, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) localizou sangue em diversos cômodos da residência. Depois de ser agredida, a vítima foi transportada no próprio carro, uma Outlander cinza, até as margens da RS-786, em Cidreira. No local, foi queimado vivo.
Da Penitenciária Modulada Estadual de Osório veio a ordem para a Outlander cinza ser levada até Santa Catarina. Segundo a investigação, quem dirigiu o veículo até Sombrio (SC) foi a mulher presa nesta segunda-feira.
— Ela fez a entrega do veículo para o receptador em Santa Catariana, recebeu o dinheiro da venda e encaminhou parte do valor para o irmão, que estava recolhido na Penitenciária Modulada de Osório e é o autor intelectual do crime. Ela não teve envolvimento no homicídio, mas no transporte, receptação e entrega do veículo — explica o delegado.
A caminhonete foi entregue em Sombrio na manhã seguinte à morte de Brito, em 10 de novembro de 2019. O veículo foi vendido por R$ 3 mil no pátio de um restaurante às margens da BR-101. Conforme o delegado, parte do dinheiro ficou com a mulher e outra quantia foi repartida. A polícia apurou que ela levou R$ 500 até a cantina do presídio.
O grupo que atuava no Litoral Norte era formado por integrantes de uma facção com base no Vale do Sinos. Cinco homens foram presos em janeiro de 2020 por suspeita de ligação direta com a morte engenheiro. Eles foram indiciados por extorsão mediante sequestro com resultado morte, organização criminosa e ocultação de cadáver.
— A extorsão acaba sendo mais uma fonte de renda para a organização criminosa, e foi um crime gestado de dentro do sistema prisional. A última pessoa presa era companheira de um dos cinco indiciados e irmã do homem que planejou o crime — diz o delegado.