A Polícia Civil realizou na manhã desta terça-feira (26) uma megaoperação no Rio Grande do Sul para desarticular um grande esquema criminoso envolvendo 62 pessoas identificadas e que lucrava até R$ 800 mil por mês. De acordo com a investigação, o grupo se dividia em tarefas e tipos de ações, como se fosse uma escala industrial, contando com pagamentos de salários, prêmios e até divisão de lucros. Além do roubo e clonagem de veículos, principalmente em Porto Alegre, os suspeitos revendiam carros e peças para 16 Estados, lavavam dinheiro com apartamentos e automóveis de luxo, bem como com empresas, para depois aplicar golpes no comércio e em instituições.
Os líderes eram chamados de barões do crime, por isso a megaoperação recebeu o nome de Barão. Foram envolvidos 370 policiais no cumprimento de 34 mandados de prisões temporárias e preventivas, 52 de busca e apreensão, 72 de sequestro e indisponibilidade de imóveis de luxo e de locação, veículos, embarcações, contas bancárias e ativos financeiros. As ações ocorreram em Porto Alegre, Canoas, Viamão, Alvorada, Gravataí, Guaíba, Arroio dos Ratos, São Jerônimo e Taquara. Ao total, 33 pessoas foram presas, sendo que uma foi detida em flagrante por porte irregular de arma — dois investigados seguem foragidos. A operação também apreendeu 48 veículos, assim como US$ 3,2 mil.
Entre os veículos apreendidos, estão um BMW X6 e um Land Rover Freelander blindados, além de outros cinco carros de luxo, como um esportivo inglês Lotus avaliado em R$ 498 mil. Também foram sequestrados judicialmente iates e imóveis de luxo, como mansões nos litorais catarinense e gaúcho, bem como na Ilha da Pintada. Os bens apreendidos nesta terça-feira foram avaliados em pelo menos R$ 11 milhões, sem contabilizar as 23 contas bancárias bloqueadas.
Investigação
A investigação da Delegacia de Roubos de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) iniciou em julho do ano passado, quando se descobriu que estavam ocorrendo na Capital roubos de carros de luxo e alguns de médio valor no mercado gaúcho. O segundo passo foi identificar o grupo, com base em algumas cidades da Região Metropolitana, e depois verificar que estavam clonando e desmanchando os carros. O delegado Adriano Nonnenmacher, um dos responsáveis pela megaoperação, descobriu que os veículos e peças eram revendidos para todo o Rio Grande do Sul e mais 15 Estados.
— As entregas das encomendas de peças, dependendo da distância, eram feitas das seguintes maneiras: Correios, transportadoras ou pessoalmente pelos funcionários da quadrilha, com veículos de grande porte, de propriedade da organização — diz Nonnenmacher.
O delegado descobriu que o grupo também lavava dinheiro com veículos, imóveis e empresas, além de ainda aplicar golpes em seguradoras de veículos, instituições financeiras e no comércio. Por isso, foi solicitado o apoio da Divisão de Inteligência e Análise Criminal (Dipac) do Deic.
Roubo e clonagem de veículos
O delegado Joel Wagner, que também investiga o caso, diz que a organização criminosa tinha grande poderio econômico e muitos dos integrantes eram de classe alta. Todos eram liderados por Bruno Cassol e Eduardo Ribeiro Pereira. O grupo funcionava como uma empresa, com divisões hierárquicas de tarefas. As principais eram as seguintes: líderes, gerentes, assessores administrativos, assaltantes, operadores financeiros e golpistas. Todos ganhavam pagamento de salários e prêmios diversos, bem como participação nos lucros.
A primeira ação criminosa era o roubo de veículos de luxo e de médio valor no mercado, que contava com o braço armado do esquema. Além dos ladrões, possuíam clonadores, responsáveis pelos desmanches, vendedores, laranjas que emprestavam os nomes para a aquisição de pavilhões e receptadores. Os veículos roubados eram encaminhados para estes pavilhões clandestinos e depois comercializados para vários Estados e das mais variadas formas, inclusive pela internet e nos próprios pavilhões, além de uma rede de autopeças clandestinas.
Lavagem de dinheiro
Depois do roubo, clonagem e revenda de veículos, os delegados Nonnenmacher e Wagner acionaram o delegado Gustavo Rocha, da Dipac. Nesta segunda etapa, foram identificados operadores financeiros das vendas e de lavagem de dinheiro. Além disso, contavam com assessores de diversas áreas para proteção ao vasto patrimônio ilícito adquirido ao longo dos anos e contavam também com colaboradores em atividades de contra inteligência, para evitar investigações e ações da polícia e Fisco, entre outros órgãos de investigação administrativa.
Nesta etapa, a lavagem de capitais ocorria por meio de diversas empresas como Centros de Desmanches Veiculares (CDVs), revendas de veículos, oficinas, frotas de táxis, frotas de transporte de passageiros via aplicativos, imóveis de luxo, móveis, iates, farmácias, imobiliárias, motéis, lotéricas, construção civil, entre outras.
Fraudes e golpes
Em uma terceira etapa, o esquema criminoso também realizava estelionatos mediante fraude. Os principais alvos dos suspeitos eram seguradoras, locadoras de veículos, shoppings, hipermercados e até o Poder Judiciário. Os criminosos contratavam seguros de diversas seguradoras do mercado brasileiro, pagando somente uma ou duas parcelas contratuais, para logo após aplicarem a fraude, com envolvimento de responsáveis pelas vistorias, funcionários de empresas vítimas e de laranjas. Também utilizavam documentos e carimbos falsos de delegacias de polícia para a confecção de falsas ocorrências.
Por fim, a investigação da megaoperação Barão descobriu que novamente ocorria a lavagem de dinheiro após os golpes e fraudes. Ou seja, lavavam capitais após os roubos e após o estelionato.
— Roubavam veículos, clonavam ou desmanchavam em pavilhões, revendiam carros e peças diretamente nestes locais ou pela internet ou ainda em dezenas de autopeças para depois lavar dinheiro com imóveis e veículos de luxo. E mais, aplicavam golpes em seguradoras, empresas e, depois de tudo, realizavam um novo processo de lavagem de capitais — afirma Wagner.