Assustados com a quantidade de tiros na madrugada anterior, moradores do bairro Sarandi, em Porto Alegre, acordaram tentando entender o que motivou a primeira chacina da Capital neste ano. As vítimas, três irmãos e um primo deles, todos sem antecedentes criminais, foram retirados de casa e executados em via pública por quatro pessoas encapuzadas e vestindo roupas pretas, que se identificaram à família como sendo da polícia.
Leia mais
BM prende assaltantes que fizeram família refém em Porto Alegre
Polícia prende líder do tráfico na Vila Funil, na zona sul de Porto Alegre
Homem é preso com mais de 160 quilos de maconha em Ijuí
Era 1h30min desta quinta-feira quando o grupo invadiu a residência das vítimas, localizada na Rua Elias José Fermino, ao lado de uma igreja, as rendeu e caminhou com elas por 120 metros, até a esquina das ruas Pedro Moretto e Jackson de Figueiredo. Um morador que viu ação contou que Cristiano Juver, 41 anos, Fernando Juver dos Santos, 31 anos, Marcelo Juver dos Santos, 34 anos, e Lucas Nascimento dos Santos, 18 anos, foram obrigados a deitar no asfalto antes de serem mortos a sangue frio, com mais de 50 tiros, a maioria na cabeça, disparados de pistola, espingarda e fuzil. Na casa, estaria ainda a mãe dos três irmãos, duas crianças de colo, uma menina de sete anos e um adolescente. Todos ficaram ilesos.
Quem conhecia os rapazes, ou os "guris", como todos na rua se referiram às vítimas, garante que os criminosos erraram o alvo e mataram inocentes, que não tinham envolvimento com o tráfico de drogas.
– Aqui todo mundo se conhece. A gente sabe quem é do tráfico e quem não é. Os guris nem usuário de drogas eram – disse o torneiro mecânico Éder Flores, 27 anos.
Morador da área, Flores disse que acordou com o barulho dos tiros e com os gritos de desespero da sua mãe, o questionando sobre o que estava acontecendo.
– Eu disse para ela se acalmar, que era por causa do tráfico de drogas. Daí eu acordo e vejo que não era. Morreu gente que não tem nada a ver com essas coisas. Gente trabalhadora. Poderia ser eu, poderia ser minha família – disse Flores, com lágrimas nos olhos.
Antes de abordar a família, os criminosos montaram barreiras nas vias que dão acesso à casa das vítimas, uma zona conflagrada pelo tráfico de drogas. Ao gritos de "é da polícia", chegaram chutando a porta da casa de uma idosa de 80 anos. Não conseguiram entrar e foram na casa da família Juver, onde utilizaram a mesma técnica.
Conforme a delegada Roberta Bertoldo, que está respondendo pela 3ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a apuração feita até agora mostra que as vítimas não têm qualquer envolvimento com o tráfico de drogas.
– A família diz que foram mortos por engano. Claro que a gente não vai desconsiderar isso na investigação, mas da forma como as mortes foram arquitetadas, a probabilidade de ser engano é muito pequena – disse, explicando que a Polícia Civil ainda não tem suspeitos.