Na ruela de casas simples, ninguém se atrevia a dizer na manhã desta segunda-feira o que viu ou ouviu horas antes, quando um casal foi morto a tiros dentro do próprio bar. O estabelecimento, que fica no final da travessa Bahia, bairro Rincão da Madalena, em Gravataí, foi invadido por três pessoas armadas e encapuzadas que dispararam contra Selanira de Oliveira, 68 anos, e Carlinhos de Oliveira da Costa, de 43 anos, por volta da 1h30min. Pela manhã, o medo era perceptível entre os moradores. Ninguém queria dar detalhes do crime. Os poucos que decidiam falar, eram breves:
– Foi feia a coisa – disse um homem, referindo-se aos disparos.
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A poucos metros do "Bar do Pirata"– nome do estabelecimento é em alusão ao pelido que Carlinhos ostentava – outro morador limitou-se a dizer:
– A gente não pode falar nada – comentou.
Mas foi um dos familiares do casal que conseguiu resumir o sentimento no bairro:
– Não vou falar nada porque não quero que mais pessoas da minha família morram – disse uma mulher que, assim como os outros, não quis ser identificada.
Conforme o delegado Rafael Sobreiro, que responde interinamente pela Delegacia de Homicídios de Gravataí, ainda há poucas informações sobre o crime. E, um dos motivos, é justamente o medo da comunidade em testemunhar. Ainda assim, Sobreiro adiantou que Selanira não tem passagem pela polícia, mas que Costa tem em sua ficha criminal ocorrências por roubo, furto e estelionato.
Mesmo não tendo boletins de ocorrência registrados contra as vítimas por tráfico de drogas, uma das linhas de investigação que será seguida é a relação deste homicídio com a onda de assassinatos que vem acontecendo no município após a prisão de Vinícius Antônio Otto, o Vini da Ladeira, um dos maiores traficantes da região. Conforme a investigação policial, o bando liderado por ele movimentava, até o ano passado, R$ 6 milhões por mês. Encarcerado em abril, era considerado o braço mais lucrativo de uma facção criminosa que atua na Região Metropolitana.
– Quando o chefe está fisicamente ausente há uma desestabilização da quadrilha. A prisão dele gerou uma disputa por pontos de tráfico de drogas, uma briga por poder. Como consequência, estão acontecendo muitos homicídios na região e as possíveis testemunhas preferem o silêncio. Mas estamos investigando. Não temos ainda a autoria e nem a motivação – explicou o delegado.
A suspeita da Brigada Militar é de que o crime tenha sido executado por bandidos de outros municípios:
– Normalmente estão vindo pessoal fortemente armado de outras cidades cometer crime aqui por conta do tráfico de drogas – complementou o tenente-coronel Marcelo Couto de Souza.