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Sérgio Roithmann (*)
O câncer continua sendo uma preocupação para a população mundial. Atualmente, é a segunda maior causa de mortes, atrás, apenas, dos problemas cardiovasculares. É muito provável que a maioria das pessoas tenha um familiar, um conhecido, um amigo com câncer — infelizmente, a doença está muito perto de nós.
Para este ano, a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é de mais de 700 mil novos casos de câncer no Brasil. Também em 2024, os Estados Unidos devem bater o recorde de mais de 2 milhões de novos registros da doença. Embora assustador, esse aumento está relacionado a um maior número de diagnósticos, ao envelhecimento da população, aos hábitos de vida e aos fatores ambientais. Por outro lado, notamos um crescimento na quantidade de casos em pessoas mais jovens.
Apesar do aumento, a taxa de cura está crescendo em ritmo mais acelerado. Nos Estados Unidos, por exemplo, dados recentes apontam que aproximadamente 70% das pessoas que recebem o diagnóstico da doença conseguem se curar em razão da descoberta precoce e da evolução dos tratamentos, cada vez mais individualizados e precisos. No Brasil, esse percentual não chega a esse patamar, uma vez que o acesso ao diagnóstico e aos tratamentos são desiguais entre a população, a despeito de uma legislação que assegura a realização de exames em um prazo de 30 dias quando houver suspeita da doença — a Lei 13.896, de 2019.
Diante dessa realidade, a ferramenta mais acessível para evitar a doença está em nossas mãos. Os hábitos de vida também são responsáveis pelo aumento do número de casos de câncer no mundo. Mudá-los o quanto antes, portanto, pode reduzir o risco de desenvolver tumores.
O excesso de peso, as dietas desequilibradas, o consumo excessivo de álcool, a exposição inadequada ao sol e o sedentarismo são fatores de risco importantes para o desenvolvimento da doença. O Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos estima que pessoas fisicamente ativas têm 19% menos risco de desenvolver câncer de estômago. Tumores de mama têm entre 12% e 21% menos chance de ocorrer em mulheres que se exercitam regularmente, aponta a entidade.
Soma-se a esses fatores de risco aquele que pode ser considerado o maior vilão de todos: o tabagismo. Fumar é o principal aspecto relacionado ao desenvolvimento de câncer de pulmão e está associado a uma taxa de 80% a 90% das mortes por esse tumor. Além disso, contribui para o surgimento de outros tipos de neoplasias.
Estilo de vida também melhora o prognóstico da doença
Ainda que a mudança no estilo de vida não nos deixe imune à doença, ela contribui — e muito — para a sobrevida dos indivíduos com câncer. Recentemente, foi publicado um estudo que analisou, justamente, a sobrevida de pacientes com câncer nos Estados Unidos, na China e no Reino Unido. O trabalho, divulgado em janeiro deste ano na revista International Journal of Cancer, avaliou a maneira como cinco fatores associados contribuíram para um melhor prognóstico do câncer: não fumar, atividade física adequada, dieta saudável, consumo leve de álcool e índice de massa corporal adequado.
Independentemente do tratamento recebido, a mortalidade diminui pela metade em pessoas com esses aspectos mais equilibrados. Cada um deles foi individualmente importante, mas a associação de todos teve o maior efeito protetor na comparação com quem não atentava para esses fatores ou que seguia apenas um deles. Sem surpresa, o levantamento mostrou que o não fumar foi o fator que mais contribuiu para a redução da mortalidade. Como conclusão, o estudo trouxe uma evidência muito forte que a vida saudável diminui o risco de morte em decorrência da doença.
A mensagem que fica é que a cura do câncer está aumentando por meio dos diagnósticos precoces e avanços nas pesquisas de novos tratamentos, mas uma parte significativa da prevenção passa pelas nossas mãos e depende das nossas atitudes em relação à saúde. Já temos o conhecimento, então, a hora de agir é agora.
(*) Chefe do Serviço de Oncologia do Hospital Moinhos de Vento e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)