Ficar em jejum por mais de quatro horas, induzir o vômito, utilizar diuréticos, laxantes, inibidores de apetite e até permanecer por mais de três horas diárias realizando exercícios físicos são comportamentos comuns de brasileiros que buscam uma perda de peso rápida. A conclusão faz parte de um estudo realizado pela enfermeira e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Sabrina Chapuis de Andrade, que analisou dados de 27,5 mil homens e mulheres por meio de um questionário online.
Dentre os achados, está a comprovação do que já se presumia: as mulheres apresentam mais comportamentos alimentares de risco do que os homens. Mas esse não foi o único dado preocupante apontado pela pesquisa.
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Um deles é que mulheres com o índice de massa corporal (IMC) normal apresentam comportamentos para perda de peso semelhantes aos de homens com obesidade mórbida.
– A indução do vômito entre elas é bem forte – diz Sabrina.
Segundo a enfermeira, 4% das pesquisadas admitiram vomitar frequentemente para emagrecer. Entre os homens obesos esse índice foi de 2%. Já 10% das entrevistadas afirmou ter o comportamento algumas vezes. Entre o sexo masculino, o número foi de 8%.
A pesquisa também apontou que pessoas de ambos os sexos com nível escolar mais baixo tendem a usar esse método para perder peso. Sabrina acredita que isso ocorra por falta de informação dos riscos que a medida provoca – que vão desde um desequilíbrio do corpo até servir como pontapé inicial para o desenvolvimento de um distúrbio alimentar mais grave.
Homens também apresentam comportamentos de risco
Outras condutas muito repetidas entre as mulheres são o jejum prolongado (ficar mais de quatro horas sem ingerir nenhum alimento), frequente para 12% das mulheres com sobrepeso e 9% entre as que têm IMC normal, o uso de diuréticos, frequente em 7% dos casos e ainda o uso de laxantes, medida escolhida por 8%.
– Isso mostra a importância do controle desses medicamentos – alerta a pesquisadora.
Sobre o comportamento masculino, o estudo alerta para a prática exaustiva de exercícios físicos a fim de se encaixar dentro de um modelo sociocultural padrão de homem "forte e musculoso":
– Sempre existiu uma pressão masculina, talvez mais velada. Mas o modelo sociocultural vê o homem com corpo atlético, definido.
Conforme os dados, 10% dos entrevistados com IMC normal ficam com frequência mais de três ou quatro horas na academia fazendo atividades que levam o corpo à exaustão. Trinta por cento repetem o comportamento "algumas vezes". Entre as mulheres com o índice normal, o número chega a 8%. Embora saudável, a prática esgotante de uma atividade pode culminar em graves lesões musculares.
Imagem distorcida é o maior problema
De acordo com Sabrina, esses comportamentos, por vezes drásticos, são praticados por pessoas que buscam se encaixar em um padrão estético considerado "adequado". Em uma das perguntas da pesquisa, os entrevistados responderam sobre a percepção corporal e a relação com a felicidade.
– Vimos que, quanto mais valor a pessoa dá ao peso corporal, mais aparecem essas questões dos comportamentos, independentemente do IMC. É muito importante estar em um peso adequado para que elas gostem de si próprias, pois existe uma pressão muito grande da sociedade para que sejam magras – avalia a especialista.
A pesquisa
Realizado por meio de um questionário online com mais de 200 perguntas, o estudo analisou somente as informações sobre comportamento para perda de peso. Foram considerados os entrevistados entre 18 e 55 anos. Todas as questões foram respondidas de forma voluntária por 19.154 mulheres e 8.347 homens.