Eles aprendem a pedir e a agradecer, a olhar para os lados antes de atravessar a rua, a escovar os dentes sozinhos e a amarrar os próprios sapatos. Mas trincam os dentes quando veem uma folha de rúcula.
Filhos que comam bem ainda são uma utopia para muitos pais. E, nesta reportagem, eles irão deparar com uma dura realidade: quem determina se vai pôr no mundo um simpático experimentador do que for servido à mesa ou um monotemático adorador de biscoitos recheados é, invariavelmente, a família.
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– É difícil um pai que não come verdura criar um filho que vá gostar disso. As crianças hoje consomem alimentos industrializados com sabor muito intenso. Não é que não gostem dos vegetais, é que acham sem graça. Precisam de uma motivação. Quando o adulto que têm como modelo consome, é uma motivação – diz o pediatra especialista em gastroenterologia e nutrologia José Vicente Spolidoro.
Estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano passado mostra que 19% das crianças brasileiras com menos de cinco anos têm risco de sobrepeso, 7,9% estão acima do peso e 7,3% são obesas. O índice pode ser relacionado a dados de consumo preocupantes: quase um terço das crianças (32,3% no Brasil e 38,5% na Região Sul) com menos de dois anos toma refrigerante ou suco artificial, e 60,8% nessa faixa etária consomem biscoitos, bolachas ou bolos.
Assim como para os adultos, uma boa alimentação na infância inclui a ingestão de alimentos variados, com destaque para produtos não industrializados, e repleta da mais ampla paleta de cores de vegetais possível. O consumo de doces e guloseimas deve ser adiado ao máximo – e ocorrer só de vez em quando.
O que difere quem consegue colocar a fórmula em prática de quem sequer imagina por onde começar, de modo geral, é o nível de prioridade que a família dá ao assunto.
Paladar começa a ser formado na gestação
A educação alimentar começa em casa, e bem antes de a criança deixar o peito materno. A medicina entende que o processo se inicia ainda na gestação, quando o que é consumido pela mãe começa a influenciar na formação do paladar do bebê.
– Já se sabe que se uma mãe come vegetais com sabor forte, por exemplo, a criança vai sentir o sabor na placenta e aceitar melhor esse alimento depois. Por outro lado, a ingestão de gordura trans é um fator de risco para a obesidade do bebê – explica a nutróloga Elza Daniel de Mello.
O mesmo ocorre com o leite materno, cujo sabor varia de acordo com a alimentação da mãe. Quando os alimentos sólidos começam a ser introduzidos, depois dos seis meses, apresenta-se mais um momento crucial para a formação do paladar. A partir daí, cada vez mais, a criança vai adotar os hábitos – e as escolhas – da família. E se eles forem inadequados, as chances de que ela seja o membro a sair da curva, alimentando-se de forma saudável, são muito pequenas.
– Quando se fala em formação de paladar, pensam no hábito futuro. Quem tem um bom início vai manter isso ao longo da vida porque vai ter a memória gustativa. É mais fácil lidar com a criança que aprendeu a comer um alimento do que com uma criança que nunca experimentou – diz a nutricionista Ana Carolina Terrazzan.
ZH ouviu especialistas em nutrição infantil para ajudar os pais a desvendarem o caminho nem sempre fácil até a formação de crianças que comam bem. Descubra alguns métodos para tornar o paladar dos pequenos (e a vida da família) mais saudável.