Em entrevista por telefone, o médico Osmar Terra, especialista em saúde perinatal, educação e desenvolvimento do bebê, ex-secretário da Saúde do Rio Grande do Sul e deputado federal pelo PMDB-RS diz que o zika vírus deve chegar ao Estado e que ações devem ser feitas com urgência. Atualmente, ele preside a frente parlamentar da saúde e é coordenador das ações da Câmara em relação à microcefalia,
Como a microcefalia se espalhou com tamanha velocidade pelo Brasil?
O zika provavelmente entrou no Brasil durante a Copa do Mundo, e possivelmente iniciou no Nordeste. O vírus foi descoberto em Uganda, em 1947, mas lá não tem esse acompanhamento ou pesquisas que relacionem com a microcefalia. Em outubro, o Brasil começou a detectar casos de nascidos com microcefalia em número muito elevado. O mérito foi dos agentes de saúde de Pernambuco, que descobriram que quem nasceu e morreu com microcefalia tinha o zika vírus.
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Os governos têm sido ágeis em detectar e agir?
Foi detectado o vírus em maio deste ano, mas como os bebês com microcefalia nasceram em outubro, só descobriu-se agora a relação. No começo eram oito Estados com casos. Agora está em 19 Estados, e 14 com microcefalia. O governo precisa aumentar a velocidade de ação, não pode se limitar ao Ministério da Saúde. Não tenho percebido o senso de urgência que a epidemia exige. Isso é para ontem, tem que trabalhar dia e noite. Tinha que ter drone para ver piscina de água parada para eliminar os focos do Aedes aegypti, ser autorizada entrada no pátio das casas mesmo sem vontade do dono. Os municípios também precisam se mexer para decretar emergência e acessar recursos para combater o transmissor.
As ações que os governos têm adotado são suficientes para frear a epidemia?
Tem que haver uma grande operação. O Ministério da Saúde já adotou estado de emergência nacional, mas o órgão não tem força e nem dinheiro para agir sozinho. Já que não têm remédio e vacina, tem que eliminar os focos do Aedes aegypti com uma intensidade muito maior. O Exército tem que fazer visitas de casa em casa para eliminar focos. É necessária uma campanha de conscientização em grande escala para deixar a população realmente preocupada. É importante que as secretarias de obras tapem buracos, os agentes de saúde entrem nos pátios das casas e em ferragens, por exemplo.
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Qual efeito que o zika trará à saúde pública do país?
Há previsão de que 10 mil crianças nasçam neste ano com microcefalia. Isso é a maior tragédia nos últimos anos na saúde. Todo ano nascem só 100 bebês nessa situação. As Apaes não vão dar conta. A progressão da epidemia é muito rápida e acelera a cada semana. No ano que vem, vamos ter até 50 mil ocorrências. São casos sem cura e sem volta.
Quem pode ajudar o Brasil nesta tarefa?
O governo tem que gastar tudo o que tem e o que não tem para desenvolver uma vacina. Tem que ser como na África, onde se quebraram protocolos de pesquisa e em três meses desenvolveram uma vacina contra o Ebola. Temos que buscar ajuda do CDC (órgão de pesquisa dos EUA) e Organização Mundial da Saúde, o que, de certa forma, já estamos fazendo.
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O zika pode chegar ao RS?
Chegará em questão de semanas, conforme o Estado receba viajantes do Nordeste ou do Mato Grosso do Sul, por exemplo. Aumenta a temperatura, e com o volume de chuvas recente, há muitas poças para a propagação do mosquito. O governado já montou um plano, e agora lança uma ação. Mas o governo Federal tem que repassar mais dinheiro para Estados e municípios. Tirar de estímulo do BNDES ou programas de desenvolvimento. Isso é urgente.
Como a população pode se prevenir?
Se eu tivesse uma filha grávida, não a deixaria ir a um lugar com zika. A recomendação é de não viajar para onde tenha surto. E se puder adiar a gravidez, melhor. Também é preciso usar repelente, que o governo deveria distribuir em massa.
Alguns municípios gaúchos, em particular na região Noroeste, tiveram elevado número de casos de dengue neste ano. O que precisa mudar no combate ao Aedes?
Os municípios terão de fazer muito mais, agora que está claro que é preciso combater com muito mais força o Aedes aegypti. Terá que buscar apoio de Brigada Militar, Bombeiros, ter central de informações na região, mapeamento de caso em caso. E é preciso começar já, e não deixar para o verão.