Sentados no chão da capela do Colégio Anchieta, os alunos da turma 23, do 2º ano do Ensino Fundamental, celebraram na tarde de segunda-feira um fim e um começo. Tinham uma surpresa para Luísa Fincato Proença, sete anos, que acaba de concluir o tratamento quimioterápico para combater uma leucemia. Meninos e meninas cantaram, rezaram e entregaram à colega uma caixa repleta de bilhetes em formato de coração, desejando coisas bonitas para essa nova etapa, sem as pesadas medicações aplicadas desde o diagnóstico, em agosto de 2013.
"Eu agradeço pelo carinho conosco, por isso eu quero que tua doença acabe para sempre", escreveu uma das crianças. "Parabéns pela coragem e obrigada por você ser nossa amiga. O câncer não tinha chance", frisou outra.
- O dia de hoje celebra a vida e a devolução da infância - definiu o advogado Fábio Proença, pai da pequena homenageada.
A festinha com bolos, sanduíches, bananas e sucos reforçou o papel fundamental da escola durante todo o processo. Colegas, pais e professores envolveram a família de Luísa em carinho e cuidados. Internações forçaram a garota a perder aulas e a manter uma rotina peculiar: foi alfabetizada no hospital, onde desenhos dos amigos da Educação Infantil enfeitavam as paredes do quarto.
Diagnosticada com leucemia há um ano, menina dá exemplo de alegria
No retorno ao Anchieta, Lulu muitas vezes teve de passar o recreio na biblioteca, longe das brincadeiras, para evitar aglomerações e proteger a frágil imunidade. Em um grupo no WhatsApp, os pais e as mães da turma alertavam quando alguém ficava doente, sinal de que, naquele dia, Luísa não deveria se arriscar indo à aula. As dificuldades não impediram que ela se mostrasse uma aprendiz dedicada, autora de excelentes redações.
- Ela é ótima, superorganizada. Foi aprovada com todos os objetivos atingidos - vibrou a professora Cássia Letícia de Oliveira Alvarez.
Artigo: Lulu e o furacão
Os estudantes aprenderam a conviver com a enfermidade grave. Em um passeio de ônibus pela zona rural de Porto Alegre, divertiram-se usando máscaras, imitando Luísa no cumprimento de uma das exigências médicas. Em casa, eram orientados sobre as mudanças drásticas no visual da amiga, numa tentativa dos adultos de desencorajar perguntas desconfortáveis à paciente.
- Mas o que é perder o cabelo se ela vai viver? - questionou uma menina, confiante, minimizando a explicação sobre a segunda vez em que Luísa ficava careca.
Na estimativa da mãe, Denise Fincato, os reveses aceleraram o amadurecimento da caçula em cinco anos - Luísa tem hoje, acredita a advogada, a mentalidade e a postura de uma pré-adolescente de 12 anos. Confrontada com cenários sombrios e inúmeras limitações desde cedo, Lulu, no princípio, queria brincar de puncionar veias e aplicar injeção, o que causava estranheza nas outras crianças. Aos poucos, a menina entendeu o que a acometia - e os questionamentos mais profundos também chegaram precocemente.
- É possível morrer de câncer? - indagou certa noite.
Artigo: Lulu e as plaquetas
A resposta de Fábio a tranquilizou, permitindo que logo pegasse no sono:
- Só para quem não faz tratamento. Isso não vai acontecer com você.
Há pouco, Lulu montou no computador uma ilustração com duas versões de si mesma. Juntou a foto de um esqueleto, representando "eu antes", e a imagem de uma rainha, de vestido longo, coroa e cabelos até a cintura: "Eu agora", explicou.
- Hoje, ela é outra criança. Todos nós somos outros. Os quatro mudamos de maneira abismal. Quem convive conosco atesta a diferença _ conclui Denise, mãe também de Laura, 11 anos.
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Lulu das Plaquetas
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Larissa Roso
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