A caixa foi avistada quando Bruna Bitencourte Vivian estava a caminho de casa, na noite da última segunda-feira. A estudante parou o carro e, antes mesmo de ouvir os miados, estava certa do que encontraria ao vencer as camadas de fita adesiva que vedavam o recipiente de papelão.
Como cuidar dos pets no verão
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Depósitos de animais rejeitados pelos donos, as praças do bairro Intercap, na zona leste de Porto Alegre, recebem, segundo Bruna, novos refugos toda semana. No verão, com a movimentação dos moradores das cidades rumo ao Litoral e outros destinos de férias, o número de cães e gatos descartados aumenta muito - tem gente que sai para passear e resolve largar o bicho de estimação na porta de alguém ou até na estrada em vez de providenciar acomodação adequada para o período de ausência. Bruna decidiu acolher os quatro gatinhos com idade estimada em um a três meses.
- Vi os filhotinhos indefesos, tive que pegar. Sei que é muito difícil doar, mas não consegui pensar em não pegá-los - relata.
Ativistas envolvidos com a causa animal, organizações não governamentais (ONG) e pet shops também constatam a crueldade crescente entre dezembro e março. Contribui para a piora da situação dos animais de rua outro fator típico da época: as pessoas estão mais envolvidas com suas programações de descanso, e a preocupação e a mobilização com outros assuntos naturalmente caem. Diretora de marketing da ONG Bicho de Rua, Marcia Simch percebe a redução do número de anúncios para adoção no site.
- Abandonar nunca é uma opção, é crime. Opção é deixar meu animal na casa da minha irmã, ou num hotel, ou no meu veterinário de confiança, ou pedir para uma pessoa ir na minha casa cuidar. Isso são opções, o restante é crime. As pessoas dizem que bicho se vira, mas não é assim. Nós domesticamos esses animais, eles se tornaram dependentes. Sentem falta tanto da parte física do cuidado, da alimentação, da água, do lazer, do descanso, como da parte sentimental, subjetiva - revolta-se Marcia.
Dos quatro filhotes encontrados por Bruna, dois já foram adotados, mas ainda há outros dois que esperam um lar. Eles estão disponíveis para adoção no site Bicho de Rua: http://zhora.co/gatoadocao
Presentes de Natal largados na praia
Rejane Velho Ferreira, presidente da Associação Duas Mãos Quatro Patas, alerta para o fenômeno do desamparo também nas praias. Ela identifica uma situação bastante comum: pessoas que são presenteadas com cães ou gatos no Natal e, logo em seguida, os levam junto na viagem ao Litoral. Passado o veraneio e já conhecendo melhor o comportamento do pet, decidem deixá-los por lá, imaginando que a nova aquisição não se adaptará à rotina e ao espaço da família na cidade.
- E sempre há os motivos mais variados: nascimento de nenê, gravidez, doença na família, separação - lamenta Rejane.
Contrariando a expectativa de que dar um destino aos filhotes seria uma tarefa difícil, Bruna conseguiu doar dois dos gatinhos um dia depois do resgate, graças a um post no Facebook. Levou-os até a residência da pessoa interessada, no Morro da Cruz, e ficou feliz ao saber que se tratava de uma senhora que gosta muito de felinos. Agora restam dois em busca de um lar - e um grande problema.
- Vou viajar amanhã (hoje) para a praia e não tenho como levá-los - angustia-se a estudante.
Maus-tratos e abandono de animais são crimes previstos em leis federal e municipal. Para denunciar na Capital, ligue para 156 (Fala Porto Alegre), (51) 3264-6078 (Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente) ou (51) 3326-1165 (Batalhão Ambiental da BM).
Antes de adotar
- Avalie que tipo de animal se adaptará melhor ao perfil e ao estilo de vida de sua família. Se alguém gosta de praticar corrida, caminhada ou ciclismo, por exemplo, um cachorro poderá ser uma boa companhia na hora da atividade física. Pessoas mais tranquilas, que apreciam o sossego, tendem a preferir um animal mais calmo.
- O espaço disponível é determinante para a escolha. Um cão de grande porte não é a opção mais adequada para um imóvel de um quarto sem pátio.
- Quem passa o dia inteiro longe de casa poderá se dar melhor com um gato, que é mais independente e fica períodos mais longos sozinho.
- Um filhote de cachorro tem muita energia e é brincalhão. Você está preparado para tolerar eventuais estragos na mobília, nos calçados e em objetos que estiverem ao alcance do pequeno recém-chegado? Pense nisso.
- Considere a disponibilidade dos integrantes da família para dar atenção ao animal. Haverá alguém disposto a levar o cachorro para fazer xixi na rua três ou mais vezes por dia?
- Faça uma estimativa de gastos, considerando ração, vacinas, antipulgas, vermífugo, castração e, conforme a necessidade, consultas com o veterinário. Um animal pode viver 15 anos ou mais. Trata-se, portanto, de uma decisão que acarretará responsabilidades por um longo prazo.
- Se estiver pensando em adquirir um exemplar de raça, informe-se sobre as características específicas com alguém que já tenha um semelhante.
- Certifique-se de que todos estão de acordo e com a ideia de adotar um bicho. Se alguém na casa odeia gato ou cachorro, a situação, em algum momento, vai se complicar.
Na hora de viajar
- Há ONGs e protetores de animais que oferecem o serviço de hospedagem a um preço mais baixo do que o cobrado por pet shops e hotéis. Informe-se junto a entidades da área.
- Está cada vez mais comum o serviço de pet sitter, um equivalente das baby sitters para cães, gatos, pássaros e peixes. Enquanto os tutores viajam, os cuidadores visitam os animais para repor a ração e a água, trocar a areia da caixa higiênica, passear e brincar - e mandam fotos dos bichinhos por e-mail ou redes sociais para quem está longe amenizar a saudade.
- Entre as opções mais baratas, está a de pedir o auxílio de um vizinho, familiar ou amigo que goste de animais. Combine a frequência das visitas e dê todas as orientações, deixando também telefones úteis para situações de emergência.
- Considere levar o seu pet junto no passeio. Se o destino for uma casa própria na praia, não haverá problemas. Consulte o proprietário do imóvel a ser alugado ou a gerência do hotel para saber se animais são aceitos.
Se encontrar um animal abandonado
- Ofereça água e comida se não puder dar abrigo.
- Se o animal estiver em um ponto fixo (sendo alimentado pelos funcionários de um posto de gasolina, por exemplo), divulgue fotos em redes sociais e nos sites de entidades de proteção que mantêm cadastro de cães e gatos em busca de um lar. Capriche no texto, detalhando as qualidades do animal - é dócil, gosta de brincar, se dá bem com outros animais? Não omita informações sobre o estado de saúde.
- Caso você não queira ou não possa ficar com o cão ou gato em definitivo, considere abrigá-lo temporariamente. Compartilhe fotos e tenha paciência - com sorte, um potencial adotante pode surgir em minutos, mas a espera talvez se estenda por dias ou semanas.
- Custeie o tratamento veterinário ou mobilize amigos para uma vaquinha nas situações mais graves e urgentes. Se o bicho estiver bem cuidado e se recuperando de eventuais ferimentos, as chances de surgir um interessado aumentarão muito.
- Tenha cautela ao se aproximar de um animal ferido. Um cão atropelado pode estar sentindo fortes dores e reagir de forma agressiva ao toque.
- Há clínicas veterinárias e entidades de proteção que oferecem castração a baixo custo. Se você puder financiar o procedimento, estará contribuindo efetivamente para a melhora da situação dos animais de rua.
Animais de estimação
Número de cães e gatos abandonados cresce no verão
ONGs percebem aumento de casos entre dezembro e março
Larissa Roso
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