Na quadra de basquete, Pedro* não arremessa uma bola em vão em direção à cesta. Mais alto do time, o garoto de 14 anos investe toda a energia no esporte que aprendeu antes mesmo do beabá. Mas enquanto o gosto por quicar a bola aumentava, os estudos passaram a ser deixados em segundo plano. Na quarta série, foi reprovado pela primeira vez.
- Tentei do meu modo. Ele passou para a 5ª série. Mas aí, não era apenas um professor, eram nove, e a coisa complicou. Ele não parava mesmo, não conseguia estudar e se concentrar nem se comportar em aula. E aí, ele rodou de novo - lembra a mãe, Teresa*.
Ao comentar a situação com uma médica, Teresa foi aconselhada a procurar tratamento especializado. Enquanto preenchia um questionário do Programa de Transtornos de Déficit de Atenção/Hiperatividade (ProDAH) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, teve o primeiro estalo do que poderia estar acontecendo.
As perguntas faziam referência a um comportamento manifestado por muitas crianças e adolescentes, mas que pode passar despercebido aos olhos dos pais. São os sintomas de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), doença descrita desde o século 19 e que tem prevalência média de 5,29% na população mundial: distração, esquecimento, agitação e impulsividade excessivos e incompatíveis para a faixa etária. O psiquiatra infantil Carlos Renato Maia, do ProDAH, explica que é mais comum que os sintomas sejam identificados no ambiente escolar:
- O professor tem 30 alunos na sala, e ele vê que um está diferente. Ele consegue comparar um com o outro.
O comportamento agitado não significa que a criança é doente
Mesmo que seja uma doença difundida, não raro, ela demora a ser diagnosticada, resultando numa via-sacra até que o médico certo seja encontrado. A recorrência do termo entre pais e professores pode passar a falsa impressão de que os diagnósticos têm aumentado. O que está acontecendo, segundo Maia, é que as pessoas parecem estar mais atentas aos sinais.
Os sintomas de TDAH podem começar a se manifestar antes dos seis anos. É importante, ao identificá-los, buscar avaliação médica. Nem tudo é, afinal, o que parece. O comportamento agitado de uma criança ou adolescente pode ser comum à idade. Para fazer o diagnóstico, o psiquiatra reúne informações da família, professores e pessoas que convivem com o paciente. Se identificado, o TDAH tem tratamento realizado com psicoterapia comportamental (geralmente com crianças que ainda não entraram em fase escolar ou quando os sintomas são fracos) ou medicação com acompanhamento psiquiátrico. A prescrição de remédio ocorre quando há dificuldade de aprendizagem, como no caso de Pedro, ou prejuízo acentuado no convívio em casa ou com amigos.
- A concentração na aula é a maior diferença que eu senti. Minhas notas subiram - compara o garoto.
Transtornos de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
Tipos
- Desatento
- Hiperativo impulsivo
- Combinado (os dois juntos)
Sintomas
- É comum as crianças serem ativas, sem que isto seja uma hiperatividade anormal ou patológica. A diferença é que a criança hiperativa mostra um excesso de comportamentos, em relação às outras crianças, além de dificuldade em manter a concentração, impulsividade e agitação.
Fique atento se seu filho:
- Se distrai facilmente na maioria das situações
- É esquecido em suas atividades diárias, tem dificuldade em manter a atenção, perde objetos
- Tem dificuldade em ficar no mesmo lugar e em respeitar situações que exigem espera ou calma, fala demais, dá respostas antes de que a pergunta seja terminada.
Diagnóstico
- Somente um especialista em comportamento infantil - no caso, um psiquiatra - pode ajudar a distinguir entre a criança normalmente ativa e enérgica e a criança realmente hiperativa. As crianças, até mesmo as menores, podem correr, brincar e se agitar durante horas sem cochilar, dormir ou demonstrar qualquer cansaço. Para garantir que a criança realmente hiperativa seja tratada adequadamente - e evitar tratar erroneamente uma criança normal - é importante que seu filho receba um diagnóstico preciso.