Desde que me conheço por gente, eu me sinto melhor na água do que em terra firme. Meu pai me ensinou a nadar quando eu tinha 3 anos e sou uma entusiasta desde então.
Ainda que a maior parte das minhas aventuras aquáticas tenha sido relativamente inofensiva, algumas foram extraordinárias. Eu nadei com piranhas no rio Amazonas, com tubarões e pinguins em Galápagos, com cardumes de peixes tropicais na Papua-Nova Guiné, com um polvo na Grande Barreira de Corais, e com leões marinhos na costa do México.
Eu nadei em um lago com águas vindas de geleiras, no Canadá, em um rio congelante no Alasca e em uma fonte quente na Antártica. E por mais de duas dezenas de verões abençoados, eu nadei, ida e volta, entre Minnesota e Wisconsin duas vezes por dia, desafiando a correnteza do pitoresco rio St. Croix.
Até mesmo alguns de meus nados em piscinas foram incomuns, incluindo uma piscina externa (aquecida) em Toronto, com a neve caindo sobre meus braços, e outro em uma piscina quadrada de seis por seis metros no saguão de um hotel em St. Louis, onde eu dava voltas (círculos, na verdade) sob a cuidadosa supervisão de um salva-vidas.
Mas a despeito de todas as histórias de que posso me lembrar, eu não sou páreo para a colega jornalista Lynn Sherr, autora de um novo livro intitulado "Swim: Why We Love the Water" (Natação: porque amamos a água). Sherr celebra a cultura, a história e as recompensas físicas e mentais desse esporte milenar, atrás apenas da caminhada como a atividade recreativa mais popular do país.
Entre a coleção eclética das aventuras aquáticas de Sherr, está uma travessia de 6,4 quilômetros, feita pela autora aos 69 anos através do célebre Helesponto (agora chamado de Dardanelos), o canal que divide a Europa e a Ásia Menor. Ela ganhou uma medalha por terminar o percurso em 1 hora, 26 minutos e 16 segundos.
-Nadar é a minha salvação- escreveu Sherr. -Nadar alonga meu corpo além dos limites humanos, ajudando a aliviar cada dor e a acariciar cada músculo. Mas é também uma jornada interior, um tempo de contemplação silenciosa, quando, envolta em um elemento que é, ao mesmo tempo, hostil e familiar, eu me sinto em paz, capaz e desejosa de abrir minha mente, imaginar novas possibilidades, trabalhar meus problemas sem as constantes interrupções de vozes humanas ou da vida moderna. O silêncio é impressionante.
Mais adiante em seu livro, ela destaca: -Nadar força você a se concentrar e cria um clima de meditação; nadar permite que você sonhe grandes sonhos.
Os benefícios
Algumas de minhas melhores ideias vieram à tona enquanto me impulsionava pela água, o stress mundano sendo aliviado pelo ritmo constante das minhas braçadas. O título de meu último livro, "Jane Brody's Guide to the Great Beyond" (O guia de Jane Brody para o além), me veio à mente durante uma manhã, quando nadava na piscina pública da minha cidade.
Em uma entrevista, Sherr afirmou gostar principalmente do "lado zen da natação".
-Hoje em dia, isso se encaixa muito bem em nossas vidas, agindo contra o stress e a loucura da vida moderna- afirmou.
Uma das minhas companheiras de natação afirmou que as idas e vindas pela piscina a ajudam a manter sua sanidade. Outra, com cerca de 57 quilos de sobrepeso, afirma que seus nados diários a mantêm viva, prevenindo doenças que ela normalmente teria em função da obesidade.
E ainda outra, quando estava grávida de gêmeos, buscava a relativa falta de peso da piscina para aliviar o stress físico e emocional da maternidade iminente.
Apesar de ter sido uma amante da água toda a minha vida, só comecei a nadar rotineiramente aos 35 anos de idade, depois de machucar as costas; a natação foi a única atividade permitida por meu médico durante a recuperação. Agora nado diariamente (apesar de não ser rápida, demoro 38 minutos para cobrir uma distância de 1,2 quilômetros) e sou uma espécie de fanática e me asseguro de que, não importa pra onde eu vá, haja um lugar onde eu possa nadar.
Conforme aprendi com o livro de Sherr, minha paixão pela natação tem companheiros de prestígio, incluindo os presidentes John Quincy Adams, Theodore Roosevelt, Franklin D. Roosevelt (que transformou a lavanderia da Casa Branca em uma piscina), Gerald R. Ford e John F. Kennedy.
A natação pode ser apreciada independentemente da idade ou de doenças, e é especialmente ideal para pessoas com artrite e com as juntas do joelho ou do quadril desgastadas por anos de atividades pesadas.
Ela ajuda a preservar o vigor, a função cardíaca e respiratória, o tônus muscular e a flexibilidade, conforme chega a idade. Quando feita de forma aeróbica, a natação ajuda a manter as artérias mais elásticas e livres de depósitos de cálcio.
Em pesquisas realizadas com nadadores mais velhos, Joel Stager, diretor associado do departamento de cinesiologia da Universidade de Indiana, descobriu evidências preliminares de que a natação ajuda a manter as funções cerebrais mais elevadas, um benefício importante, em vista do envelhecimento da população.
Sherr, que recentemente se tornou um dos sujeitos de estudo de Stager, explicou: -Nadadores ativos parece ter maior densidade celular e conectividade no cerebelo, o que pode melhorar a caminhada e o equilíbrio, ajudando a evitar quedas. Grandes nadadores percebem um declínio muito pequeno na velocidade com a qual o cérebro diz para os músculos o que eles devem fazer.
Depois que você se torna um nadador eficiente, a natação não vai ajudá-lo muito a perder peso, mas as calorias perdidas ajudam a mantê-lo.
-Mas não se trata de peso- afirmou Sherr. -Trata-se de tônus e de gordura corporal. Quanto mais você nada, maior é o tônus e menor é a gordura de seu corpo.
Ainda assim, nadadores dedicados também precisam de alguma atividade com pesos para proteger seus ossos.
Os impedimentos
Com mais de 10 milhões de piscinas residenciais e mais de 309 mil piscinas públicas nos Estados Unidos, o que impede que a maior parte dos americanos desfrute do alívio e do frescor da natação regular?
Os principais obstáculos são o medo da água; não saber nadar nem respirar de maneira apropriada; a falta da cultura da natação; e a falta de acesso conveniente ou barato a uma piscina ou a um corpo d'água. E para algumas pessoas, uma reclamação que ouvi de muitas mulheres: a relutância em bagunçar o cabelo.
Entretanto, ninguém é velho demais para aprender. No meu ponto de vista, todos deveriam saber nadar e se sentir confiantes dentro d'água; você nunca sabe quando sua vida, ou a vida de alguém que você ama, pode depender disso.
Óculos de natação permitem que você mantenha os olhos abertos sob a água sem a irritação dos produtos químicos usados em piscinas, ou do sal. Se você acha chato nadar, talvez você curta mais se utilizar aparelhos que podem tocar música ou audiobooks debaixo d'água. Já Sherr e eu preferimos nos libertar dos aparelhos eletrônicos, apreciando o silêncio que encoraja a mente a viajar.