Quase um ano depois da enchente que atingiu o Estado, uma das principais referências no atendimento em saúde de Porto Alegre segue em recuperação. O Hospital Mãe de Deus, no bairro Menino Deus, teve o subsolo inundado e os serviços do andar térreo afetados. Desde então, o centro obstétrico segue fechado, mas isso não ocorreu em função da ação direta da água.
O local onde ficava a maternidade e a UTI neonatal, no terceiro andar, foi ocupado por outros serviços. Entre eles estão um ambulatório de especialidades médicas e o pronto atendimento de traumatologia e ortopedia. As atividades que eram oferecidas no subsolo do Hospital Mãe de Deus até a enchente foram transferidas para o terceiro andar, resultando no fechamento do centro obstétrico e na demissão de 50 pessoas.
Conforme a direção, a conclusão das obras no subsolo deve ocorrer até o final de setembro. Retornam para o seu andar de origem o ambulatório de especialidades (Mãe 360º), o pronto atendimento de traumatologia e ortopedia, um restaurante para acompanhantes, o centro de pesquisa clínica e outras áreas de apoio. Já a reinauguração do centro obstétrico, no terceiro andar, tem previsão de ocorrer apenas no final deste ano ou até o início do ano que vem, com a contratação de novos profissionais.
— A contratação é uma consequência. Estamos desenvolvendo um projeto, executando obras. Os números são praticamente iguais. São médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e psicólogos que vão compor essa equipe — explica Sandro Junqueira, diretor executivo do Hospital Mãe de Deus.
O espaço da maternidade contará com três salas de parto regulares e três salas do tipo PPP (para pré-partos e pós-partos humanizados), 15 leitos de internação, 10 leitos CTI e neonatal e 10 leitos e recuperação pós-operatória. No térreo, já foram reformados o laboratório de análises clínicas, o espaço de entrega de exames, os estabelecimentos comerciais e os vestiários para 2,2 mil funcionários.
Em razão da enchente, o hospital também adaptou equipamentos e rotinas. O número de geradores passou de dois para quatro e eles estão instalados em uma altura maior, assim como as centrais de ar comprimido medicinal e de tratamento de água. O projeto de melhoria na drenagem incluiu ainda a construção de cinco bacias de contenção para água da chuva.
O pico da crise da enchente em 2024 durou 36 horas, com a evacuação emergencial de 278 pacientes internados entre os dias 3 e 5 de maio. A reabertura contou com referências internacionais.
— Poucos hospitais mundo sofreram por enchente. A experiência veio, basicamente, dos Estados Unidos. O furacão Katrina fez alguns hospitais da região de Nova Orleans ficarem embaixo d 'água. A experiência deles foi de muita utilidade para a nossa reabertura. Qual é o tipo de higienização que deveríamos usar para tubulação de gás? Em uma tubulação sanitária? Quais as testagens para garantir a segurança? - relembra Tiago Almeida Ramos, gerente executivo do hospital.
O Mãe de Deus contabilizou prejuízo de R$ 150 milhões com a enchente. O socorro veio através de linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A instituição recebeu R$ 80 milhões para capital de giro e R$ 70 milhões para reparos de danos. Essa segunda quantia, voltada para as reformas do subsolo, foi liberada em dezembro e depositada em janeiro deste ano, como linha de crédito específica para reconstrução de empresas atingidas pela enchente.
O hospital, localizado na avenida José de Alencar, realizou um média de 23 mil atendimentos por mês no ano passado. A estrutura conta com 312 leitos ativos e mais de 2,3 mil médicos credenciados.