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Tendência fitness que veio para ficar, os wearables devices (ou tecnologias vestíveis) ganham cada vez mais espaço e protagonismo no dia a dia. Além de exibir notificações do celular e mostrar informações úteis sobre o dia, dispositivos como relógios e anéis podem servir como aliados durante o exercício físico para fornecer dados e atingir metas.
O uso de relógios permite acompanhar informações como gasto calórico, quantidade de exercício, frequência cardíaca e zonas de treinamento. Já os anéis são interessantes para monitorar o sono e a variabilidade da frequência cardíaca. As pessoas têm usado os dados dos dispositivos para guiar a sua performance.
A qualidade e a confiabilidade da informação depende da marca, apontam os especialistas. Marcas mais famosas e mais caras costumam ter resultados mais fidedignos. Existem, porém, relógios inteligentes conhecidos que não são precisos, alerta Alessandro Gamboa, presidente do Conselho Regional de Educação Física da 2º Região — RS (CREF/2). Neste caso, há o risco de transmitir informações que não são verdadeiras e maquiar condições de saúde. A recomendação é testar e comparar.
Em geral, medidas de distância, velocidade, número de passos e pace (ritmo), que dependem do GPS, são bastante precisas. Em relação à caloria, a questão se torna mais complexa, visto que envolve outros fatores, como peso corporal e taxa de metabolismo basal. A mesma situação se aplica ao consumo de oxigênio, explica Anderson Donelli, cardiologista do esporte e exercício do Hospital Moinhos de Vento (HMV):
— É uma estimativa, então a gente tem de saber que isso é propenso a erro. Vai ter uma faixa de erro, de 20% para cima ou para baixo, porque existem outros fatores biológicos individuais que vão fornecer isso. Ele vai estimar o quanto uma pessoa do teu peso, da tua altura, do teu sexo e da tua idade estaria gastando para fazer exercício nessa intensidade. Então, vai ter variabilidade de pessoa a pessoa.
É possível saber a real taxa metabólica basal, o gasto calórico e o consumo de oxigênio por meio de exames médicos. Os dispositivos eletrônicos, porém, servem como uma boa estimativa para a população em geral, avalia Donelli.
Incentivo para se exercitar
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As tecnologias vestíveis auxiliam nos exercícios físicos, fornecendo feedbacks. É possível observar a evolução do treino, destaca Gamboa. Além disso, servem como incentivo, lembra Donelli.
— É muito comum as pessoas terem metas de quantidade de passos, de gasto de calorias durante o dia. Isso acaba estimulando a pessoa lá no final do dia, eventualmente, a fazer mais exercícios para poder bater as suas metas — afirma o médico, destacando relatos de pacientes nesse sentido.
Iniciantes e amadores podem investir em modelos mais gerais, visto que a especificidade não é tão importante, sendo necessário saber apenas o básico: frequência cardíaca, tempo, distância. Na musculação, por exemplo, não são fundamentais, sendo um adicional, na opinião do presidente do CREF/2.
Corredores ou profissionais que estão buscando níveis mais altos, por outro lado, optam por modelos com dados mais específicos, que auxiliam nos treinos — e tornam-se quase fundamentais.
Como escolher o dispositivo
É importante estar atento à marca do dispositivo e se ele é confiável, frisam os especialistas. Profissionais da educação física estão habilitados a indicar aparelhos, lembra Gamboa.
O cardiologista do esporte e exercício do HMV sugere que os pacientes levem o dispositivo ao consultório para comparar com exames, inclusive de esforço, e verificar a confiabilidade.
Dispositivos da Garmin, da Samsung e da Apple são mais confiáveis, conforme o médico. Relógios da Apple e da Samsung possuem melhores sensores de frequência cardíaca, conforme estudos e na comparação com o eletrocardiograma. Os melhores modelos, porém, consistem em uma cinta no peito, mas são menos práticos.
No caso da corrida, Donelli recomenda não deixar folga na pulseira do relógio, porque pode resultar em erro nas medidas.
Aparelho não substitui o acompanhamento
Atualmente, muitos pacientes já procuram atendimento médico com base em registros dos dispositivos — quando os batimentos, por exemplo, alcançam valores altos e geram preocupação. Muitas vezes, o problema é a qualidade do sinal, ou a frequência realmente é elevada, mas a situação é normal para a fisiologia da pessoa, explica Donelli.
Como os próprios dispositivos informam, os resultados não substituem avaliações médicas, nem são capazes de detectar, por exemplo, infartos. A informação mostrada deve ser utilizada como parâmetro, mas não como algo definitivo e oficial, sendo necessário consultar regularmente médicos — sobretudo no caso de alterações ou sinais de alerta. Os especialistas também recomendam procurar um profissional para saber se o que a pessoa está fazendo está correto.
Futuro dos dispositivos
A realidade virtual e a realidade aumentada são tendências de dispositivos vestíveis que podem se fortalecer nos exercícios nos próximos anos, na visão de Donelli. O cardiologista relata que as tecnologias já têm sido utilizadas para corridas em esteira, por exemplo, proporcionando uma experiência mais imersiva, que ajuda a diminuir a percepção do esforço e deixa o exercício mais agradável.