A cantora Lexa anunciou na segunda-feira (10), pelas redes sociais, que a sua primeira filha, Sofia, morreu após um parto prematuro de 25 semanas. A condição foi causada por um quadro grave de pré-eclâmpsia, chamado síndrome de HELLP. “Meu caso foi um dos mais graves e desafiadores”, escreveu a cantora.
Segundo a coordenadora de assistência materno-fetal da Santa Casa de Porto Alegre, Janete Vettorazzi, a pré-eclâmpsia, doença que envolve o aumento de pressão arterial – níveis maiores ou iguais a 140 por 90 (ou 14 por 9) — em gestantes após 20 semanas de gravidez, pode ter diferentes quadros graves. A síndrome de HELLP é o mais preocupante.
— Quando essa condição inicia muito precocemente, como foi o caso da Lexa, classificamos como pré-eclâmpsia grave. Qualquer mulher que apresenta pré-eclâmpsia pode evoluir para a síndrome de HELLP, mas menos do que 10% das mulheres que têm irão evoluir. Quanto mais precoce iniciar a pré-eclâmpsia, maior a chance de configurar uma síndrome de HELLP — afirma Janete, que também é especialista em gestações de risco.
A sigla descreve a condição, que é caracterizada por apresentar hemólise (H), níveis elevados de enzimas hepáticas (EL) e contagem baixa de plaquetas (LP). Ou seja, pode causar a destruição de glóbulos vermelhos, danos no fígado e comprometimento da coagulação sanguínea.
Para tratar a pré-eclâmpsia, é necessário que a gestante fique internada em um hospital e seja monitorada constantemente, de maneira que os médicos possam acompanhar e decidir qual o melhor momento para o nascimento. A ginecologista e obstetra da Santa Casa explica que, sempre que uma grávida apresenta critérios para ter síndrome de HELLP, está indicado o nascimento do bebê.
— Então não podemos associar a morte da filha da cantora somente com a síndrome de HELLP. Provavelmente, a morte do bebê está relacionada à prematuridade extrema. Qualquer bebê que nasce abaixo das 28 semanas é classificado como prematuro extremo, com mais riscos de complicações relacionadas à prematuridade. Sendo de extrema importância que esses nascimentos aconteçam em centros de referências — explica.
Fatores de risco para a pré-eclâmpsia
A gravidade da doença pode ser determinada pelo nível da pressão e pelo estágio da gestação, entre outros fatores. O chefe do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Moinhos de Vento e um dos membros fundadores da Rede Brasileira de Estudos Sobre Hipertensão na Gestação, Edson Cunha Filho, relata que, normalmente, as pacientes que correm mais risco de desenvolver a doença são mapeados ao longo do pré-natal.
Veja quais são os fatores de risco
- Idade superior aos 35 anos
- Histórico de pré-eclâmpsia em outras gestações
- Histórico de hipertensão arterial
- Histórico de doença renal crônica
- Histórico familiar (de primeiro grau) de pré-eclâmpsia
- Lúpus
- Síndrome antifosfolípide
- Diabetes tipo 1 ou 2
- Obesidade
- Gravidez resultada de fertilização in vitro
- Gestação gemelar
A partir da identificação dessas condições, as gestantes podem tomar algumas medidas preventivas. Entre as opções, Cunha Filho afirma que costuma ser receitado a suplementação de cálcio, o consumo de um medicamento chamado ácido acetilsalicílico e a prática regular de exercícios físicos. O ideal, de acordo com o médico, é que sejam feitos, pelo menos, 140 minutos de atividades semanalmente.
A coordenadora de assistência materno-fetal da Santa Casa ressalta, ainda, que é possível prevenir a doença, mas não o quadro mais grave da condição, que é a síndrome de HELLP:
— Depois que está estabelecida a pré-eclâmpsia, não existe prevenção. Existe tratamento precoce, que é ficar acompanhando. A paciente fica internada em acompanhamento assíduo dos exames maternos e fetais para ver qual o melhor momento para o nascimento do bebê.
Para gestantes que já tiveram pré-eclâmpsia, a ginecologista e obstetra recomenda que seja feito o pré-natal precoce nas próximas gestações, para que as medidas preventivas sejam tomadas desde cedo.
Diagnóstico e tratamento
Em toda consulta do pré-natal, a pressão arterial da gestante deverá ser medida. Alterações nesses níveis são o primeiro sinal de alerta, garante Cunha Filho. Outros sintomas, como dor de cabeça permanente (principalmente na região da nuca), visão borrada ou com pontinhos luminosos, náusea e vômito a partir da segunda metade da gestação também chamam atenção para a possibilidade de desenvolvimento da condição.
Com o diagnóstico, o recomendado é a internação hospitalar, para monitorar a mãe e o feto. A cantora Lexa foi internada no dia 20 de janeiro. É neste momento que são realizadas medições de níveis de pressão arterial, exames laboratoriais da mãe e avaliações fetais
— O único tratamento efetivo para a pré-eclâmpsia é o nascimento do bebê. Quando descobrem a doença acima das 37 semanas, os médicos fazem o nenê nascer. Abaixo desse tempo, tentamos postergar a gestação, desde que não haja sinais de gravidade. Se houver sinais de gravidade, em que há risco de vida para mãe ou para o bebê, a gestação tem que ser interrompida independentemente da idade gestacional — relata o especialista.
Segundo Cunha Filho, são por essas características que a doença está associada a elevadas taxas de prematuridade e mortalidade infantil, e a alta mortalidade materna. Ele acrescenta que, alguns centros mais especializados, contam com recursos nas UTIs neonatais que permitem oferecer cuidados intensivos aos bebês prematuros, nascidos a partir das 22 semanas.