Com macas improvisadas, superlotação e áreas sem ar-condicionado, pacientes e acompanhantes reclamam da falta de estrutura do Hospital Nossa Senhora das Graças, em Canoas, na Região Metropolitana. A reportagem recebeu mais de um relato de pessoas que estão acomodadas em cadeiras de praia ou camas provisórias, sem previsão de leito adequado e com dificuldade de atendimento. Itens básicos, como papel higiênico, também estão faltando, conforme as denúncias.
Na manhã desta segunda-feira (20), a filha de uma idosa de 80 anos, que pediu para não ser identificada, contou que faltou luz por volta das 9h25min e que não havia gerador para manter as operações.
— Nós estamos aqui no Hospital Nossa Senhora das Graças desde ontem às 12h30min, e minha mãe, com 80 anos, está aguardando em uma cadeira. Eu tive que arrumar duas cadeiras de praia emprestadas, porque não tem onde sentar. Esperando a avaliação do neurologista e sentindo dores absurdas — desabafou a familiar.
A energia retornou cerca de 30 minutos depois, conforme a familiar. A reportagem questionou a RGE sobre o caso. A concessionária retornou, às 11h15min, informando que uma equipe da empresa verificaria a ocorrência no local.
A mãe da autônoma Ana Medeiros também está enfrentando problemas na internação. De acordo com a filha, a paciente, de 61 anos, está há três dias sendo monitorada de forma precária e apoiando os pés em uma lata de lixo.
— Ela está numa cadeira, a qual não tem conforto algum. A cadeira está quebrada. Para ter um pouco mais de equilíbrio, ela fica com os pés em cima do lixo. Ela e mais outros tantos pacientes que estão aguardando o atendimento — enfatiza Ana.
A acompanhante também cita a falta de luz nesta manhã e a preocupação com a circulação de ar e a temperatura dentro do hospital. Cerca de 20 pessoas aguardam em uma sala.
— Era uma sala de espera que eles adaptaram para ser um ambulatório. A minha mãe é caracterizada como internação, ela está num ambulatório improvisado. Oxigenação zero, um ar-condicionado que não dá conta pela quantidade de pessoas que tem. Agora, nesse momento, faltou luz, então as pessoas todas estão lá dentro sem oxigenação nenhuma — descreve Ana.
O problema da ventilação é citado por outro parente que acompanha um senhor idoso, internado desde o dia 16 de janeiro. O neto dele, que também pediu para ter a identidade preservada, comenta que, mesmo sendo transferido para outra ala, a estrutura permanece complicada.
— Ele ficou na maca da ambulância. Depois, colocaram sentado numa cadeira. Tem muitas pessoas lá em cadeiras, pessoas idosas. Não tem copo plástico para água, nem papel higiênico. Daí ele foi para o que eles chamam de quarto. Ok, tem uma cama. É uma sala com mais de 30 pessoas, super lotada. Uma pessoa do lado da outra. Tem três ares-condicionados, só que um está estragado há anos, disse a enfermeira. Na parte onde meu avô está, fica sem cobertura de ar. Pensa num calorão que está e lá, um forno — salienta o neto.
Sala de espera também tem alta demanda
Quem busca atendimento pela entrada do ambulatório do SUS no hospital também passa calor em uma sala de espera bastante lotada. A reportagem esteve no local nesta manhã e constatou que não há ar-condicionado ou ventiladores no setor que recebe os pacientes e quem vai realizar exames. Janelas estavam abertas para melhorar a ventilação, mas, com a grande quantidade de pessoas dentro, várias optavam por ficar do lado de fora com as senhas nas mãos.
Alguns usuários contaram que notaram um aumento de procura nos últimos tempos e que exames como de sangue exigem que se chegue cedo para garantir uma vaga. Foi o caso do pedreiro aposentado Marco Aurélio dos Santos, 60 anos.
— Acho que a demora está muito ruim, com bastante gente saindo reclamando que não consegue. Eu vim para fazer três exames — comenta o paciente, que chegou às 5h para fazer a coleta do sangue e conseguiu passar por uma radiografia.
Precisando de uma cirurgia devido a uma hérnia, Marco teve que agendar um eletrocardiograma, porque o procedimento não poderia ser realizado sem dar esse encaminhamento. No entanto, sem ter clareza nas informações repassadas pelos funcionários, ele precisou se deslocar, com dificuldade, entre setores diferentes do hospital até conseguir a confirmação do local exato para fazer a marcação.
Prefeitura promete melhorias para problemas
Questionada pela reportagem, a Secretaria Municipal da Saúde confirmou, em nota, que "está efetuando um levantamento da situação da saúde no município e dos problemas relatados pelos pacientes e servidores. A partir desse diagnóstico, a atual administração municipal, que assumiu a prefeitura em 1º de janeiro, tomará as providências necessárias para efetuar melhorias para o atendimento da população".
A prefeitura ainda diz que "a lotação do hospital ainda é reflexo da enchente de 2024, que obrigou a transferência dos serviços do Hospital de Pronto-Socorro de Canoas para dentro da estrutura física do Hospital Nossa Senhora das Graças". A nova gestão acrescentou que, desde 1º de janeiro, "já vem tomando medidas para reduzir esta lotação, como mutirões de cirurgias, exames e consultas".