Durante a gestação, pessoas grávidas devem tomar cuidado com uma série de condições de saúde. Entre elas, está a pré-eclâmpsia, doença caracterizada pelo aumento de pressão arterial em gestantes após 20 semanas de gravidez. A complicação pode resultar no nascimento prematuro do bebê e, em alguns casos, contribuir para a mortalidade materna e infantil.
Segundo o chefe do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Moinhos de Vento e um dos membros fundadores da Rede Brasileira de Estudos Sobre Hipertensão na Gestação, Edson Cunha Filho, a condição ocorre quando a paciente regista níveis de pressão arterial maior ou igual a 140 por 90 (ou 14 por 9).
— Junto ao aumento da pressão, a paciente com pré-eclâmpsia grave pode ter algumas alterações, como no fígado, no rim, no sistema de coagulação ou sistema neurológico, podendo haver, concomitante, lesões e alterações hepáticas, visuais, cerebrais e pulmonares. Entretanto, a paciente sem sinais de gravidade pode apresentar disfunção no rim, perdendo proteína na urina, sem ter alteração nos outros órgãos — acrescenta o especialista.
A gravidade da doença pode ser determinada pelo nível da pressão e pelo estágio da gestação, entre outros fatores. Cunha Filho relata que, normalmente, as pacientes que correm mais risco de desenvolver a doença são mapeados ao longo do pré-natal, uma vez que há vários sinais aos quais os pais e os médicos devem estar atentos.
Fatores de risco para a pré-eclâmpsia:
- Idade superior aos 35 anos
- Histórico de pré-eclâmpsia em outras gestações
- Histórico de hipertensão arterial
- Histórico de doença renal crônica
- Histórico familiar (de primeiro grau) de pré-eclâmpsia
- Lúpus
- Síndrome antifosfolípide
- Diabetes tipo 1 ou 2
- Obesidade
- Gravidez resultada de fertilização in vitro
- Gestação gemelar
A partir da identificação desses fatores de risco, as gestantes podem tomar algumas medidas preventivas. Entre as opções, Cunha Filho afirma que costuma ser receitado a suplementação de cálcio, o consumo de um medicamento chamado ácido acetilsalicílico e a prática regular de exercícios físicos. O ideal, de acordo com o médico, é que sejam feitos, pelo menos, 140 minutos de atividades semanalmente.
O único tratamento efetivo para a pré-eclâmpsia é o nascimento do bebê.
EDSON CUNHA FILHO
Chefe do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Moinhos de Vento
Diagnóstico
O obstetra garante que, em toda consulta do pré-natal, a pressão arterial da gestante deverá ser medida. Alterações nesses níveis são o primeiro sinal de alerta. Outros sintomas, como dor de cabeça permanente (principalmente na região da nuca), visão borrada ou com pontinhos luminosos, náusea e vômito a partir da segunda metade da gestação também chamam atenção para a possibilidade de desenvolvimento da condição.
— Dor forte na região do estômago, edema generalizado e ganho de peso muito rápido também são sinais de alerta. Pacientes que, mesmo sem alteração da pressão arterial, notam algum desses sinais de alerta, devem entrar em contato com o seu obstetra ou procurar uma emergência para fazer uma avaliação complementar — defende.
Ao diagnosticar a condição, o recomendado, de acordo com Cunha Filho, é a internação hospitalar, para monitorar a mãe e o feto. É neste momento que serão realizadas medições de níveis de pressão arterial, exames laboratoriais da mãe e avaliações fetais para saber se o bebê pode ser afetado por uma má circulação placentária, o que é comum em gestações com pré-eclâmpsia.
Tratamento
Em casos específicos, a grávida poderá ser acompanhada de casa, se não houver sinais de gravidade e se ela for bem orientada, tiver o contato dos médicos e fácil acesso a uma emergência. Não havendo essas condições, a gestante deve continuar sendo acompanhada profissionalmente no hospital.
— O único tratamento efetivo para a pré-eclâmpsia é o nascimento do bebê. Quando descobrem a doença acima das 37 semanas, os médicos fazem o nenê nascer. Abaixo desse tempo, tentamos postergar a gestação, desde que não haja sinais de gravidade. Se houver sinais de gravidade, em que há risco de vida para mãe ou para o bebê, a gestação tem que ser interrompida independentemente da idade gestacional — relata o especialista.
Segundo Cunha Filho, são por essas características que a doença está associada a elevadas taxas de prematuridade e mortalidade infantil, e a alta mortalidade materna. Ele acrescenta que alguns centros mais especializados contam com recursos nas UTIs neonatais que permitem oferecer cuidados intensivos aos bebês prematuros, nascidos a partir das 22 semanas.