Saúde, resistência física e autoestima. Estes são os motivos que fazem o Pablo Eduardo Camilo da Rosa, 17 anos, treinar em uma academia todos os dias desde o início do ano. Assim como ele, outros adolescentes decidiram incluir a musculação na rotina no último ano, fazendo com que academias da Região Metropolitana de Porto Alegre registrem um aumento no número de alunos dessa faixa etária. Apesar dos benefícios para a saúde, especialistas alertam que a atividade requer cuidados.
— Tivemos este aumento e notamos uma conscientização dos adolescentes. Desde (as redes sociais) Instagram e TikTok até os pais, há muitas coisas influenciando os jovens sobre os benefícios das atividades físicas — avalia Fernando Artur Sassen, diretor da Associação Brasileira de Academias (Acad Brasil) no Rio Grande do Sul.
Nas redes sociais, influenciadores do ramo fitness colecionam milhões de seguidores. Com vídeos que vão desde dicas para melhorar o desempenho na academia até conselhos para uma vida mais saudável, nomes como Paulo Muzzy, Manuela Cit, Julio Balestrin e Carol Vaz, por exemplo, divulgam os benefícios do esporte para todas as idades.
Redes de academias com atuação na Capital e nos municípios da Região Metropolitana relatam crescimento na quantidade de alunos entre 15 e 19 anos, considerados adolescentes segundo a classificação do Ministério da Saúde. O movimento também é uma realidade entre as academias de bairro ou estabelecimentos que não pertencem a uma grande rede. A reportagem de GZH conversou com empreendimentos em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo.
No último ano, 11 das 18 unidades da Usina do Corpo localizadas na Região Metropolitana apontaram aumento no número de jovens nessa faixa etária matriculados. Pablo Eduardo treina na unidade da Dr. Flores, no Centro de Porto Alegre. Lá, o número de adolescentes subiu. Entre janeiro e março de 2023, seis dos mais de mil alunos da unidade eram adolescentes. No mesmo período deste ano, esse número saltou para 36.
— Eles estão querendo criar esse hábito da atividade física. Pelo que eu vejo e converso com alguns, academia está na moda. Temos vários alunos que são conhecidos, um vai puxando o outro. Notamos que, aqui, eles costumam vir entre 11h e 16h, que coincide com o horário de saída da escola ou do curso, por exemplo — conta o gerente da Usina do Corpo Dr. Flores, Diego Giordano.
Pablo Eduardo gosta de treinar entre 11h30min e 13h30min, horário que ele costuma ter tempo livre. Além da escola, que ele frequenta à noite, o adolescente faz curso técnico em Tecnologia da Informação pela manhã e estágio à tarde. Mesmo cheio de compromissos, não abre mão de frequentar a academia todos os dias.
— Além de buscar saúde e uma aparência física de invejar, treinar me faz bem. Pois a rotina que faço é muito cansativa e estressante. Claro que treinar também é cansativo, mas é um jeito que encontrei para descarregar e recarregar — afirma Pablo Eduardo.
Benefícios da musculação na adolescência
A atividade física é importante em todas as fases da vida. Na adolescência, garante o pediatra José Paulo Ferreira, da Santa Casa de Porto Alegre, o exercício físico pode trazer coordenação motora, equilíbrio e resistência, além de prevenir o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade. O professor da graduação em Educação Física da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) Fernando Ubiratan da Silveira defende que a musculação ajuda a melhorar a postura, diminuir o risco de lesões e ajudar no desempenho esportivo.
Antigamente tinha um tabu de que adolescente não podia fazer musculação. Hoje isso não existe mais
JOSÉ PAULO FERREIRA
Pediatra da Santa Casa de Porto Alegre
— O treino de força é importante para a saúde dos jovens. Principalmente porque estudos têm identificado que os níveis de força das nossas crianças e adolescentes têm sido abaixo do mínimo recomendado — acrescenta Silveira.
No âmbito da saúde mental, a musculação também pode ser positiva. Para Pablo, a atividade ajuda a diminuir o estresse e aumentar a autoestima. Segundo a professora Karen Szupszynski, do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), as atividades físicas podem auxiliar a prevenir ou amenizar sintomas de transtornos como ansiedade e depressão.
— O exercício físico ajuda com estados de humor que não estão legais, o que é muito comum em adolescentes. E é importante ressaltar que o início da maioria das doenças psicológicas e psiquiátricas acontece no final da adolescência e no começo da vida adulta. Então, as atividades físicas são uma forma de autocuidado, de investir na saúde do corpo e da mente — explica.
A socialização, notada pelo gerente da Usina do Corpo da Dr. Flores e pelo diretor da Acad Brasil no RS, é outro aspecto interessante da atividade. É comum que os adolescentes frequentem a academia em grupos, aproveitando o momento do treino para estar com os amigos e colegas. Karen enfatiza que, nessa faixa etária, os pares têm um papel muito importante, uma vez que os adolescentes acabam passando mais tempo com os grupos da mesma idade.
— Costumo treinar com meus colegas do (curso) técnico. Mas gosto de ir sozinho para a academia, parece que rende mais — conta Pablo.
Atenção aos pesos
Apesar dos benefícios para a saúde física e mental, os especialistas alertam que a musculação, assim como qualquer outra atividade física, requer cuidados. Uma das preocupações é com o risco de lesões, que podem acontecer quando o aluno não executa o exercício da forma correta ou não utiliza a carga adequada.
Para uma academia funcionar regularmente, é necessário que haja um profissional de educação física habilitado presente em tempo integral no local, conforme exigido pela lei estadual nº 11.721. Segundo o presidente do Conselho Regional de Educação Física do Rio Grande do Sul (CREF2/RS), Alessandro Gamboa, é esse profissional que ficará responsável por supervisionar as atividades que ocorrem dentro academia, garantindo a execução segura dos exercícios.
— Antigamente tinha um tabu de que adolescente não podia fazer musculação. Hoje isso não existe mais, mas a prática precisa ser com cuidado e supervisão. Nessa faixa etária, especificamente, a hipertrofia (aumento do volume do músculo causado pela sobrecarga) não é recomendada porque atrapalha o crescimento, uma vez que aumenta a massa do músculo e pode dificultar o desenvolvimento ósseo — orienta José Paulo Ferreira, pediatra da Santa Casa de Porto Alegre.
A academia pode ser um lugar onde a pressão para ter o corpo perfeito é incentivada
KAREN SZUPSZYNSKI
Professora da PUCRS
Silveira, professor da Unisinos, aconselha que os adolescentes intercalem o treino de força com exercícios aeróbicos, popularmente conhecidos como cardio. Para ele, também é importante que os adolescentes façam uma avaliação física antes de iniciar a rotina de musculação, para definir os objetivos e se conhecer melhor. Normalmente, o serviço, recomendado pelo CREF2/RS é oferecido pelas academias.
O principal objetivo de Pablo Eduardo na academia, atualmente, é ficar com o corpo dos seus sonhos até o final do ano. A professora Karen acredita que ter metas é saudável e pode ser estimulante para os jovens, mas é importante ter cuidado.
— A academia pode ser um lugar onde a pressão para ter o corpo perfeito é incentivada. Então, transtornos alimentares e de imagem podem ser comuns. O problema são os excessos. Uma coisa é eu ir à academia porque eu quero ter um corpo mais equilibrado, outra coisa é quando eu me pressiono — diferencia Karen.
* Produção: Yasmim Girardi