Esquecimento, confusão mental, ansiedade e alteração do padrão de sono são alguns dos principais sintomas do quadro conhecido como baby brain ou, em tradução livre, "cérebro de bebê". A condição é comum em grávidas e puérperas, em função das remodelações do cérebro durante o período de gestação. Apesar de ter sido comprovado como algo positivo, em alguns casos pode levar a problemas como ansiedade e depressão.
Um estudo realizado nos Estados Unidos pelas pesquisadoras Bridget Callaghan, Clare McCormarck e Jodi Pawluski, publicado na revista científica Journal of the American Medical Association (Jama), revelou que o cérebro passa por um período de reorganização durante a gravidez. Segundo a BBC, Bridget, pesquisadora da Universidade Columbia, em Nova York, explicou que não é algo negativo, mas sim uma espécie de adaptação do cérebro à maternidade.
— Na gestação e após o nascimento do bebê, o cérebro da grávida passa por uma série de transformações estruturais e bioquímicas. Essas mudanças podem causar esse quadro de confusão mental — acrescenta a psiquiatra e coordenadora do Serviço de Psiquiatria do Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas (HMIPV), Madeleine Scop Medeiros.
De acordo com a especialista, quando a nova mamãe começa a assumir as demandas da maternidade, é quase como se ela e o bebê compartilhassem o mesmo cérebro. É por isso, por exemplo, que as mães conseguem identificar o que o choro da criança significa. A pesquisa, intitulada como “É hora de remodelar o baby brain”, identificou esse sintoma do quadro como uma habilidade positiva.
— O ser humano é diferente dos outros mamíferos. O cérebro do bebê é mais imaturo e dependente do que o das outras espécies. O bezerrinho, quando nasce, já consegue caminhar até a vaca para mamar. Mas no caso dos humanos, a mãe que tem que traduzir o choro para entender que é fome, ir até o bebê e dar de mama. A mulher fica mais conectada com a criança e esquece das suas necessidades — exemplifica Madeleine.
O esquecimento, um dos sintomas mais comuns, pode aparecer de maneira seletiva. Ou seja, a grávida ou puérpera esquece onde colocou as chaves de casa, de comparecer ao jantar com as amigas ou, até mesmo, de comer. Mas é improvável que ela esqueça onde guardou a chupeta, de ir à consulta com o pediatra ou de alimentar o bebê, por exemplo.
Segundo a psiquiatra, o quadro é normal, mas o prolongamento dos sintomas pode resultar em uma depressão, bastante comum em grávidas e puérperas. Ela explica que, durante a gestação e nos primeiros meses da vida do bebê, a preocupação e alguns dos sintomas de baby brain são normais. Ainda assim, é importante ficar alerta.
— A mulher prioriza tanto o bebê que não consegue se priorizar. Então, a família, os amigos e toda rede de apoio dessa mulher devem ficar de olho, verificar se essa mãe está conseguindo atender as suas próprias necessidades. Essas pessoas podem ajudar também, ficando com o bebê para que essa mãe possa tomar um banho com calma, dormir um pouco mais e se cuidar — aconselha.
Caso a família perceba que os sintomas estão preocupantes, a médica sugere que ajudem essa mãe a procurar um médico. Madeleine conta que, em alguns casos, a mãe está com sintomas de depressão e ansiedade tão aparentes que os pediatras dos filhos as encaminham para consulta com psiquiatras. Por isso, ela ressalta que ter uma rede de apoio atenta é fundamental.
*Produção: Yasmim Girardi