O Hospital de Pronto Socorro de Canoas teve o maior número de doadores de órgãos efetivos no Estado, em 12 meses. Considerando o período de agosto de 2021 a agosto de 2022, foram 25 pessoas que realizaram a doação. Na sequência, está o Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, com 14; a Santa Casa de Misericórdia, com 13; e o Hospital Cristo Redentor, com 11. Os destaques foram anunciados em uma cerimônia realizada nesta terça-feira (27), no Palácio Piratini, para homenagear profissionais e entidades pelo Dia Nacional de Doação de Órgãos.
— A gente vê que os hospitais que têm mais doadores são os que atendem AVC (Acidente Vascular Cerebral) ou complexidade neurológica. O HPS de Canoas já vem há anos com uma equipe que se dedica para isso, com um acolhimento da família — explica o coordenador da Central de Transplantes do Estado, Rafael Ramon da Rosa.
A Organização de Procura de Órgãos da Santa Casa (OPO1) foi reconhecida como a OPO que mais teve efetivações e doadores no Estado no mesmo período. O grupo, mantido por verbas federais e estaduais, presta assistência e capacitação para hospitais de outras cidades. Já a Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes do Hospital Pompéia, de Caxias do Sul, foi a que mais teve notificações de morte encefálica.
Cada doação pode beneficiar até oito pessoas. De acordo com a Central de Transplantes do Estado, mais de 2,5 mil pacientes aguardam um transplante de órgão no Rio Grande do Sul, sendo que cerca de 1,3 mil estão na fila por um rim. Até junho deste ano, foram 221 transplantes realizados. O número ainda é baixo considerando os efeitos da pandemia de covid-19, que reduziu muito os transplantes nos hospitais. Durante um período, apenas os de extrema emergência eram realizados em razão do momento crítico de crise sanitária. A meta do Estado é tentar voltar ao patamar de 2019, quando foram feitas 689 cirurgias.
— Precisamos desmistificar os tabus e as dúvidas. É um processo muito seguro, tudo feito pelo SUS — frisa Rosa.
Em média, 40% das notificações de mortes encefálicas não são aproveitadas para transplantes no Rio Grande do Sul, por falta de autorização familiar. Além disso, somente 30% das notificações se concretizam em doações de órgãos.
Parente de um doador, Luciana Feijó conta como foi importante ter um trabalho de acolhimento e de esclarecimento feito pela equipe do Hospital São Lucas da PUCRS para que sua família tomasse a decisão de autorizar a doação de órgãos de seu sobrinho, que morreu aos 11 anos, vítima de um AVC hemorrágico.
— Nossa família não sabia absolutamente nada sobre doação de órgãos. O que fez a gente dizer sim foi uma abordagem de profissionais altamente qualificados que, no pior momento, nos mostraram o lado daqueles que estão na lista de espera. Dessa maneira, conseguimos proporcionar vida a quem estava esperando por um órgão — explica.
Um gesto como o da família de Luciana foi o que mudou a vida do funcionário público da Secretaria Estadual de Saúde, James Cassiano da Silva, 38 anos. Ele recebeu um transplante de coração após ter o diagnóstico de insuficiência cardíaca.
— Ser o primeiro transplantado em 2020 no Brasil me dá uma missão. Quanto mais pessoas conscientizadas, mais serão salvas. Eu agradeço por ter essa chance e voltar a minha vida como tinha antes — ressalta.
Pela legislação, a retirada dos órgãos para o transplante depende da autorização de familiares em primeiro grau ou cônjuges. Para demais graus de parentesco, a resposta só é aceita se houver inexistência do primeiro grau, e com justificativa. Em último caso, também pode ocorrer por decisão judicial.
Como se tornar um doador de órgãos?
É importante demonstrar esse desejo a amigos e familiares. Outro caminho é se cadastrar no site do projeto Doar é Legal.
Após gerar essa certidão, basta realizar a impressão, assinar e entregar ou então enviar por e-mail para familiares e amigos. Mesmo sem valor jurídico, o certificado mantém registrada a vontade da pessoa de se tornar uma doadora de órgãos.
Quais órgãos podem ser doados?
Conforme a Secretaria Estadual de Saúde, os principais órgãos transplantados são rim, fígado, pulmão, coração e pâncreas. É possível também doar tecidos, como córnea, esclera, osso, pele e válvula. Outra possibilidade de doação é a de medula óssea.
Para a doação de alguns órgãos, não é necessário o diagnóstico de morte encefálica. Pessoas ainda em vida, com as funções do encéfalo saudáveis, podem doar um dos seus rins, parte do fígado, parte do pulmão e parte da medula óssea. Pessoas que morrem em virtude de parada cardiorrespiratória, podem doar apenas tecidos para o transplante.