Construído ao longo da pandemia, o novo prédio do complexo hospitalar Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre, o Hospital Nora Teixeira deve ser inaugurado no segundo semestre de 2022. Com seus 30 mil metros quadrados distribuídos em 15 andares já erguidos entre o Hospital Santa Clara e a Praça Argentina, na curva que vai da Avenida Osvaldo Aranha para a João Pessoa, o edifício recebe o acabamento interno e equipamentos que aumentarão o atendimento de emergência via Sistema Único de Saúde (SUS).
O prédio será um anexo do Santa Clara, onde atualmente a emergência SUS opera com 13 leitos de observação. Com a inauguração do Nora Teixeira, a quantidade de leitos individuais aumentará para 28. A estrutura beneficiará não somente Porto Alegre, tendo em vista que metade dos atendimentos vem de fora da Capital.
— O Nora Teixeira vem suprir duas demandas: a expansão da emergência SUS, pois a atual é muito pequena. Vamos passar de 600 para 2 mil metros quadrados. Aumentaremos também a qualidade do atendimento como nunca antes vimos no RS — projeta Jader Pires, diretor administrativo da Santa Casa. — Além disso, o restante da estrutura vai dar sustentabilidade para o futuro da Santa Casa, pois vai reduzir o déficit anual de aproximadamente R$ 140 milhões que o atendimento SUS demanda.
Além da emergência SUS, serão oito andares para internação e UTI em oncologia, traumatologia, cirurgia bariátrica e obstétrica, outros seis para infraestrutura de nutrição e almoxarifado, e um de estacionamento. Nos andares de quartos clínicos, as paredes estão pintadas e a fiação elétrica também está pronta. No terraço, o sistema de refrigeração do hospital está instalado aguardando a finalização da obra. A parcela concluída até agora representa 60% da obra que foi iniciada em janeiro de 2020, depois de 10 meses de preparação do terreno. Cerca de 280 funcionários atuam no local.
— Tivemos diversos problemas por conta do pouco abastecimento de insumos da construção civil e isso atrasou um pouco o andamento, mas estamos cumprindo bem a missão dos prazos. Agora as obras são internas, acabamento e definição final de cada espaço. Outros detalhes como PPCI, hidráulica, sistemas elétricos e de gases são o ponto de trabalho no momento, é um sprint final — detalha Jader, explicando que a estrutura física deve estar concluída em agosto, e a inauguração está prevista para ocorrer ainda em 2022.
Inovação
Uma das maiores novidades entre os equipamentos já está sendo instalada e veio da Espanha. Os dois primeiros andares da construção são destinados ao armazenamento automatizado de caixas que guardam remédios e insumos médicos. Esta e outras compras vindas do Exterior foram um dos grandes desafios da administração para driblar os prazos alargados por conta da pandemia, explicou o diretor.
O sistema de armazenamento e distribuição digital, chamado de MiniLoad, é o primeiro da categoria a operar em hospitais no Brasil. A estrutura física conta com esteiras motorizadas, estantes e sensores abastecidos por um banco de dados com informações dos remédios e equipamentos de todo o complexo hospitalar. Ele chegou a Porto Alegre em 10 contêineres vindos da Europa entre abril e maio de 2021 e sua montagem levou três meses. Desde setembro, os primeiros testes são realizados no equipamento. Quando a operação estiver totalmente implementada, ao longo de 2022, todos os prédios da Santa Casa centralizarão seus estoques e almoxarifado no novo edifício do Hospital Nora Teixeira.
— Vai agilizar e otimizar a gestão do estoque, pois o sistema é programado para priorizar insumos com data de validade mais próxima, por exemplo. Além dos três profissionais que vão operar a máquina, outros servirão de apoio na operação que ocupa dois andares — explica o engenheiro Pierri Brandão, responsável pelo setor da obra.
Investimento
Em relação aos custos de toda a obra, a inflação e a alta do dólar transformaram os R$ 202 milhões orçados no começo de 2020 em R$ 255 milhões dois anos depois. Cerca de 66% deste montante (R$ 170 milhões) foram arrecadados através de doações do casal Alexandre Grendene e Nora Teixeira — que com aportes somados em R$ 80 milhões batizaram o novo prédio — e outras famílias tradicionais da economia gaúcha. Por precaução, a direção da Santa Casa buscou o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e linhas internacionais de crédito para garantir o ritmo das obras ao longo da pandemia. O financiamento dos R$ 85 milhões que ainda faltam devem ser quitados em poucos anos, segundo o diretor da instituição.