A despeito do andamento da vacinação no Brasil, médicos pedem que a população adote, no Dia das Mães, no domingo (9), os mesmos cuidados recomendados no Natal e no Ano-Novo: uso de máscara, distanciamento social, reunião em local ventilado e com poucas pessoas, sem diferentes núcleos da família.
Ainda que o Rio Grande do Sul seja o Estado que mais vacina no Brasil e a campanha tenha avançado nos últimos dias, os imunizados com pelo menos uma dose representam apenas 21,4% da população, segundo dados do Portal Covid-19 no Brasil, um patamar ainda longe do ideal.
A parcela dos que receberam a segunda dose cai para 9% – sendo que a estimativa é de que sejam necessárias duas semanas após o reforço para que a proteção atinja o ápice esperado.
A maioria dos imunizados com segunda dose são idosos ou profissionais da saúde. A população com comorbidades que recebeu uma aplicação nos últimos dias ainda não teve tempo para ganhar o reforço e, com isso, atingir a proteção projetada.
Além disso, até o que a ciência sabe, pessoas vacinadas não adoecem, mas podem passar o vírus adiante, caso forem infectadas. Ou seja: uma avó plenamente imunizada (já contados os 14 dias após a segunda aplicação) está protegida de adoecer a ponto de ir ao hospital, mas pode passar a covid-19 para seus filhos e netos em um encontro em ambiente fechado.
Analistas brasileiros citam o caso do Chile para alertar sobre a necessidade de manter os cuidados: com um ritmo veloz de vacinação, o país retomou as atividades e a população relaxou nos cuidados. Como resultado, a circulação do vírus cresceu entre os não imunizados e uma nova onda de covid-19 se iniciou.
Essa data (Dia das Mães) coloca um encontro geracional, o que representa um risco, ainda que tenhamos avanço na vacinação. A grande circulação de vírus reduz a efetividade da vacina na população
RONALDO HALLAL
Médico, membro do Comitê Covid-19 da SRGI
— Há uma perspectiva muito incerta para o futuro. Há falta de isolamento e alta taxa de circulação viral. Ao mesmo tempo, há mais vacinas e grande exposição da população à (cepa) P.1, o que pode gerar imunidade curta por algumas semanas ou meses. Essa data (Dia das Mães) coloca um encontro geracional, o que representa um risco, ainda que tenhamos avanço na vacinação. A grande circulação de vírus reduz a efetividade da vacina na população — observa o médico Ronaldo Hallal, membro do Comitê Covid-19 da Sociedade Sul-Riograndense de Infectologia (SRGI).
A médica epidemiologista Jeruza Neyeloff, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), destaca que é possível ter um Dia da Mães de afeto e encontro presencial com segurança, desde que sejam tomadas as devidas precauções sanitárias.
Dá para ver a avó vacinada e o núcleo de sua família ao ar livre em segurança. Pequenos encontros com todos de máscara são fundamentais para termos estoque emocional para atravessar a pandemia
JERUZA NEYELOFF
Médica epidemiologista do Hospital de Clínicas
— Dá para ver a avó vacinada e o núcleo de sua família ao ar livre em segurança. Pequenos encontros com todos de máscara são fundamentais para termos estoque emocional para atravessar a pandemia. A vacina protege, sim, mas digamos que reduza pela metade o risco: em um momento com alta circulação do vírus, metade de um risco muito grande é grande, ainda. Tendo a parcela de população vacinada que temos, mas com circulação alta de vírus, a vacina não pode liberar as pessoas do cuidado. Se as pessoas fizeram só uma dose ou tomaram há pouco a segunda dose, precisam ter muito cuidado — diz Jeruza.
Ela pontua ainda que Porto Alegre registrava, nesta sexta-feira (7), cerca de 450 pessoas com coronavírus em unidades de terapia intensiva (UTI), muito abaixo de março, mas cem a mais do que o máximo de pacientes previsto para o sistema.
Estabilização em nível alto
Em nível estadual, após semanas de bandeira preta, o Rio Grande do Sul ultrapassou a marca de 1 milhão de infecções confirmadas de covid-19, com uma média móvel de cerca de 4 mil novos casos diários, metade do registrado no pior momento de março.
Após a queda, no entanto, o índice parece ter se estabilizado em um nível alto: a média é somente 16% abaixo do pior momento da segunda onda, em dezembro, e 45% acima do ápice da primeira onda, no inverno. Como resultado, a estabilização em altos patamares de circulação do vírus traz um período menor de “respiro” até a próxima onda.
Além do contexto da pandemia, médicos levam em conta que o Dia das Mães deve ocorrer com frio – no domingo, os termômetros de Porto Alegre, por exemplo, devem variar entre 12°C e 24°C. A despeito de o coronavírus já ter provado que independe de calor ou frio para ser transmitido, sabe-se que ambientes fechados favorecem a circulação. Por isso, será preciso esforço para manter as janelas abertas.
— Aqui na região sul do Estado não está como em Porto Alegre. Se tiver aumento de demanda hospitalar, as pessoas ficarão fora do hospital. Tenho 32 leitos de UTI, todos estão ocupados e metade das pessoas estão entubadas. A perspectiva é de que os pacientes tenham internação longa — diz Fábio Lopes, gerente de Atenção à Saúde do Hospital Universitário da Universidade Federal de Rio Grande (Furg), em Rio Grande.