A prefeitura de São Lourenço do Sul, no sul do Estado, determinou que os médicos que atendem na rede pública parem de usar receituários previamente impressos com prescrição de medicamentos do chamado kit covid. Entre os remédios, está o vermífugo ivermectina, que não tem eficácia comprovada contra o coronavírus e, além disso, pode causar efeitos colaterais segundo a agência regulatória dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA).
Ao menos um posto de saúde do município estava entregando os receituários impressos aos pacientes. O caso foi detalhado à GZH após reportagem mostrar, na quarta-feira (7), que médicos de outra cidade, Taquara, eram alvo de investigação do Conselho Regional de Medicina (Cremers) pela distribuição de um receituário impresso e patrocinado.
Em 19 de março, uma mulher teve diagnóstico positivo da doença e buscou o posto de saúde do bairro Navegantes em São Lourenço do Sul. Ela afirmou que o médico a entregou uma folha com a lista de remédios previamente impressa. O marido recebeu exatamente os mesmos medicamentos, apesar de não ter tido diagnóstico da doença. Além de ivermectina, outros sete remédios foram recomendados.
A secretária de Saúde do município, Adriane Huber Martins, afirma que a iniciativa foi dos médicos daquele posto e que não orienta os demais a usar os receituários impressos.
— Foi só uma unidade básica específica que está usando. Eles já foram orientados que essa não é a melhor maneira de prescrever uma receita. Acho que ainda tinham alguns bloquinhos impressos que seguiram usando — explicou a secretária.
Ainda segundo ela, a prefeitura respeita a prescrição dos remédios pelos médicos, mesmo os sem eficácia comprovada, desde que com consentimento do paciente.
No caso de São Lourenço do Sul, não há investigação por parte do Cremers, que diz agir somente após ser provocado. Sobre Taquara, o coordenador das delegacias seccionais do conselho, Marcelo D'avila, reforça que a distribuição pode ter "uma série de irregularidades do ponto de vista ético, além de uma série de ilegalidades". Além disso, ele lembrou que uma receita não pode ser padrão.
— Uma receita médica não é uma receita de bolo. O médico deve prescrever o tratamento após o exame físico do paciente. As pessoas são indivíduos diferentes, há de se considerar indicações e contraindicações. Há uma série de problemas que estamos apurando — diz.