O empréstimo do Hospital Álvaro Alvim, localizado no bairro Rio Branco, para a prefeitura de Porto Alegre pode dar um novo fôlego ao saturado sistema de saúde público. A instituição, que está desativada desde abril de 2020, poderá abrigar entre 10 e 20 vagas de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e de 60 a 80 leitos clínicos para pacientes com covid-19, afirmou secretário municipal da Saúde, Mauro Sparta.
A data de abertura, contudo, ainda não está definida. No momento, a prefeitura da Capital realiza um levantamento de custos para identificar os gargalos e problemas que impedem que a instituição entre em operação. Porém, de acordo com Sparta, a unidade apresenta, de maneira geral, boas condições estruturais:
— Os elevadores, os geradores e a iluminação funcionam, mas ele está completamente sem mobília. Teremos que realizar investimento na área elétrica, de gás e de aparelhagem do hospital. Contudo, apesar de algumas faltas, ele apresenta menos impeditivos para funcionamento do que o (Hospital) Parque Belém, que tem elevador antigo, luz desativada e gerador fora de operação.
Por fazer parte do complexo do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), a unidade Álvaro Alvim foi administrada, até o ano passado, por Jorge Bajerski, diretor-administrativo do HCPA. Ele relata que, enquanto o prédio esteve ativo, somente um terço da estrutura total, de 10.617m², foi reformada e usada.
— A elétrica, a hidráulica e todo o cabeamento de informática ficou lá. O que foi possível ser transferido para nossa sede, nós transferimos. A unidade precisa ser equipada e voltar a ter cara de hospital. O prédio tem um grande potencial de uso, desde que sejam feitas as reformas — observa.
Havia um porém em relação à edificação. Um laudo antigo mostrava que, em razão da existência de uma pedreira na região, haveria chance de deslizamentos. Contudo, o mais recente relatório da engenharia do Comando Militar do Sul pontua que "a administração do hospital já possui um projeto executivo de contenção com o mapeamento de toda a encosta rochosa que oferece risco e as soluções para os problemas".
Além disso, o Exército destaca que "a contratação dos serviços de execução de contenção deve ser realizada imediatamente, antes que as instalações sejam utilizadas. Porém, devido à gravidade da pandemia, caso haja a necessidade extrema de ocupação do prédio, devem ser ocupados os ambientes com uma distância segura da linha da encosta rochosa, deixando, ao menos, duas linhas das salas existentes sem ocupação".
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) comentou a situação: "O Setor de Engenharia de SMS está de posse da documentação do prédio, mas ainda está fazendo levantamentos mais apurados in loco para apontar todas as áreas da estrutura que precisam de reparos. A avaliação final sobre as condições do prédio e necessidades de reformas só estará concluída na próxima quinta-feira, para então ser submetida à avaliação do secretário".
Abertura do hospital ainda está indefinida
O secretário da Saúde ressaltou que, no caso de um recrudescimento ainda maior da pandemia na Capital, o Álvaro Alvim servirá como outro braço de acolhimento a pacientes com coronavírus dentro um "prazo moderado". Quando perguntado pela reportagem sobre o tempo que seria necessário para essa reabertura, Sparta não bateu o martelo.
— Esse prazo depende do levantamento que está sendo realizado. E depende desse estudo também o número de profissionais que serão requeridos para o trabalho. Com o passar do tempo, a expectativa é de que o número de leitos aumente. Exigindo, assim, mais profissionais da saúde envolvidos — pontuou.
Sparta destacou que há empresas interessadas em uma parceria público-privada na administração do hospital, mas, quando indagado, também não deu detalhes sobre que empresas seriam essas.
Bajerski pondera que, atualmente, vive-se um momento de escassez de recursos, de equipamentos e de trabalhadores da saúde. Entretanto, ele afirma que, se partirmos do pressuposto de que o novo responsável pela unidade terá capacidade para fazer investimentos a curto prazo, o hospital pode entrar em funcionamento em pouco tempo:
— Não é o ideal, mas, em uma situação emergencial, dá para colocar o hospital em operação entre 30 e 45 dias. Hoje, nosso principal gargalo é a criação de mais leitos de UTI. Dez novos leitos não trarão alívio do ponto de visto percentual, mas toda ajuda é bem-vinda, todo acréscimo é importante.
O hospital
Antigo Hospital Luterano da Ulbra, o Álvaro Alvim foi repassado ao Hospital de Clínicas em 2011. O principal atendimento no local era na área de psiquiatria de adição, com 22 leitos para pacientes com dependência química de álcool ou drogas. Outros 27 leitos eram usados para retaguarda. Não havia, portanto, atendimento direto ao público com portas abertas.
Chamado de Unidade Álvaro Alvim, o espaço foi fechado temporariamente em abril de 2020, quando os profissionais foram realocados para a sede principal do Clínicas para reforçar o combate à pandemia.
Em setembro, a administração anunciou que o local não seria reaberto. Já havia um plano de encerramento das atividades para a otimização de recursos e manutenção da sustentabilidade da instituição, e a pandemia acelerou o processo — de forma que não valeria a pena reabrir o prédio para voltar a fechá-lo novamente mais tarde. O local está vazio.