No dia seguinte à aplicação das primeiras doses da vacina contra o coronavírus no Rio Grande do Sul, a enfermeira Emanuelle Bianchi Soccol, 38 anos, mal dá conta de responder a todas as mensagens recebidas no celular. É que ela foi uma das cinco enfermeiras do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) escolhidas para aplicar a CoronaVac durante a cerimônia que iniciou, simbolicamente, a imunização no Estado. A profissional aplicou o imunizante no braço de Eloina Gonçalves Born, 99 anos, moradora de um lar de idosos em Porto Alegre.
— Foi emocionante, um momento tão único, histórico, do qual nunca imaginei participar. Parece que de ontem para hoje eu vivi uns 10 anos, de tanta coisa que aconteceu — conta.
Emanuelle recebeu a notícia na segunda-feira (18) pela manhã. Estava trabalhando quando foi chamada pelo médico Fábio Dantas, chefe do Serviço de Medicina Ocupacional da instituição, e avisada de que seu nome estava entre os indicados para representar os profissionais de saúde durante a aplicação da vacina.
— Quando ele falou, eu fiquei um pouco ansiosa, mas não tinha como dizer não. Me senti honrada, grata e emocionada. Na hora da aplicação, eu senti que estava mesmo representando todos os profissionais de saúde, que apesar de todo o desgaste físico se dedicaram com muito amor — diz ela, que contou a notícia em primeira mão para a amiga e técnica de enfermagem Luciane Gatelli, que também trabalha no Clínicas.
Emanuelle atua há três anos no setor de Enfermagem do Trabalho, sendo uma das responsáveis pela saúde e pela segurança dos funcionários do hospital. Dentre suas atribuições está a imunização do pessoal, para prevenir doenças. Além da aplicação de vacinas, ela trabalha na parte de logística, verificando qual imunizante o funcionário precisa receber e o intervalo entre as doses.
Segundo ela, as enfermeiras escolhidas para aplicar a vacina conversaram com os cinco pacientes antes da cerimônia. Para atender a critérios de segurança, elas questionaram, por exemplo, se eles estavam se sentindo bem e se já haviam tido algum tipo de reação a vacinas. Como todos estavam aptos a receber a dose, se dirigiram ao local onde a aplicação seria feita. As profissionais ainda não sabiam qual paciente imunizariam. Ao perceber que Dona Eloina caminhava em sua direção, Emanuelle se emocionou.
— Foi impossível não pensar nos idosos e em todas as pessoas que já se foram por causa dessa doença — diz ela, que decidiu se abaixar para aplicar a dose na idosa. — Foi uma coisa muito espontânea. Depois eu percebi que acabei quebrando o padrão, de todos em pé, mas é uma questão de cuidado e empatia. Acho que ela se sentiu mais confortável assim — conta a enfermeira.
Na opinião dela, um dos momentos mais emocionantes foi a entrega da carteirinha com o registro de vacinação, que selou a aplicação de uma das cinco primeiras doses em solo gaúcho.
— Desde que essa nuvem surgiu, nós não perdemos a esperança, continuamos trabalhando com empenho e dedicação. Ainda precisamos seguir nos cuidando, usando máscara, mantendo o distanciamento. Mas é como se o sol voltasse a brilhar.