O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) iniciou a resposta ao que seria a segunda onda da pandemia de coronavírus no Rio Grande do Sul. A instituição decidiu, nesta segunda-feira (30), retomar o foco nos tratamentos contra o coronavírus.
Como resultado, o hospital irá, a partir da semana que vem, deixar de marcar cirurgias eletivas e reduzirá em 30% as consultas presenciais do ambulatório para pacientes com outras doenças.
E-mail enviado a todos os funcionários da instituição pela diretora-presidente do Hospital de Clínicas, Nadine Clausell, comunica que está “suspenso o processo de retomada da normalidade” na instituição. O texto cita que 98% dos leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para o tratamento de pacientes com coronavírus estão ocupados e que todas as vagas de enfermaria destinadas à covid-19 também estão em uso.
“O quadro mudou rapidamente”, escreveu Nadine. “Precisamos, então, nos reorganizar e adotar medidas de contingência para o enfrentamento da grave situação”, acrescenta a diretora-presidente do HCPA.
A decisão ocorre mesmo após o hospital ter reaberto, na semana passada, 11 leitos de UTI para coronavírus que estavam em uso por pacientes com outras doenças. O Clínicas, assim como outros hospitais do Rio Grande do Sul, havia começado a “fechar” temporariamente leitos destinados à covid-19 após a melhora da epidemia – o objetivo era usar o espaço livre no atendimento a pacientes de outras doenças que, durante o inverno, não buscaram tratamento.
Na prática, o hospital equilibrava dois fatores: quando as internações por coronavírus passaram a pesar menos, o Clínicas abriu as portas para tratar outras doenças. No entanto, com a piora da pandemia, o lado do coronavírus voltou a pesar e, agora, a instituição decidiu, assim como no inverno, focar no combate à covid-19.
A partir da semana que vem, o hospital focará em atender casos graves de coronavírus, cirurgias de urgência e de câncer, explica a médica e coordenadora do grupo de trabalho para a preparação do enfrentamento ao coronavírus do HCPA, Beatriz Schaan.
A redução no número de consultas presenciais do ambulatório será feita para transferir mais profissionais de saúde no combate à pandemia e para liberar os leitos de enfermaria e de UTI para o atendimento a pacientes com coronavírus. O público, como saída, poderá optar por teleconsultas (feitas a distância).
— Vamos manter as cirurgias de urgência e de câncer que não podemos atrasar e vamos deixar de marcar cirurgias que não têm problema de esperar dois meses. À medida em que retomamos cirurgias eletivas, isso sobrecarregou o lado não covid. No auge da pandemia, as pessoas estavam em casa, então o movimento não covid era baixo. Agora, os dois lados têm muitos pacientes, e isso é difícil de gerenciar— diz Beatriz.
Em parceria com a prefeitura, o Hospital de Clínicas também trabalha para reabrir mais leitos de UTI para coronavírus na semana que vem – hoje, há 70 leitos de UTI covid, e o teto é 85.
Equipes esgotadas
Beatiz destaca que as equipes de saúde estão cansadas após meses de pandemia e que o Clínicas estuda, inclusive, fazer um rodízio de profissionais para trabalhar nos leitos de enfermaria – nas UTIs, isso não é possível porque o trabalho é ultraqualificado e há exigência de experiência na área. Ela destaca o momento grave da pandemia no Rio Grande do Sul:
— A gente entende que as pessoas estão cansadas de ficar em casa, mas não tem por que não usar máscara nem fazer festa com muitas pessoas. A gente pode encontrar pessoas, mas tem que ser poucas pessoas e usando máscara. É uma recomendação de saúde pública.
Porto Alegre tinha, nesta segunda-feira, 266 internados por coronavírus em suas UTIs, o pior nível em 55 dias. Apesar do fim do inverno e do aumento das temperaturas, a doença causa a ocupação de 34% de todos os leitos de UTI da cidade.
A ocupação de leitos por coronavírus nesta segunda-feira é 12% pior do que na segunda-feira de duas semanas atrás (16) e 22% pior do que em 6 de novembro, quando foi registrado o índice mais baixo após o pico da pandemia, no inverno.