O Dia Nacional de Combate ao Fumo, lembrado neste sábado, 29 de agosto, pode ser o primeiro sem fumar de quem pretende se libertar do cigarro. Especialmente agora, em meio à pandemia de covid-19, na qual os fumantes constituem um grupo de risco.
Associado ao câncer de pulmão, o cigarro também é vinculado a doenças respiratórias como bronquite crônica, asma e enfisema pulmonar.
Antes do surgimento do coronavírus, a epidemia de tabaco já era identificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das maiores ameaças à saúde pública no mundo. Anualmente, o cigarro é responsável pela morte de mais de 8 milhões de pessoas. Dessas, mais de 7 milhões resultam do uso direto do tabaco. E mais de 1,2 milhão ocorrem entre não fumantes expostos ao chamado fumo passivo.
Na pandemia, a possibilidade de transmissão do vírus entre fumantes é maior, esclarece Andréa Reis, da Divisão de Controle do Tabagismo do Instituo Nacional do Câncer (Inca), pois estão constantemente colocando as mãos e até mesmo cigarros contaminados na boca. O risco vale também para os produtos que envolvem compartilhamento, como narguilé e cigarros eletrônicos.
É justamente a pandemia que leva o pneumologista José Miguel Chatkin, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, a considerar este como o momento mais oportuno para o fumante abandonar o vício. A justificativa está no período de distanciamento social, já que largar o cigarro exige dedicação, foco e disciplina:
– Deixar de fumar é um processo. Demora até a pessoa se conscientizar de que precisa parar. O cigarro é traiçoeiro, e o fumante precisa identificar que ele não alivia a ansiedade. Pelo contrário, consegue se associar a qualquer tipo de sensação que a pessoa esteja passando, da alegria à tristeza. É preciso identificar os gatilhos que levam a fumar e substituir por outra atividade.
Para o psiquiatra Leonardo Paim, coordenador do departamento de dependência química da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, a nicotina atua no sistema cerebral de recompensa, área responsável por gratificar comportamentos ligados à sobrevivência, como alimentação e sexo. A nicotina, explica Paim, por ser similar a substâncias produzidas pelo próprio organismo, acaba gerando prazer.
– Ao elevar os níveis de dopamina no sistema de recompensa, a nicotina provoca prazer imediato. O cérebro vai se habituando àquela substância prazerosa, e o paciente passa a não conseguir mais se abster. A partir de certo ponto, não se trata mais de prazer, mas de evitar o desprazer de ficar sem a substância, que chamamos abstinência.
O psiquiatra ressalta a existência de diferentes tipos de tratamento capazes de ajudar a reduzir o sofrimento ao parar de fumar, entre eles a psicoterapia, a reposição de nicotina e o uso de medicamentos como antidepressivos.
Entre as capitais brasileiras, Porto Alegre é a que mais tem adultos fumantes (14,6%), segundo a mais recente pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde. O levantamento, realizado em 2019, entrevistou por telefone 52,4 mil brasileiros. Ainda de acordo com a pesquisa, a capital gaúcha também tem o maior percentual de mulheres fumantes no país (14,1%).
Em 2019, o Programa Municipal de Combate ao Tabagismo de Porto Alegre realizou 1,8 mil atendimentos nas unidades de saúde da cidade. Na pandemia, porém, o número de atendimentos caiu, segundo a cirurgiã-dentista Liese Ilha, da diretoria-geral da atenção primária e uma das responsáveis pela condução do programa na cidade. Mas nenhuma unidade ficou sem disponibilizar o serviço, ela garante.
O cigarro e o coronavírus: perguntas e respostas
- Quem fuma faz mesmo parte do grupo de risco para a covid-19? Sim, podemos dizer que o tabagismo é fator de risco. O fumante possui mais chances de desenvolver sintomas graves da doença, devido a um possível comprometimento da capacidade pulmonar. O tabaco causa diferentes tipos de inflamação e prejudica os mecanismos de defesa do organismo. Por esses motivos, os fumantes têm maior risco de infecções por vírus, bactérias e fungos. Os fumantes são acometidos com maior frequência por infecções como sinusites, traqueobronquites, pneumonias e tuberculose. Além disso, o consumo do tabaco é a principal causa de câncer de pulmão e importante fator de risco para a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), entre outras doenças.
- Como o ato de fumar aumenta o risco de contrair covid-19? O fumante, caso leve as mãos não higienizadas à boca para fumar, pode contrair o vírus. Além disso, tabagistas têm seu sistema respiratório prejudicado pelo fumo, e, portanto, se infectados pelo coronavírus, podem ter sua saúde ainda mais ameaçada.
- Narguilé e dispositivos eletrônicos para fumar podem transmitir coronavírus? No uso do narguilé, é comum o compartilhamento das piteiras. Essa ação expõe os usuários ao risco de contaminação e transmissão de várias doenças infectocontagiosas, entre elas, a covid-19. O mesmo ocorre quando um dispositivo eletrônico para fumar é usado por mais de uma pessoa. Por conterem tabaco, o narguilé e os dispositivos eletrônicos para fumar são prejudiciais à saúde pulmonar, e seu consumo aumenta o risco para desenvolvimento de sintomas mais graves da covid-19.
- Quem mora com uma pessoa que fuma tem mais risco para infecções pulmonares? Pessoas que não fumam, mas moram ou convivem com pessoas que fumam, também sofrem agressões pulmonares que as tornam mais vulneráveis a infecções respiratórias e, possivelmente, às complicações da covid-19. Devido ao distanciamento social, o tempo passado dentro de casa aumentou significativamente. Por isso, é importante lembrar que quem fuma em casa faz com que seus companheiros, filhos, demais familiares e até animais também fumem: todos respiram as mesmas substâncias tóxicas dos derivados do tabaco, que se espalham no ambiente. O comportamento de fumar pode estimular a iniciação do tabagismo entre crianças, adolescentes e jovens que convivem com fumantes.
- Parar de fumar ajuda na prevenção da covid-19? Os benefícios à saúde são imediatos ao deixar de fumar. Os pulmões já começam a funcionar melhor a partir de 12 horas. Deixar o cigarro pode reduzir o risco de desenvolver a forma mais severa da doença.
15 dicas para parar de fumar
- Ainda nesta semana, marque uma data para deixar de fumar. O mais importante é escolher uma data para ser o seu primeiro dia sem cigarro. Esse dia não precisa ser um dia de sofrimento. Faça dele uma ocasião especial e procure programar algo que goste de fazer para se distrair e relaxar.
- Até a chegada da data, vá reduzindo o número de cigarros diários. Comece pelo adiamento do primeiro cigarro do dia.
- Não fume logo depois do café da manhã, do almoço, do lanche e do jantar. Essas medidas ajudam a diminuir o número de cigarros e vão preparando seu corpo para o dia da parada.
- Um dia antes da data agendada para deixar de fumar, antes de dormir, despeje água sobre todos os cigarros que sobraram no maço e jogue-os no lixo.
- Não deixe nenhum cigarro para o dia seguinte. Se tiver vontade de fumar e não tiver cigarros em casa, você terá mais sucesso. E nem pense em ir à rua para comprá-los.
- Tenha paciência. A vontade de fumar diminuirá à medida que os dias forem passando.
- Se der vontade, lembre-se de que “a vontade de fumar só dura cinco minutos”. Para se distrair nesse período, ligue a televisão, tome um banho, dance ou cante ouvindo música, coma uma fruta, faça um exercício respiratório, por exemplo. Enfim, faça alguma atividade para esse tempo passar.
- Fumar cigarros de baixos teores não é uma boa alternativa. Eles fazem tanto mal à saúde quanto os outros cigarros.
- Cuidado com os métodos milagrosos para deixar de fumar. Se tiver dúvidas, procure orientação médica. Somente um médico poderá avaliar a utilização de outros métodos, como, por exemplo, adesivos de nicotina.
- Se a fome aumentar, não se assuste, é normal um ganho de peso de até dois quilos, pois o paladar vai melhorando e o metabolismo, se normalizando. Evite doces e alimentos gordurosos. Mantenha uma dieta equilibrada com alimentos de baixa caloria, frutas, verduras, legumes etc. Para distrair a fome, coma balas ou chicletes dietéticos. Beba sempre muito líquido, de preferência água e sucos naturais. Evite tomar café e bebidas alcoólicas. Eles podem ser um convite ao cigarro. Procure trocá-los por chá e coquetéis sem álcool (como de frutas e tomate).
- Nos primeiros dias longe do cigarro, poderá ocorrer ansiedade, dificuldade de concentração, irritação, dores de cabeça e até sentir aquela vontade intensa de fumar. Cada pessoa tem uma experiência diferente. No desanime: essas sensações deverão desaparecer, no máximo, em duas semanas.
- Se sentir muita vontade de fumar, chupe gelo, escove os dentes com frequência, beba água gelada ou coma uma fruta. Mantenha as mãos ocupadas com um elástico, pedaço de papel, rabisque alguma coisa ou manuseie objetos pequenos. Não fique parado – converse com um amigo, faça algo diferente e distraia sua atenção. Lembre, novamente: a vontade de fumar não dura mais do que alguns minutos.
- A cada dia, guarde o dinheiro que você gastaria com o cigarro e conte-o ao final de uma semana. Pegue o dinheiro que economizou e compre um presente para você ou para quem gosta. Se preferir, saia para fazer um programa diferente.
- Se você não conseguir se segurar e fumar, não desanime! A recaída não é um fracasso. Comece tudo novamente e procure ficar mais atento ao que fez você voltar a fumar.
- O mais importante é não usar a recaída como justificativa para continuar a fumar. Dê a si mesmo quantas chances forem necessárias.
Fonte: Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca)
O combate ao tabagismo em Porto Alegre
O Programa Municipal de Combate ao tabagismo é realizado pelas equipes de atenção primária, nas unidades básicas de saúde. As equipes são compostas pelo médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e times de saúde bucal. Os profissionais atuam no programa depois de serem capacitados em curso específico oferecido pela prefeitura. O enfermeiro pode conduzir o tratamento cognitivo. A primeira avaliação clínica e a prescrição do medicamento são feitas pelo médico, pelo farmacêutico ou pelo cirurgião-dentista.
Como buscar atendimento
Pelo celular, acesse o aplicativo #EuFaçoPOA e clique no link “Eu quero parar de fumar”; preencha o cadastro com dados pessoais (nome, número do cartão SUS, CPF e endereço); aguarde: a equipe da Secretaria Municipal da Saúde fará contato e encaminhará o interessado à unidade de saúde de referência. Outras formas de ser atendido são pelo telefone 156 ou então diretamente na unidade de saúde de referência mais próxima.
Como funciona o tratamento
Atendimento em grupos:
- 1º mês: quatro sessões (uma por semana)
- 2º mês: duas sessões quinzenais
- 3º mês até um ano: sessão mensal aberta, que serve como manutenção
Atendimento individual:
- 1º mês: quatro sessões (uma por semana)
- 2º mês: duas sessões quinzenais
- A partir do 3º mês o paciente fica liberado, caso queira retornar para reavaliação