Corredores com espaço de sobra entre os clientes, mesas de bares e restaurantes vazias - e limpas constantemente. Esse foi o cenário observdo no Mercado Público de Porto Alegre na manhã desta terça-feira (17), após as medidas de empresas e órgãos públicos, que passaram a adotar home office ou redução nos expedientes para conter a propagação do coronavírus.
– Essa hora teria o dobro de gente – estima Raimundo Ferreira, 42 anos, segurança da empresa terceirizada que monitora o centenário prédio da praça XV, no Centro Histórico.
A percepção do vigilante é confirmada por empresários: com atendentes sem ter quem servir, a tradicional Banca 40 não apresentava a lotação usual do horário das 11h30min. A queda no movimento, segundo o gerente João Bonnel Junior, é exponencial, comparada aos últimos sete dias.
– Da semana passada pra cá reduziu, e de ontem (segunda-feira, 16), passou de 50%. Parece feriado – compara.
Cerca de 10 pessoas passavam panos nas inúmeras mesas da lancheria. Nos balcões, os recipientes para assepsia passaram a integrar a lista de produtos mais disputados.
– O cliente entra aqui e vai direto pro álcool gel – conta Bonnel.
Nas peixarias, o tradicional volume alto das conversas dos balconistas havia diminuído de tom. Em reunião entre alguns dos comerciantes, foram expostas preocupações com a redução nas vendas.
Presidente da Associação do Comércio do Mercado Público Central (Ascomepc), Adriana Kauer afirma que "os turistas sumiram do Mercado", ao referir que a maior parte da procura pelos produtos é dos clientes fiéis, que tem o espaço como um local de compras recorrente. O maior impacto, segundo ela, é visto nos estandes que oferecem refeições.
– É a refeição de quem vem ao mercado passear, ou de quem é de fora do Estado. Esses locais perderam metade da venda, tranquilamente. Até estacionar aqui perto agora é possível – complementa.
O alpinista industrial Elton Renan Fagundes, 52 anos, está entre os clientes assíduos citados pela presidente da associação.
– Parece sábado, nunca vi tão pouca gente. E isso é geral: vários amigos não estão saindo de casa – conta.
Feirante na área de circulação, Marcelo Barcellos, 53 anos, quase não teve de arrumar a bagunça comum, parte do prazer de quem compra os vinis antigos que ele expõe. Na Banca 38, especializada em vinhos e produtos importados, não há a "compra com os olhos", como definiu o empresário Sérgio Lourenço, dono do espaço:
– As pessoas estão muito objetivas. Elas chegam, compram o que querem e vão embora.
Outra preocupação nos últimos dias passou a ser o impacto no estoque adquirido para a Páscoa. Funcionários em período experimental correm o risco de serem dispensadas, segundo a presidente da Ascomepc. Outras, que deveriam reforçar as equipes, não serão contratadas.
– A tendência é que todas as lojas tenham, na Páscoa, o mesmo time que no restante do ano – afirma Adriana Kauer.